A Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) identificou cinco pessoas que acusa de terem usado irregularmente números de matrículas de outros alunos para frequentar as aulas da Escola de Medicina e Cirurgia. O caso é alvo de uma sindicância interna e de investigação da Polícia Federal. A principal suspeita é a de que haja um esquema de venda de vagas na unidade. O reitor Luiz Pedro San Gil Jutuca informou que pretende verificar se o sistema de informática da instituição é vulnerável e se a fraude foi cometida em outros cursos.
Os nomes dos cinco alunos sob suspeita – quatro mulheres e um homem – não constam de nenhuma lista de convocados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que é a única maneira para se matricular na UniRio. Apesar disso, eles estavam relacionados nas listas de presenças dos professores e frequentando as salas de aula. De acordo com ofício enviado pela universidade à PF na quinta-feira, os cinco não têm registro de entrada na Escola de Medicina e estavam usando números de alunos que foram regularmente inscritos no ano passado pela instituição, mas que, posteriormente, cancelaram suas matrículas. O caso foi revelado em matéria publicada nesta segunda-feira pelo jornal O Globo.
“Nunca vi nada parecido com isso. Estamos todos chocados. É certo que algo irregular aconteceu. Não quero tecer nenhum juízo de valor. Espero que não tenha sido um colega, um servidor público como eu, um servidor dessa instituição”, disse o reitor. Jutuca informou que, apesar do prazo para a conclusão das investigações da comissão de sindicância ser amplo, vai cobrar pressa dos funcionários encarregados de apurar o caso. A previsão é de que o resultado da sindicância seja apresentado quarta-feira. “A urgência da questão que se apresenta requer que tenhamos uma conclusão mais rápida possível”, afirmou o reitor.
Os alunos sob suspeita foram suspensos das aulas a partir desta segunda-feira. Eles foram convocados a prestar depoimento na comissão de sindicância a partir das 14 horas de terça-feira. A UniRio informou, no entanto, que ainda não conseguiu entrar em contato com nenhum deles, pois ninguém atende nos números de telefone que constam de suas fichas na universidade. Também foram identificadas inconsistências nos endereços dos estudantes.
O caso começou a ser investigado no início do mês passado. De acordo com a UniRio, um relatório sobre evasão de matrículas apontou uma inexplicável redução no número de cancelamentos de 15 para dez. Ainda segundo o reitor, a diretora da escola de Medicina, Maria Lucia Pires, recebeu relatos de estudantes que desconfiavam da presença dos alunos sob suspeita em sala de aula. “Eles informaram que ninguém conhecia aquelas pessoas e que seus nomes não constavam de nenhuma das listas do Sisu (Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação)”, disse o reitor.
Dos cinco alunos investigados, quatro nem sequer fizeram o Enem no ano passado. A única estudante que prestou o exame ficou classificada na 2.217ª posição. Jutuca disse que procurou o Ministério da Educação quando constatou as irregularidades e que foi orientado a instaurar uma sindicância e enviar um ofício para que a PF instaurasse um inquérito criminal para apurar o caso.