Há seis dias da consulta pública para Reitor da UFSC, a Comissão Eleitoral (Comeleufsc) promoveu o debate entre os candidatos Ubaldo Cesar Balthazar, Edson Roberto De Pieri e Irineu Manoel de Souza. O evento ocorreu na quinta-feira, 22 de março, no auditório Garapuvu do Centro de Cultura e Eventos e foi transmitido ao vivo pelos canais institucionais – TV UFSC (63.1 no canal aberto e 15 na NET), Facebook da UFSC –, com a cobertura jornalística da Agência de Comunicação (Agecom).
As perguntas do público foram feitas previamente por meio eletrônico. O jornalista e historiador Paulo Roberto Santhias, coordenador da Rádio Udesc FM, mediou o debate, que lotou o auditório com a comunidade universitária – dividida em grupos de apoiadores de cada uma das candidaturas, facilmente identificados pelas cores que vestiam: azul, verde ou laranja.
O evento foi organizado em cinco blocos: o primeiro, para apresentação dos candidatosd+ o segundo, para resposta das cinco perguntas do públicod+ o terceiro, para perguntas entre os candidatos, sobre temas previamente definidos: pesquisa, extensão, ensino (educação básica, graduação e pós-graduação), segurança, assistência estudantil, financiamento, Restaurante Universitário (RU), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), autonomia e democracia, fundações, condições de trabalho, campi e EaDd+ o quarto, novamente para perguntas entre os candidatos, mas com tema livred+ e o quinto e último bloco, para as considerações finais.
Paulo Rizzo, presidente da Comeleufsc, abriu o evento e apresentou as orientações para o processo eleitoral da próxima quarta-feira, 28 de março. Ressaltou que a consulta é realizada na UFSC desde a década de 1980 e que este tipo de escolha é resultado do princípio constitucional da Autonomia Universitária.
Perto das 14h, os candidatos se dirigiram à mesa, fortemente aplaudidos por seus correligionários. De repente, som de tambores e de vozes estudantis ecoaram no espaço. Alunos de graduação se manifestaram pelo direito de moradia estudantil, assunto que sempre aparece nos grandes eventos da Universidade. Gritavam “Oh! Reitoria! O gabinete vai virar moradia!” e “Moradia não é favor, é um direito!”. Um dos representantes do movimento leu uma carta de reivindicações.
Apresentações
No primeiro bloco, os candidatos se apresentaram. Ubaldo dedicou o debate ao professor Luiz Carlos Cancellier, já que este processo não estaria ocorrendo se não fosse a tragédia de sua morte. Afirmou que sua proposta de gestão se funde nos mesmos princípios elegidos pela comunidade universitária em 2016, para que a universidade volte a ser autônoma, saudável e sustentável. De Pieri alegou que o momento é de discutir ideias e perspectivas para a universidade. Falou de sua trajetória acadêmica e como esta experiência contribuiu para seu trabalho como gestor de um centro de ensino. Garantiu que a UFSC foi o melhor lugar que encontrou para trabalhar. Irineu reiterou seu apoio aos movimentos sociais, disse que “a universidade não pode ser mercadoria”. Para ele, como a instituição não atendeu a ampliação das políticas públicas, defende uma universidade necessária, a valorização da graduação, da permanência estudantil, da autonomia, da transparência e do orçamento participativo.
Perguntas do público
O segundo bloco foi composto por cinco perguntas do público, sorteadas pelo mediador. Abaixo seguem as perguntas, por ordem de realização, e uma síntese do que foi dito pelos candidatos.
“Qual a posição dos candidatos sobre segurança e polícia na UFSC, diante da violência no campus e no entorno?“
O candidato Irineu se posicionou contrário à Polícia Militar (PM) no campus. Para ele, deve-se restabelecer o cargo de segurança, extinto no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. De Pieri não vê problema na entrada da PM no campus, desde que acionada pela Secretaria de Segurança Institucional (SSI). Ele também sugeriu o aprimoramento do sistema de segurança, monitoramento, iluminação e equipamentos. Ubaldo, que também não é contrário, lembrou que nos últimos dois anos houve uma redução dos índices de violência com a criação da SSI e, como esta tem limites de atuação, a PM tem que estar próxima para contribuir.
“Você considera importante que a universidade possa funcionar sem as fundações?”
“Deixar de lado as fundações é levar a UFSC ao caos”, opinou De Pieri. “Hoje, sem elas teríamos 150 pessoas a menos. 85% dos projetos gerenciados vêm de descentralização orçamentária, é o que mantém o RU e a assistência estudantil.” Irineu entende que os recursos públicos devem ir para uma conta única, a da universidade: “Estes recursos colocados nas fundações demonstra uma administração puramente empresarial, marca que tem denegrido a imagem da universidade.” Para Ubaldo, a UFSC “sem as fundações seria o ideal” mas, por outro lado, elas “constituem um mal necessário, são parceiras importante no desenvolvimento de projetos. Não vejo problemas, desde que se atenha a seu papel de gestão financeira e a universidade exerça o controle e a fiscalização.”
“O candidato se compromete a aceitar a nomeação do Presidente da República na lista tríplice somente se for o candidato mais votado na eleição?”
Todos os candidatos se posicionaram favoráveis a escolha das três categorias, paritariamente, como historicamente é feito na UFSC. De Pieri reforçou o caráter democrático do processo que tem respaldo do Conselho Universitário (CUn). “Vou defender para que seja obedecido e ouvido a opinião de cada um de vocês”. Irineu falou do “respeito à autonomia da consulta e da postura coerente com quem muda de posição”, referindo ao voto proporcional para reitor “70/30”, que no último pleito houve um pedido ao MEC para a não nomeação do professor Cancellier. Ubaldo reforçou o seu sim no peso da tradição, de o mais votado ser o nome homologado. E brincou que naquele caso não foi 70/30 e sim 100, já que considerou somente os votos dos professores da UFSC, sem levar em conta as outras categorias.
“Todos os dias, vemos uma enorme fila no Restaurante Universitário. E muitas gestões já falaram de soluções para isso. O que tem a propor?”
De Pieri alegou que todas as demandas passam pela “reativação das panelas, liberação da ala desativada para que possamos atender o maior número de estudantes”. Irineu mostrou que o questionamento estava em seu programa, que fala em ampliar a capacidade do RU e torná-lo referência em nutrição. Pontuou que existe recurso no orçamento da universidade e, como proposta concreta, o RU deverá “abrir mais cedo e fechar mais tarde”. Para Ubaldo, a solução é simples. “Estamos trabalhando agora na possibilidade de ampliar o número de mesas e cadeiras na antiga cozinha do RU, o que não resolve totalmente, mas minimiza os problemas: “A questão da alimentação tem que ser visto na integralidade, em todos os campi“.
“Atualmente, em nome da liberdade de expressão, são recorrentes as ações que ferem os direitos humanos. Como a universidade deve se posicionar diante de manifestações fascistas?”
Para De Pieri, não se deve permitir manifestações de ódio, intolerância, que inferioriza pessoas: “Não há amparo legal para este tipo de manifestação e deve ser tratado como algo muito sério dentro da universidade.” Irineu lembrou que “fomos vítimas desse movimento, inclusive ameaçados, e sabemos que algumas candidaturas tem apoio do MBL”. Ubaldo fez a última fala do bloco, afirmando que é preciso lutar para impedir a propagação deste mal: “Não tenho o menor constrangimento em dizer que fascistas não passarão.”
Perguntas entre os candidatos
Os terceiro e quarto blocos mostravam-se ser os que tornariam o debate mais emblemático, uma vez que propunham aos candidatos a reitor da UFSC realizarem perguntas entre si de temas preestabelecidos pela Comissão Eleitoral e de tema livre. Na caixa de sorteio estavam depositados em papel os seguintes temas a serem sorteados pelo mediador Paulo Santhias: Pesquisa, Extensão, Ensino (educação básica, graduação e pós-graduação), Segurança, Assistência Estudantil, Financiamento, Restaurante Universitário (RU), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Autonomia e Democracia, Fundações, Condições de Trabalho, campi e EaD.
Em ambos os blocos, as perguntas deveriam ser feitas em 1 minuto, as respostas dentro de 1 minuto e 30 segundos, as réplicas e as tréplicas em 1 minuto cada. Ao mergulhar uma das mãos para sortear o primeiro tema, Santhias retirou o papel em que estava escrito Educação a Distância (EaD).
O candidato Irineu dirigiu a De Pieri a pergunta “Qual a proposta do professor De Pieri em relação ao Ensino a Distância na Universidade?”. O candidato disse que a EaD precisa ser profissionalizada, principalmente diante dos últimos problemas que resultaram na suspensão de recursos que deixaram 1.700 estudantes com dificuldades em terem aulas.
“A minha proposta é que a institucionalização poderá resolver uma série de problemas, inclusive devem expandir o Ensino a Distância […]. Pela função social que tem a EaD, ela não pode ser colocada em cheque porque não fizemos a lição de casa e controlamos onde havia desvios […]. É necessário esclarecer isso e potencializá-lo cada vez mais”, afirmou De Pieri.
Irineu usou a réplica para se manifestar sobre a importância da EaD e a necessidade da universidade, por meio do Colegiado do Curso, Conselhos das Unidades e das Câmaras de Graduação, ampliar as áreas que podem adotar a EaD. “Entendemos que todo o recurso [do EaD] deve ser incluído na conta única da UFSC e deve seguir os regulamentos dos cursos de graduação, como também seguir o vestibular único da universidade. Os professores que ministram na EaD deverão incluir as atividades no Plano e Acompanhamento de Atividades Docentes (PAAD)”.
A segunda pergunta do terceiro bloco versou sobre Autonomia e Democracia, sendo que De Pieri realizou a seguinte pergunta ao candidato Irineu: “[…] Gostaria de saber, na sua opinião, se a universidade tem soberania e se na sua gestão as discussão vão ser [aquelas] que vão até o limite para, daí, as decisões serem tomadas?”.
Irineu apresentou como proposta de campanha colocar em prática a autonomia universitária por meio de uma gestão democrática, participativa, envolvendo estudantes e servidores em discussão para tratar de temas polêmicos da universidade. “O nosso entendimento é de que os reitores não têm utilizado a autonomia universitária”, disse isso ao citar a negativa para realização de concursos públicos emitida pelo Governo Federal em 2017. “[…] os reitores poderiam ter se manifestado e usado o princípio da autonomia para realizar o concurso no ano passado. […] não existe universidade se os reitores não utilizarem autonomia”.
A terceira e última pergunta deste bloco tratou do Restaurante Universitário e foi realizada pelo candidato Ubaldo ao candidato De Pieri e foi a seguinte: “Qual a sua avaliação sobre os serviços oferecidos pelo RU?”
De Pieri avaliou de forma positiva o RU e enfatizou a importância do envolvimento da equipe que serve diariamente 8 mil refeições aos estudantes da UFSC. “A minha avaliação é a melhor possível. Vou ao RU [com] um grupo de professores, alunos, técnicos-administrativos uma vez por semana […]. Então sou testemunha do trabalho, da eficiência e das funções de trabalho que rendem naquele local”, disse ele ressaltando que o restaurante é um espaço de estágio, convívio, acolhimento e de relação entre os colegas. “O RU é o local mais multidisciplinar da universidade”.
Ubaldo aproveitou a réplica para falar sobre o aumento em 50% das refeições servidas no RU nos últimos dois anos e que “a fila aumentou porque a qualidade da comida melhorou”.
No quarto bloco os candidatos fizeram uns aos outros perguntas de tema livre. A primeira delas foi feita por Ubaldo para Irineu sobre “Quais são os seus projetos para os campi fora da sede da UFSC?”.
O candidato Irineu disse que o modelo centralizado de centro de ensino levado aos campi e com centralização na sede precisa mudar. “A proposta é a reestruturação dando mais autonomia para desenvolverem ações de Ensino, Pesquisa e Extensão”. Na réplica, Ubaldo salientou que a autonomia é da UFSC. “Aumentar a autonomia de um campus significa aumentar a autônima da universidade”.
A pergunta seguinte partiu de Irineu para De Pieri sobre “Qual é a função da internacionalização de uma universidade?”. De Pieri disse que a internacionalização de uma universidade se dá em vários aspectos, como na graduação, na relação da graduação com a pós-graduação e com parcerias nacionais e internacionais. “A internacionalização [é] para que os alunos vejam as realidades fora do seu habitat natural, e isso precisa ser incentivado”.
Na última pergunta do quarto bloco o candidato De Pieri perguntou para Ubaldo sobre os problemas na EaD: “Tivemos um problema muito sério no EaD e que nos levou o reitord+ e a Reitoria deveria ter feito um processo interno para esclarecer os fatos. Por que isso não é uma prioridade na gestão atual?” Ubaldo disse que todos foram pegos de surpresa e que ao assumir a Reitoria tudo que poderia ser feito foi feito. “Não é competência nossa fazer investigação criminal, mas do ponto de vista administrativo algumas medidas foram tomadas […] para esclarecer o que for possível ser esclarecidos”.
Avaliações finais
Antes de encerrar o debate, cada candidato realizou sua declaração final. De Pieri destacou a missão institucional da universidade pública, gratuita e de qualidade: “A universidade tem que dar a melhor formação à sociedade sem nenhum tipo de preconceito. A reitoria não deve servir a partidos políticos, a grupos de poder, para não acabar criando a figura do censor, pois se não se adequar à nossa ideologia, a gente age de uma maneira quase fascista, ao não deixar que determinados eventos ocorram na universidade. O gestor da universidade precisa estar dissociado dessas amarras ideológicas que muitas vezes afundam o desenvolvimento de nossa universidade. Eu estou aqui para mostrar a minha visão que é de uma universidade para todos, que cumpra seu preceito constitucional, que receba as pessoas de baixa renda, que dê as mesmas condições de trabalho para todos. É por isso que eu me apresento como a mudança. Não me atrelo a essas ideologias e esses grupos de poder. Isso tem que acabar.”
Ubaldo deu relevo à sua trajetória na UFSC. Professor há 40 anos, já ocupou todos os cargos administrativos em seu centro de ensino. Afirmou que tem experiência e se encontra em perfeitas condições para exercer o cargo de reitor. “Pela minha experiência, todas as decisões só podem ser tomadas depois de ouvidos todos os envolvidos. Aliás, nós não precisamos de um gestor, nós precisamos de um líder. E um líder é aquele que deixa o pessoal trabalhar, fazendo o que sabe fazer. Eu sonho com uma universidade com autonomia plena, não uma autonomia capenga. Sonho com uma universidade sem medo, feliz, onde possamos trabalhar com prazer, porque quando é assim, a gente se diverte. Eu diria que a universidade dos meus sonhos é uma que vai sair do quarto lugar no ranking de melhor universidade para, em quatro anos, ser a primeira. É impossível? Não. É perfeitamente provável, desde que todos nós vistamos a camisa da universidade, pois uma vez eleito, seremos reitor de todos. Trabalharemos pela universidade. Em nome dessa vontade, dessa determinação, eu quero ser reitor.”
Irineu, por sua vez, ressaltou a participação dos movimentos sociais no início do debate, pois defende uma universidade atenta às demandas da sociedade e da comunidade, com autonomia universitária: “Para isso, o princípio da transparência e o orçamento participativo possibilitaram essa atenção, com autonomia. Defenderemos a permanência estudantil, os povos indígenas e combateremos os preconceitos. Em um momento de crise do país e da universidade, o princípio da transparência permite superar a desconfiança que a sociedade tem da instituição.
Entendemos que o reitor tem que ser uma pessoa tranquila, limpa e que possa defender a universidade em todas as instâncias, sem medo da Polícia Federal, do Ministério Públicod+ um reitor de fato dedicado à qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão. Em defesa dos princípios constitucionais da universidade. Em defesa permanente do caráter público da universidade, contra qualquer tipo de posicionamento violento nos campi, com coragem para enfrentar os organismos externos, mesmo quando do Estado. Essa coragem, eu tenho.”
Fonte: Agecom/UFSC
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