Primeira indígena formada em Odontologia na UFSC defende TCC sobre uso de plantas medicinais

Trabalho de Aline Padilha ressalta a importância das plantas medicinais para as comunidades indígenas no Brasil

A primeira estudante indígena a se formar no curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Aline Padilha, desenvolveu como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) um estudo que ressalta a importância das plantas medicinais para as comunidades indígenas no Brasil, destacando a necessidade de assegurar os territórios para a preservação e a valorização da cultura e dos conhecimentos milenares dos povos tradicionais.

Aline durante sua colação de grau em novembro, na UFSC (Foto: UFSC/Divulgação)

A formatura da estudante ocorreu em 21 de novembro, e a defesa de seu TCC, em 17 de junho, de maneira remota. Aline também é a primeira indígena do povo Kaingang da Terra Indígena Xapecó, em Ipuaçu (SC), a se graduar na área da Odontologia.

Conforme a pesquisa, as plantas medicinais têm sido utilizadas desde o início da humanidade para o tratamento de doenças, e, atualmente, há um interesse maior nas abordagens naturais, incluindo o tratamento de diversas enfermidades. A partir disso, a análise busca compreender como as publicações científicas retratam a questão no Brasil, e como estas plantas são utilizadas pelos indígenas, em seus rituais, e para cura, bem como a sua preparação.

Segundo Aline, a elaboração do TCC é um marco significativo na vida acadêmica de qualquer estudante, mas, para ela, enquanto indígena e futura profissional da saúde, esse momento carrega um significado ainda mais profundo. “O TCC representa, para mim, uma oportunidade de integrar e dar visibilidade aos conhecimentos tradicionais indígenas, como os saberes sobre as plantas medicinais. Ao escolher um tema que dialoga com as necessidades específicas das comunidades indígenas na saúde em geral, busco contribuir com um olhar mais inclusivo e contextualizado”, afirma.

“O TCC simboliza a superação de desafios. Como estudante de uma universidade federal, a jornada foi marcada por conquistas, mas também por dificuldades, como o preconceito e a sensação de deslocamento. No entanto, ao chegar até esse momento de elaboração e defesa do TCC, me senti fortalecida, não apenas como estudante de Odontologia, mas como uma representante da minha cultura”, acrescenta Aline.

Desde sua saída da comunidade em Ipuaçu até a adaptação à vida universitária, a formanda destaca que, apesar dos obstáculos, pôde encontrar espaços de acolhimento dentro da UFSC. “Mesmo com os desafios, fui acolhida por uma rede de apoio que me ajudou a se integrar e superar as dificuldades encontradas ao longo do curso.”

Nesse processo de integração, Aline fez parte do projeto de extensão Conexão Saberes Indígenas-UFSC, coordenado pela primeira professora indígena da UFSC e sua irmã, Adriana Mĩnky Kókoj Belino Padilha. O projeto visa promover a valorização e a divulgação do conhecimento intelectual indígena através da interdisciplinaridade e interculturalidade entre a história indígena e outros campos de pesquisa, fortalecendo o protagonismo dos intelectuais indígenas e fomentando uma reflexão crítica sobre a produção intelectual, além de contribuir para a permanência desses estudantes na universidade.

“Dar visibilidade a esta etapa de formação é de fundamental importância para os povos indígenas, em especial para o povo Kaingang, principalmente por uma instituição como a UFSC. Ter a diversidade destacada ajuda a dar empoderamento aos graduandos e pós-graduandos indígenas”, ressalta Aline.

Confira o TCC completo sobre o uso das plantas medicinais nas comunidades indígenas brasileiras, com resumo em português, inglês e também Kaingang, no Repositório Institucional da UFSC.

Fonte: Notícias UFSC