*Por Fábio Lopes
Outro dia, um colega me parou na rua para dizer que, por causa de meus artigos neste espaço, “tem gente querendo me bater”. Era só uma brincadeira, claro. Pero no mucho. Completou ele que o motivo de tanta raiva estava em que eu me limitava a atacar os TAEs.
De nada adiantou eu replicar que a minha crítica de modo algum está restrita aos técnicos-administrativos ou mesmo os toma como alvo preferencial. Como qualquer análise minimamente honesta do que escrevo revela, o combate que travo incide principalmente sobre a Reitoria e a cultura organizacional da UFSC, não sobre indivíduos sem cargos comissionados.
É verdade que, para ilustrar minhas teses, cito casos concretos – e perfeitamente verdadeiros – que muitas vezes envolvem TAEs. Mas não só eles. Docentes são igualmente mencionados. Tome-se, por exemplo, o meu último texto, Por uma nova cultura organizacional na UFSC. Elenco ali cinco episódios recentíssimos que chegaram à direção do CCE. São solicitações completamente disparatadas feitas por servidores da UFSC. Quatro de fato são assinadas por TAEs, ao passo que apenas uma foi encaminhada por docente. Ocorre que, ao arrolá-las, enfatizo não a autoria dos pedidos, mas o fato de que chefias e colegiados – ou seja, docentes – os tenham mandado para frente sem qualquer reparo.
Quando meu amigo Nildo Ouriques perdeu a terceira eleição seguida para reitor, escrevi um texto em sua homenagem no falecido Boletim da Apufsc (sim, eu já era assíduo ensaísta naquela época). O artigo se chamava “Todos os nomes” e consistia simplesmente de cerca de quarenta adjetivos desairosos que haviam sido desferidos contra ele durante a campanha. Ainda estou longe desse recorde, mas já acumulo um número considerável de ofensas.
É assim que, desde sempre, se esteriliza a crítica na UFSC. Se alguém aponta abertamente os muitos defeitos da instituição ou responsabiliza agentes públicos locais por seus atos evidentemente reprováveis, é sem delongas estigmatizado: ou bem a pessoa tem uma agenda política oculta, ou bem é inimiga dos TAEs, ou bem está fazendo o jogo da direita, ou bem é bolsonarista ou criptobolsonarista, e assim por diante.
Preparem-se para mais uma saraivada de vitupérios contra este que vos fala. Afinal, cometerei a seguir o grande pecado de afirmar que a Reitoria foi imensamente irresponsável na tramitação do processo de licitação de um plano de saúde para os servidores da Casa. Estava escrito nas estrelas que o contrato com a Unimed terminaria no dia 1º de dezembro de 2024 e que, portanto, o novo certame precisaria estar encerrado antes disso. Mas – como, aliás, acontece com inúmeros contratos necessários ao bem-estar de quem trabalha ou estuda na UFSC – os trabalhos de preparação da concorrência seguiram a passos de cágado e parecem longe de ser concluídos. Para conferir com os próprios olhos como a coisa está se dando, basta consultar a SD 23080.014282/2024-61 no SPA.
É claro que, emparedada pelos prazos atuais, a instituição agora está condenada a se curvar a um contrato emergencial com a Unimed, que, por sua vez, tem a faca e o queijo na mão para propor índices de reajuste nada simpáticos. Está aberta a temporada de imprecações contra a comercialização da saúde pública ou o capitalismo. Mas não se esqueçam de incluir a Reitoria no pacote.
A barbeiragem que nos colocou nessa enrascada tem nome, sobrenome e CPF. 15 mil almas – pacientes em tratamento continuado, idosos e crianças, inclusive – pagarão a conta.
A universidade está em frangalhos. Falta investimento público? Sim, sem dúvida. Falta contratação de novos quadros? Hummmmm, em termos. O que me parece líquido e certo é que falta também competência administrativa e coragem elementar para enfrentar nossos gargalos internos. Falta sobretudo a condição sine qua non para que correções de rota possam ser feitas, vale dizer, um ambiente verdadeiramente arejado, em que a crítica interna não seja cerceada de maneira tão leviana e infantil.
É isso ou teremos que em breve sofrer os efeitos de novas trapalhadas e inconsequências. É isso ou, em uma universidade que se orgulha de abrigar um curso de Jornalismo com conceito máximo nas avaliações externas, teremos que engolir notas como a que Reitoria publicou no Notícias da UFSC, na qual, a esta altura do campeonato, se lê que “A Administração Central da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) informa à comunidade universitária que a licitação para contratação do novo plano de saúde dos servidores técnico-administrativos e docentes está adiantada e em breve deverá ser colocada em fase pública.”
Adiantada, na novilíngua, é o que, em português corrente, costumávamos chamar de “tarde demais”. Ora, se não somos sequer capazes de usar uma linguagem jornalística diferente da praticada pela assessoria de imprensa do Neymar, há algo de muito errado conosco, concordam?
*Fábio Lopes é diretor do CCE/UFSC
Artigo recebido às 12h36 do dia 22 de novembro de 2024 e publicado às 13h13 do dia 22 de novembro de 2024