A decisão da reitora em exercício da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Alacoque Lorenzini Erdmann, em anular o ato do chefe de gabinete, Aureo de Moraes, e reconduzir o corregedor-geral Rodolfo Hickel do Prado ao cargo provoca nova reviravolta na crise que ronda a universidade desde o dia 14 de setembro, quando foi deflagrada a Operação Ouvidos Moucos pela Polícia Federal. A portaria da reitora foi publicada nesta terça-feira (24), no mesmo momento Aureo pediu exoneração do cargo, que ocupava desde maio de 2016, quando Luiz Carlos Concellier de Olivo tomou posse como reitor.
“A reitora não teve coragem de enfrentar os atos do corregedor. Com isso eu não me sinto nem um pouco confortável de permanecer no cargo. Meu ato foi legal, transparente e com embasamento, totalmente defensável. Havia contra ele denúncia de um docente e com base no Estatuto do Servidor decidimos pelo afastamento”, afirmou Moraes. Questionado sobre as motivações que o levou a publicar portaria na sexta-feira determinando afastamento temporário do corregedor-geral, Moraes afirmou que o ato tinha acompanhado de parecer da Procuradoria junto à UFSC, e que a reitora tinha ciência do fato. “Eu a informei e ela não contestou”, explicou.
Professor do Departamento de Jornalismo e servidor da universidade desde 1993, Aureo afirmou que a chegada do corregedor Rodolfo Prado à UFSC tem trazido clima de instabilidade para a instituição. “Ele desconhece a instituição. Na verdade, o ato de afastamento dele tem como base a mesma lei que ele tem usado para afastar professores por qualquer motivo. Ele mesmo pediu o afastamento do reitor e a nomeação de um interventor”, disse apontando que a chefia de gabinete tem prerrogativas para destituir o corregedor se este for alvo de investigação interna.
A Corregedoria da UFSC foi criada em 2014 pelo Conselho Universitário, mas a nomeação só se deu em novembro de 2015. “Eu não tenho nada contra a Corregedoria, mas a figura do corregedor tem que atender alguns critérios e o corregedor atual não atende”, disparou Áureo.
Na última segunda-feira, após determinado o afastamento do corregedor, a reitora da UFSC teria se reunido com membros do MPF (Ministério Público Federal) e CGU (Corregedoria-Geral da União) que teriam motivado sua decisão. Na noite de segunda, informou aos professores do gabinete que iria revogar a portaria.
A reportagem esteve no gabinete da reitora que não quis se manifestar. Também não conseguimos até esta publicação o contato com o corregedor, e nem com membros da CGU e MPF.
Queda de braços revela maior crise nos 57 anos de história da UFSC
A Operação Ouvidos Moucos deflagrada pela Polícia Federal teve início justamente na Corregedoria da UFSC. Os desentendimentos entre o corregedor Rodolfo Hickel do Prado e o então reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo acabaram transformando o processo administrativo em caso de polícia resultando na prisão e afastamento das funções de sete servidores, entre eles o reitor sob acusação de obstrução das investigações interna.
A operação investiga desvio de recursos federais nas bolsas de ensino do programa EaD (Ensino a Distância). A suspeita é de que as fraudes vinham sendo praticadas desde 2006, no entanto, foi somente em novembro do ano passado que o caso teria vindo à tona, motivando a abertura de procedimento interno pela Corregedoria. No dia 2 de outubro, Cancellier cometeu suicídio deixando apenas uma mensagem: “Minha morte foi decretada no momento em que foi afastado da universidade”.
Na sequência dos fatos e diante da vacância do cargo de reitor, no dia 10 de outubro o CUn (Conselho Universitário) decidiu por unanimidade manter a vice-reitora Alacoque Erdmann no cargo até o fim do mandato. No dia, o Conselho afirmou que a decisão demonstrava a independência da universidade em seus atos e que Alacoque representava a continuidade da gestão Cancellier. A decisão do Conselho, no entanto, ainda depende de homologação do Ministério da Educação.
Fonte: Jornal Notícias do Dia