Educação online não é novidade. A Universidade de Phoenix deu início ao seu programa de graduação online em 1989. Quatro milhões de estudantes universitários americanos tiveram pelo menos uma aula online durante o outono de 2007.
Mas, ao longo dos últimos meses, algo mudou. A elite que dita o ritmo das universidades abraçou a internet. Não há muito tempo, cursos onlines eram só experiências interessantes. Agora, a atividade online está no cerne de como essas escolas vislumbram seu próprio futuro.
Na semana passada, Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) anunciaram o investimento de US$ 60 milhões para oferecer cursos online. Dois professores de Standford, Andrew Ng e Daphne Koller, montaram uma empresa, Coursera, que oferece cursos interativos em Humanidades, Ciências Socias, matemática e engenharia. Entre seus parceiros estão as Universidades de Stanford, Michigan, Penn e Princeton.
Muitas outras universidades de elite, incluindo Yale e Carnegie Mellon, estão trabalhando agressivamente na internet. John Hennessy, presidente de Stanford, resumiu a visão emergente em um artigo escrito por Ken Auletta, no New York Times: “Há um tsunami se aproximando.”
O que aconteceu com o mercado de jornais e revistas está prestes a acontecer com a educação superior: uma reordenação via web.
Muitos de nós veem a mudança com inquietação. Será que a aprendizagem online diminuirá o contato direto entre pessoas, relação que define a experiência universitária? Será que ela vai impulsionar os cursos funcionais de Administração e marginalizar temas de difícil digestão online como a filosofia? A navegação online substituirá a leitura aprofundada?
Se alguns professores “estrelas” podem palestrar para milhões de pessoas, o que acontece com o resto do corpo docente? O padrão acadêmico será tão rigoroso quanto o de hoje? O que acontecerá com estudantes que não têm motivação intrínseca suficiente para se manter grudados ao laptop depois de uma hora? Quanto será perdido da comunicação – gestos, humor, contato visual – quando você não está de fato em uma sala com professores e estudantes passionais?
As dúvidas são justificáveis, mas há mais razões para se sentir otimista. Em primeiro lugar, a aprendizagem online dará a milhões de estudantes o acesso aos melhores professores do mundo. Milhares de estudantes já tiveram aulas de contabilidade com Norman Nemrow, da Brigham Young University, aulas de robótica com Sebastian Thrun, de Stanford, e Física com Walter Lewin, do MIT.
A aprendizagem online pode estender a influência das universidades americanas pelo mundo. Somente a Índia pretende construir dezenas de milhares de universidades na próxima década. Os currículos das universidades americanas poderiam permear essas instituições.
Pesquisas sobre aprendizagem online sugerem que ela, de modo geral, é tão eficaz quanto a da sala de aula. É mais fácil adaptar a experiência do aprendizado ao ritmo pessoal do aluno e a suas preferências. A aprendizagem online se mostra especialmente útil no ensino de idiomas e no ensino supletivo.
O fato mais importante e paradoxal que delineia o futuro da aprendizagem online é este: um cérebro não é um computador. Nós não temos espaços em branco em discos rígidos à espera de dados para serem preenchidos. Pessoas aprendem a partir de pessoas que amam e lembram-se de coisas que despertam emoções. Se você pensa em como o aprendizado de fato acontece, vai identificar muitos processos distintos. Há informação sendo absorvida. Há reflexão sobre a informação à medida que você relê e pensa sobre ela. Há reorganização da informação à medida que você a testa em discussões ou tenta relacioná-la com informações contraditórias. Por fim, há síntese, à medida que você tenta organizar o que aprendeu em um argumento ou em um artigo.
Educação online ajuda os alunos com o primeiro passo. ssim como Richard A. DeMillo de Georgia Tech argumentou, a educação online transforma a transmissão de conhecimento em uma mercadoria barata e globalmente disponível. Mas também força as faculdades a concentrarem-se nos demais processos de aprendizagem, onde está o real valor. Em um mundo virtual, faculdades tem de pensar seriamente sobre como estão lidando com a comunicação distribuída pela web e transformá-la em aprendizagem – o que é um processo social e emocional complexo.
Como mesclar informações online com discussões cara a cara, tutoriais, debates, orientações, escritos e projetos? Como construir capital social capaz de desenvolver comunidades de aprendizagem vibrantes? Educação online pode colocar as instituições de ensino superior em uma posição mais alta na cadeia de valor – para além da transmissão de informações, rumo a coisas mais elevadas.
Em um mundo online misto, um professor local pode optar não só por um material de leitura, mas montá-lo a partir de um conjunto de fontes, de todo o mundo, que vão fornecer diferentes perspectivas. O professor seria então mais responsável por tutoria e debates e menos por aulas expositivas. Clayton Christensen, da Harvard Business School, observa que será mais fácil quebrar as divisões acadêmicas, combinando leituras de cálculo e química ou apresentações de literatura e história em um único curso.
Os primórdios da web democratizaram radicalmente a cultura, mas agora estamos vendo uma luta pela qualidade na mídia e em outros lugares. As melhores universidades americanas deveriam ser capazes de se tornar referência na web.
Minha aposta é de que será mais fácil ser uma universidade péssima na internet, mas também será possível que as escolas e alunos mais comprometidos sejam melhores do que nunca.