Uma das principais agências federais que financiam a ciência no país, o CNPq, anunciou um corte de 20% nas suas bolsas de iniciação científica, destinadas a alunos que fazem pesquisa científica na graduação e, em menor quantidade, ainda no ensino médio. Isso significa que a cada cinco alunos que poderiam receber bolsa, um deles ficará sem o benefício.
O anúncio foi feito no início de agosto, com a divulgação, pelo CNPq, do resultado das Chamadas 2016-2018 das bolsas de iniciação científica. Serão 26.169 bolsas concedidas neste ano–20% a menos do que em 2015.
Mentor na universidade triplica chance de aluno ser bem sucedido
Em nota ao Abecedário, o CNPq informou que a “adequação da concessão de bolsas” foi necessária “considerando o contexto orçamentário atual”. “Havendo incremento orçamentário, bolsas adicionais poderão ser concedidas.”
O CNPq paga, hoje, R$100 mensais aos bolsistas de iniciação científica que estão no ensino médio e R$400 para quem está fazendo pesquisa na graduação. Para outras modalidades, como no doutorado, o valor chega a R$2.200 ao mês.
“O Hernan [Chaimovich, presidente do CNPq] está pedindo mais dinheiro, mas não consegue. Não sabemos mais o que fazer”, disse Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Ela chamou o corte de bolsas de “tragédia”. “Estamos vivendo um dos piores tempos da história da ciência do país em termos de cortes de recursos”, disse.
A iniciação científica é importante para despertar o interesse dos alunos para a ciência. Trata-se, nas palavras do CNPq, de uma forma de “integração do aluno de graduação à cultura científica e/ou tecnológica, por meio do desenvolvimento de atividades de pesquisa sob a supervisão de um orientador qualificado.”
O “orientador qualificado”, que trabalha com o jovem estudante em uma pesquisa de iniciação científica, acaba fazendo também um trabalho de supervisão e de mentoria, atividade que tem ganhado cada vez mais espaço nas instituições de ensino superior de ponta no mundo.
Hoje, já se sabe que os alunos que tiveram um mentor durante a graduação têm duas vezes mais chances de ser bem sucedidos após formados. Aqui, entende-se como “mentor” um professor com o qual o aluno trabalhou de maneira bem próxima durante a graduação, que auxiliou nos estudos, na definição de quais disciplinas cursar e que deu alguma orientação em termos de carreira.
No cenário brasileiro, reduzir o número de bolsas no começo da carreira científica pode significar menos cientistas qualificados no país no futuro. “O problema é que sem ciência não dá para fazer nada, nem exportar soja”, diz Nader, da SBPC.
Ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o CNPq tem sofrido cortes juntamente com a pasta de ciência, que deve receber cerca de R$3,5 bilhões neste ano. Para se ter uma ideia do que isso significa, o orçamento do ex-MCTI em 2014 tinha mais do que o dobro desse valor –antes de todas as pastas começarem a sofrer cortes.
Fonte: Abecedário Folha de São Paulo