Editorial: Condições de trabalho: lamentar ou solucionar?

Estaríamos presenciando algo “normal” se não estivéssemos no século XXI e em uma universidade que já ultrapassou meio século de existência: a precarização do trabalho docente, o desrespeito às leis, a prevalência do interesse de grupos distintos em lugar do coletivo, entre outros.

Quando denunciamos as condições precárias de trabalho na UFSC estamos nos referindo de forma abrangente ao desrespeito aos limites do corpo e da mente. A intensificação do trabalho, na percepção dos professores, faz com que se vejam trabalhando mais, executando tarefas administrativas que os privam do tempo necessário para o desenvolvimento de outras atividades. Nesse processo os docentes passam a apresentar exaustão emocional que se manifesta em nervosismo, estresse, cansaço mental, esquecimento e insônia.

O que presenciamos são professores trabalhando em ambientes com sérias deficiências nas condições básicas de infraestrutura do ambiente laboral: ausência de espaços para descanso/repouso, salas de aulas inadequadas, falta de laboratórios e de servidores de apoio e, sobretudo, falta de segurança.

Falando em segurança, a deficiência de pessoal efetivo capacitado para combater as diversas ocorrências no campus da UFSC deixa todos os servidores, alunos e público em geral com uma clara sensação de lugar inseguro, pois muito se tem divulgado sobre os diversos delitos, crimes e atos de vandalismo que frequentemente acontecem.

Os docentes do campus da UFSC em Curitibanos filiados à Apufsc-Sindical vêm reivindicando melhorias nas condições de trabalho, haja vista que nem mesmo espaço suficiente para trabalhar eles possuem: “se descontarmos as estações de trabalho, cada professor tem cerca de 2m2 para trabalhar, guardar livros, provas e documentos”. A falta de técnicos de laboratório é outra questão que exige providências, pois os docentes se veem obrigados a organizar o ambiente e fazer a limpeza dos laboratórios para que possam ministrar aulas práticas. Acrescente-se a isso que nem mesmo a rede elétrica do campus apresenta segurança face à carga dos equipamentos em uso.

Problemas semelhantes são encontrados no campus de Florianópolis, apresentados pelos cursos de Cinema e Odontologia. Neste Último a situação ficou tão crítica que a Vigilância Sanitária interditou as clinicas odontológicas devido à absoluta falta de condições de funcionamento, incluindo até a queda de uma parede na cabeça de um aluno. No curso de Cinema a falta de espaço físico, de servidor e de laboratórios fez com que aulas fossem suspensas.

Considerando que o ambiente é inadequado, é fácil deduzir que o aluno que recebe os frutos do trabalho do professor não está sendo bem atendido, o que pode ser parte da causa de tantas desistências e abandonosd+ basta ver a quantidade de vagas ociosas ofertadas recentemente, principalmente nos campi de Curitibanos e Araranguá.

A partir do Reuni a intensificação da precarização do trabalho na UFSC, em seus diversos campi, tomou uma proporção incompatível com o que se espera de uma universidade do porte e importância da nossa UFSC.

A Apufsc-Sindical está ciente dos problemas gerados pela falta de condições básicas para o bom trabalho do docente e empenha-se na busca de soluções, pois para este sindicato as pessoas são realmente importantes. Entende que existem duas situações: aquela referente à precariedade no ambiente de trabalho e que merece a atenção dos dirigentes institucionais, e outra referente à autonomia universitária.

Face a tantas solicitações decorrentes da inadequada situação em que se encontram tanto cursos como campi faz-se necessário alertar para a gestão de ambientes de trabalho como tarefa dos dirigentes da UFSC.

A UFSC cresceu muito, impondo uma nova visão de gestão universitária. Não há mais espaço para amadorismo e sim para práticas administrativas que visem à eficiência e eficácia organizacionais aliadas à qualidade acadêmica, imprescindíveis para a condução da universidade.

A comunidade acadêmica, incluindo os gestores institucionais, deve se responsabilizar por mudanças necessárias, começando pela definição dos papéis dos colegiados, que deveriam estar voltados para “planejamento e distribuição de tarefas com avaliação de resultados” ao invés de serem usados como “órgãos representativos politicamente”.

Os problemas acima destacados devem ser sanados com a aplicação de boas práticas administrativas, a começar por planejamento, organização, coordenação, liderança e controle. Estas práticas independem da tão discutida e pouco entendida autonomia universitária.

Melhorias nas condições de trabalho são obtidas com ações administrativas. Vale lembrar que as dificuldades enfrentadas pelo campus de Curitibanos podem ser creditadas, ao menos parcialmente, ao fato de que em menos de cinco anos por lá passaram quatro administradores.

A falta de profissionalismo na gestão universitária não deve ser vista como uma questão de autonomia, pois autonomia é algo que se conquista preferencialmente, mas não somente, pela competência gerencial, pela eficácia e eficiência administrativas, por ações concretas decorrentes de uma ampla visão do complexo universo em que se situa uma IFES, com seus atores internos e externos.

São pessoas que ditam as normas, que definem as exigências, que determinam o que deve ser feito e são pessoas que acatam tudo isso. Portanto, a questão maior centra-se na solução para os males encontrados nas condições de trabalho na UFSC e tal tarefa exige comprometimento, responsabilidade e competência gerencial.

Diretoria da Apufsc-Sindical