Novo prefeito da UFSC detalha estratégias para reverter quadros de insalubridade e insegurança na instituição

Gestão de Matheus Lima Alcantara inicia em meio a desafios na infraestrutura do campus, como a manutenção de bebedouros, obras inacabadas e restrições orçamentárias, destaca o Cotidiano UFSC

Após o episódio envolvendo uma barata encontrada no Restaurante Universitário (RU), o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Irineu Manoel de Souza, dispensou Hélio Rodak do cargo de prefeito universitário, que ocupava desde 2022. No mesmo ato também foi nomeado para o posto Matheus Lima Alcantara. A gestão de Alcantara se inicia em meio a desafios na infraestrutura do campus, como a manutenção de bebedouros, obras inacabadas e restrições orçamentárias.

Foto: Reprodução/Linkedin

Matheus Lima é técnico em edificações pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), formado em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC. Ingressou no serviço público em 2013 e foi diretor do Departamento de Manutenção Predial e de Infraestrutura (DPMI) da instituição. Em entrevista, ele detalha as estratégias para superar essas dificuldades e melhorar o cotidiano universitário. Alcantra respondeu perguntas sobre a licitação de bebedouros, projetos de infraestrutra e melhoria da UFSC, orçamento e gestão.

Confira a entrevista:

LICITAÇÃO DE BEBEDOUROS

Cotidiano: Quais são os desafios enfrentados atualmente na licitação de novos bebedouros para a UFSC?

Matheus Lima Alcantara: A UFSC continua adquirindo bebedouros, junto à Proad, através de licitações. A organização da demanda das unidades de ensino e administrativas é definida pela própria Proad, que também executa os processos junto aos centros.

O que temos atualmente é uma grande defasagem de equipamentos quebrados ou fora de funcionamento, devido a problemas ocorridos na contratação dos serviços de manutenção. Nos últimos anos, o processo para contratação destes serviços havia sido incluso com os serviços de manutenção de equipamentos de ar-condicionado, porém, infelizmente, devido a algumas questões legais e administrativas o processo não teve sucesso. Assim, a demanda dos bebedouros foi separada desta contratação e se encontra em desenvolvimento no Departamento de Manutenção Predial e de Infraestrutura, junto com o Departamento de Contratos da Pró-Reitoria de Administração. A previsão de conclusão desta licitação é no início do semestre 2025.1, com execução imediata.

Cotidiano: Existe um cronograma definido para a instalação de novos bebedouros? Caso sim, qual é o prazo previsto?

MLA: Sim. O processo licitatório para aquisição de novos bebedouros está sendo desenvolvido junto à Proad, com previsão de finalização para o início do semestre 2025.1. Neste momento, o processo se encontra no agrupamento das demandas dos diversos setores da UFSC, sejam unidades de ensino, pesquisa, extensão ou administrativas.

Cotidiano: Há planos para ampliar a quantidade de bebedouros nas áreas de maior circulação?

MLA: A aquisição de novos bebedouros é definida pelas diversas unidades da UFSC e não passa necessariamente pelo crivo da Prefeitura Universitária. De qualquer modo, a contratação dos serviços de manutenção dos bebedouros, desenvolvida pela Prefeitura, é uma forma de garantir o funcionamento destes, e de certa forma, a ampliação dos pontos de fornecimento de água potável pelo Campus. Visto a deterioração significativa dos equipamentos pela falta de manutenção, diversos pontos se encontram sem o funcionamento dos equipamentos e o restabelecimento destes representa uma melhoria significativa nos espaços.

A aquisição de equipamentos novos em si, não garante o funcionamento e a oferta de água potável pelo campus. Os serviços de manutenção, que garantem o funcionamento e longevidade dos equipamentos, aliados à aquisição regular de outros necessários, é que permitirão a solução do problema.

PLANOS E MELHORIAS

Cotidiano: Quais são os principais projetos em andamento para melhorar a infraestrutura da UFSC nos próximos anos?

MLA: A Prefeitura Universitária tem atuado em diversas frentes de trabalho. Primeiro, a retomada das obras inacabadas é um grande foco de trabalho dos departamentos da PU. Esta retomada significa não só a garantia do atendimento de demandas-chave de espaço físico (com a criação de novas salas de aula, laboratórios, e espaços de apoio), mas também garante a melhoria do funcionamento não só em Florianópolis, mas nos demais campi.

Outra questão relevante a ser executada nos próximos anos é o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (Prad), oriundo de uma sentença judicial. Este plano inclui diversas medidas voltadas para a proteção das Áreas de Preservação Permanente, proteção dos córregos, adequação de instalações hidrossanitárias irregulares e educação ambiental, todas com o foco de melhoria da qualidade da água dos córregos do Campus Trindade. O prazo de execução do Prad é de 26 meses, de acordo com a sentença judicial que o originou.

Também incluso no Prad, mas oriundo de outras demandas, é o projeto de Demolição e Reurbanização dos Blocos Modulados (antigo CFM). Se trata de diversas edificações antigas, com muitos problemas estruturais, que serão demolidas, tendo sua área reurbanizada, recebendo iluminação pública, passeios e paisagismo. Da mesma forma, se trata de área próxima aos córregos naturais do Campus Trindade, e tem impacto direto na melhoria e garantia da preservação destes. Atualmente o projeto se encontra em finalização de orçamento, e deverá ser licitado no início de 2025.

Por fim, uma das grandes tarefas que a Prefeitura Universitária tem se debruçado, são os serviços de manutenção e readequação de diversas edificações da Universidade. Devido ao contexto complexo, que inclui a diminuição significativa do orçamento de custeio nas IFES, bem como o insucesso em diversas contratações relevantes para a manutenção da infraestrutura, temos uma situação com grande defasagem nos atendimentos de manutenções, aumento significativo da infraestrutura construída dos Campi (são centenas de edificações, variando desde pequenos banheiros até a maior cozinha industrial do estado de Santa Catarina) e diminuição da equipe de trabalho técnica contratada, visto as diversas extinções de cargos relativos à área da infraestrutura, o que nos leva ao aumento da terceirização.

Assim, a Prefeitura tem trabalhado junto com seus departamentos para a garantia das contratações de serviços básicos relevantes (como ar-condicionado, bebedouros, pintura, telhados, elevadores, parques e jardins e demais serviços de manutenção) no diálogo constante com os diversos setores envolvidos, sejam eles demandantes, ou executantes.

Outro enfoque das manutenções e adequações vai no sentido de acompanhar os casos específicos, em especial em equipamentos e infraestrutura de grande porte, com atendimento de grande público, ou de funcionamento crítico, como é o caso do Restaurante Universitário, Centro de Cultura e Eventos, vias públicas e instalações de energia elétrica de média tensão.

Cotidiano: Como sua gestão pretende lidar com as demandas mais urgentes apontadas pela comunidade universitária, como acessibilidade e segurança no
campus e iluminação?

MLA: A questão da segurança no Campus é uma questão amplamente debatida dentro da Prefeitura Universitária. A iluminação pública é foco de diversos esforços, com os serviços de manutenção preventiva e corretiva constantes, junto com a Prefeitura Municipal de Florianópolis, e com a aquisição de novos postes, para instalação em com iluminação crítica.

No quesito acessibilidade, em novas intervenções e adequações, sempre são incluídas melhorias, como instalação de rampas e elevadores. Quanto à acessibilidade urbana do campus, como calçadas e passeios, também está incluso no planejamento a contratação de empresa especializada para a manutenção e instalação de pavimentação, voltada diretamente para a melhoria dos caminhos pelo Campus.

ORÇAMENTO E CORTES

Cotidiano: Diante dos cortes orçamentários, quais áreas foram priorizadas para garantir a continuidade das atividades essenciais?

MLA: Serviços básicos de manutenção, como elétrica, hidráulica, telhados, impermeabilização, parques e jardins e serviços simples de manutenção (carpintaria, marcenaria, alvenaria e vidraçaria) foram priorizados, garantindo inclusive renovações emergenciais, prevenindo a descontinuidade dos atendimentos.

Cotidiano: Existem negociações em andamento com o governo federal para reverter os cortes no orçamento da UFSC?

MLA: O diálogo e a luta pela garantia do orçamento da UFSC é pauta constante, sendo foco de viagens e reuniões frequentes da gestão buscando a aproximação com estes canais de debate e com a Andifes.

PROBLEMA DE ORÇAMENTO x GESTÃO

Cotidiano: Como sua administração avalia a relação entre os desafios orçamentários e as práticas de gestão na UFSC?

MLA: A diminuição dos recursos aumenta significativamente a necessidade de planejamento, não só dos gastos, mas do trabalho a ser desenvolvido, com a garantia dos contratos, serviços, licitações e demais esforços que dependem do orçamento.

A infraestrutura, por ser área necessária para a continuidade das atividades fim e meio, tem que ser foco neste planejamento, garantindo a continuidade dos serviços básicos, sempre visando o funcionamento de uma infraestrutura complexa, em uma universidade multicampi.

Cotidiano: Há planos para implementar mudanças na gestão para otimizar recursos e reduzir desperdícios?

MLA: O planejamento estratégico das demandas é a maior ferramenta que temos na infraestrutura para otimizar os recursos. É a forma que temos de tentar garantir uma priorização das demandas e o planejamento do seu atendimento, mesmo dentro de um contexto de restrições orçamentárias.

Cotidiano: Na sua opinião, como a comunidade universitária pode colaborar para superar os desafios de orçamento e gestão?

MLA: Em duas frentes. A luta política junto ao Ministério da Educação, para que se garanta a ampliação do orçamento, e a prática do planejamento, que possa melhorar o uso dos recursos e o funcionamento da Universidade como um todo, evidenciando demandas prioritárias, e discutindo as melhores formas de fazer.

Fonte: Cotidiano UFSC