Um rompimento de 50 anos de administração por homens. Um fim de uma hegemonia de gestão por mais de 20 anos. Roselane Neckel chegou à reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), quebrando tabus e com a promessa de profissionalizar a administração universitária. Nesta terça-feira, ela toma posse em Brasília, no gabinete do ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
A posse na UFSC está marcada para a noite da próxima quinta-feira. Ela recebe o cargo de Alvaro Prata, que esteve a frente da universidade nos últimos quatro anos, e não quis tentar a reeleição. Na cerimônia, ela irá nomear oficialmente Lúcia Helena Martins Pacheco como de vice-reitora.
A relação de Roselane com a UFSC tem mais de 30 anos. Foi estudante do colégio Aplicação da universidade e, desde 1996, é professora do departamento de História. Há quatro anos, ela dirigia o Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH).
Apesar de a posse ser nesta terça-feira, desde fevereiro a reitora transita em Brasília, onde tem participado de reuniões. Neste processo de transição, ela e a vice-reitora sentiram necessidade de um levantamento de dados e informações para saberem como estava a UFSC. É com base em diagnósticos que ela pretende tomar decisões. A primeira delas, uma reestruturação nas pró-reitorias e secretarias.
Foi entre uma reunião e outra no Distrito Federal, que Roselane conversou, nesta segunda-feira, com o Diário Catarinense. Um destes encontros foi com a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e a diretora de desenvolvimento da rede de instituições federais de ensino superior do MEC, Adriana Rigon Weska, com quem discutiu o novo campus da universidade, em Blumenau.
Ela pediu para incluir no próximo Plano Nacional de Educação, que tramita no Congresso Nacional, uma cota para contratação de professores e funcionários.
Diário Catarinense — Qual será a primeira ação da senhora como reitora?
Roselane Neckel — Neste momento será dá posse a toda nossa equipe de pró-reitores e pró-reitoras, secretários e secretárias, que foram convidados a partir de um conjunto de diagnósticos preliminares, que identificaram perfis e competências, e pessoas com espírito institucional. Vamos constituir uma equipe de trabalho, que vai fazer as transformações necessárias para que tenhamos uma universidade pública bastante fortalecida. Todas as decisões serão construídas a partir de diagnósticos técnicos. Num segundo momento, tomaremos decisões relativas à reestruturação de setores, dentro da instituição, de acordo com os diagnósticos que foram realizados. Nossa prioridade nesse momento é da infraestrutura física necessária à melhoria da qualidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Consolidação dos cursos, nos diferentes campi da UFSC, que precisam ser consolidados e a própria situação do campus de Florianópolis. Duas ações imediatas: como vamos enfrentar a situação de elaboração de projetos para as construções necessárias e a questão de gestão das pessoas que fazem a universidade.
DC — Quais dados levantados durante a transição surpreenderam a senhora?
Roselane — Os diagnósticos são preliminares, com a nossa posse vamos consolidar todas as informações. A partir da nossa posse é que vamos poder fazer um trabalho de consolidação do diagnósticos. Daí então, definir estratégias. Muito precisa ser feito.
DC — Haverá mudanças de todos os nomes à frente das pró-reitorias e secretarias?
Roselane — Vai haver uma reestruturação e isso será apresentado. Vamos fazer essa nova estrutura, a partir do diagnóstico que realizamos e já existentes e também de diálogos que realizamos com diferentes setores. Fomos pessoalmente a todos os setores, conversamos muito com as pessoas. Esperamos que a nova estrutura traduza a preocupação que as pessoas têm em relação à universidade. Haverá mudança na denominação nos setores. Por exemplo, vai haver “Prograd” e não mais “Preg”, porque é pró-reitoria de graduação. Estamos finalizando a reestrutura. Na quinta-feira deveremos apresentar essa nova estrutura.
DC — O que falta para consolidar a expansão da UFSC para o interior?
Roselane — Passa pela construção dos prédios, dos laboratórios, contratação de professores, o que é essencial para a consolidação.
DC — Nesses próximos quatro anos de gestão é possível ter mais campi novos?
Roselane — Inicialmente, queremos consolidar o que já existe. Se vamos permanecer, se vamos expandir, somente a partir de um estudo cuidadoso que poderemos constituir novas expansões e novos desafios.
DC — A UFSC foi bastante criticada ao vetar a cessão do terreno para a duplicação da Rua Edu Vieira, no Bairro Pantanal. Na sua opinião, a decisão do conselho universitário foi a mais correta?
Roselane — A UFSC tem um papel de usar todo o conhecimento que é produzido, para contribuir, para que tenhamos uma cidade melhor. A nossa postura, enquanto administração, é sempre colaborar o máximo, em todas as demandas vindas das cidade. Vamos estabelecer uma relação de que a universidade é um espaço de conhecimento, que faz pesquisa, por isso vamos analisar muito bem a nossa tomada de decisão. Mas toda essa decisão vai envolver a constituição de uma comissão, envolvendo comunidade universitária e comunidade externa, para que possamos definir qual é a proposta, nesse momento, da UFSC, em relação à mobilidade da cidade. Quando nós tomamos uma decisão temos que ter clareza que foi uma decisão muito bem tomada.
DC — Como está a questão do campus em Blumenau?
Roselane — Estaremos avaliando partir do momento que nós assumirmos, junto com o governo federal.
DC — A senhora já demonstrou ter algumas ressalvas com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para o próximo vestibular, ele está garantido como vinha sendo usado?
Roselane — Todos esses estudos serão feitos, tudo que vinha sendo feito será avaliado, e a partir daí encaminharemos novas propostas ao conselho universitário. São discussões que precisamos fazer novamente dentro da instituição.