Lâmpadas queimadas, falta de equipamentos, espaços que mais parecem depósitos de materiais, locais insalubres, essa é a realidade dos laboratórios do campus da UFSC em Curitibanos. Além da precária estrutura, também há falta de técnicos de laboratório e docentes, comprometendo, desta forma, a qualidade do ensino oferecido na Universidade.
A UFSC em Curitibanos oferece os cursos de Agronomia, Ciência Rurais, Engenharia Florestal e Medicina Veterinária. A unidade conta com apenas um prédio, de quatro pavimentos, para abrigar toda estrutura que atende os quatro cursos de graduação. O projeto inicial previa a construção de dois blocos, além da construção do hospital veterinário. Mas, até o momento, apenas promessas de viabilização foram feitas e a estrutura atual já não comporta a demanda.
A situação dos laboratórios de ensino é apontada como um dos pontos mais frágeis do campus. Sem as mínimas condições necessárias para o desenvolvimento das aulas práticas, as 10 unidades existentes são insuficientes para atender às demandas dos cursos, bem como o desenvolvimento de pesquisas. Além da falta de profissionais, hoje existem apenas quatro técnicos de laboratório, dois de química e dois de biologia, há também problemas de estrutura e falta de material. Em alguns laboratórios, como o de Zoologia e Morfologia Animal, por exemplo, lâmpadas estão queimadas há mais de oito meses, além de materiais empilhados pelos cantos ou em caixas por falta de espaço. O mesmo problema pode ser observado nas outras unidades. Todas elas sofrem com falta de espaço para o trabalho e para o armazenamento de material de estudo.
O laboratório de Anatomia do curso de Medicina Veterinária é outro exemplo do descaso da administração da UFSC. O espaço funciona fora do campus, alugado de uma universidade particular, que o usa para o ensino da anatomia humana, em um curso de Educação Física. A impressão de quem entra na sala de peças anatômicas é de estar em qualquer depósito de entulhos, mas não em um laboratório de ensino de uma universidade. As condições de trabalho são precárias. Os professores relatam a dificuldade de organizar e armazenar as peças pela falta de estrutura e material de acondicionamento adequado. São caixas de papelão cheias de ossos e enormes tonéis cobertos com sacos plásticos, improvisados, para o armazenamento de peças em formol. As caixas ficam espalhadas pelo chão e sobre mesas, empilhadas sobre outros materiais. Os tonéis ficam pelo chão e precisam ser arrastados para dar mobilidade aos carrinhos de transporte de peças e à circulação dos professores. O laboratório ainda não dispõe de todo o material necessário às disciplinas de anatomia animal e o ensino nas aulas práticas é comprometido pela falta de novas peças. A sala, de acordo com os professores, não oferece as mínimas condições para o trabalho com o formol, pois não há exaustores e cubas adequadas para o armazenamento do material. “Sem o exaustor, com o cheiro forte do formol, fica difícil de trabalhar”, reclamam os professores que atuam no local, que em muitos casos precisam comprar equipamentos, tirando recursos próprios. Eles usam máscaras no manuseio direto com o formol e evitam que os alunos tenham contato com o produto, lavando as peças antes das aulas. Outro problema é que no laboratório não é possível descartar a água de lavagem das peças, precisando ser estocada e levada à UFSC, onde é novamente estocada, pois o campus também não tem sistema de descarte de efluentes próprio para este material. Como o laboratório não fica no campus, também há dificuldade de transporte para os discentes chegarem até o local. Uma empresa de transporte urbano disponibiliza uma linha de ônibus nos horários das aulas, mas não nos horários de estudos extraclasse. Por falta de técnicos, também precisam organizar a sala antes e após as aulas, realizar todo o preparo do material e promover a limpeza do ambiente. Todas estas tarefas extras acabam por obrigar os docentes a permanecer horas a mais no laboratório, muitas vezes até tarde da noite. Aliás, os problemas com limpeza e organização de aulas práticas ocorrem em todos os laboratórios do campus. Docentes precisam fazer o trabalho de técnicos e auxiliares de limpeza para viabilizarem as aulas.
Os mesmos problemas são enfrentados pelos professores dos cursos de Agronomia e Engenharia Florestal. A área experimental de 24 hectares é considerada pequena e já está no limite e novas experiências podem ser prejudicadas por falta de espaço. O local onde está o herbário não comporta mais de dois alunos por vez e entra água da chuva sobre as duas mesas onde se encontram a lupa e o computador de registro do acervo. Também não há local para equipamento para a secagem de madeira utilizada nas atividades de ensino e pesquisas, muito materiais acabam estragando por este motivo e os professores são obrigados a levar aquecedores domésticos particulares para tentar remediar o estrago causado por fungos. Há também equipamentos que ainda se encontram encaixotados por falta de espaço para a colocação, o exemplo é a Máquina Universal de Ensaios de Madeira, comprada pelo valor de R$ 181 mil reais. Os formandos da primeira turma de Engenharia Florestal não terão contato com o equipamento. Outra reclamação dos professores é que, por falta de disponibilidade de horário nos laboratórios para atividade de pesquisa, a situação, destacam, “está caótica”, já que todos os laboratórios estão sobrecarregados com os seus horários destinados à atividade de ensino, forçando professores e bolsistas a dedicar o tempo de trabalho fora do expediente.
Em documento encaminhado à Reitoria, os estudantes também reclamam da situação. “Expressamos nossos descontentamentos com a Administração Central, motivados por esta não seguir os cronogramas de obras anunciado em memorando do dia 12 de julho de 2013 para a comunidade acadêmica, várias obras e prazos estavam elencados neste memorando, no entanto, quase a totalidade do anunciado não foi cumprida, atingindo assim, toda a comunidade acadêmica”, destaca o documento.
Para o diretor geral do campus, Leocir José Welter, a situação deve melhorar no segundo semestre de 2014, quando parte da estrutura será transferida para o Centro de Educação Profissionalizante (Cedup), que fica no centro da cidade e que foi cedido pelo Governo do Estado, mas que ainda está em obras. No local, segundo ele, serão instalados laboratórios para o curso de Veterinária, além de salas de aulas e para professores e será utilizado pela UFSC por quatro anos, até que as prometidas obras no campus sejam efetivadas. Outra promessa é de que o galpão da fazenda experimental fique pronto até julho. Quanto às outras obras, como o hospital veterinário e o segundo prédio, que vai abrigar mais salas de aulas e laboratórios, o diretor justifica que os projetos estão parados devido à greve dos Técnicos Administrativos.
Veja aqui as fotos dos laboratórios