Com auditório lotado, UFSC celebra a ciência e a divulgação científica na abertura da Sepex

A mesa de abertura da Sepex discutiu “Cosmos, Vida na Terra e Saúde Mental: Uma Viagem Científica”

Uma celebração da ciência, do ensino, da pesquisa e da extensão marcaram a cerimônia de abertura da Semana de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepex) da UFSC, que ocorreu nesta quarta-feira, dia 6. Cientistas e divulgadores da ciência da Física, da Neurociência e do Clima fizeram um debate sobre temas como energia, cosmos, saúde mental, mudanças climáticas e divulgação científica, encantando um auditório lotado com um amplo repertório de conhecimento. A professora da UFSC, Regina Rodrigues, e os cientistas e comunicadores Sérgio Sacani e Eslen Delanogare foram os debatedores em uma mesa coordenada pelo professor de Farmacologia, Rui Daniel Prediger.

A professora Regina Rodrigues, especialista há mais de 20 anos na área de mudanças climáticas, lembrou que as alterações climáticas na Terra são causadas pela emissão de gás carbônico na atmosfera, que leva ao aquecimento do planeta tendo como consequência os eventos extremos. A pesquisadora destacou, a partir de dados, como a injustiça climática vem sendo observada: segundo ela, 50% dos países mais pobres emitem apenas 8% dos gases do efeito estufa, enquanto os 10% mais ricos emitem 50% dos gases.

Professora Regina falou sobre injustiça climática. Foto: Mateus Mendonça

O fator pobreza e riqueza também é observado nas populações: 0,1% dos mais ricos têm pegada de 200 toneladas de carbono, enquanto 90% dos mais pobres utilizam apenas uma tonelada. “Os mais afetados pela tragédia são os países mais pobres, e as populações mais vulneráveis sentem mais”, destacou. Ela ponderou, ainda, que um aspecto muito importante das consequências disso são os efeitos diretos da temperatura na saúde humana. “Mortes aumentaram globalmente em 67%, um recorde histórico”, disse. Ela também lembrou da explosão de casos de dengue por conta do calor. “Calor excessivo leva ao aumento de stress, ansiedade e comprometimento cognitivo”.

Eslen Delanogare lembrou que já há fartos indícios, na literatura especializada, que demonstram que a população não sofre por conta do medo das consequências das mudanças climáticas. “A gente sabe com razoável grau de certeza que o problema que as mudanças climáticas geram é devido aos efeitos colaterais que elas causam e que as populações acabam não percebendo”. Citou como exemplo caso das cheias no Rio Grande do Sul, que pode gerar o “stress cronico imprevísivel”.

Segundo ele, o clima é um organismo muito complexo de prever e gera uma série de alterações na sociedade. O luto, a perda patrimonial e o aumento de desigualdade social causados por essas tragédias também têm impactos na população afetada pelas mudanças climáticas. Eslen lembrou que um dos erros mais comuns cometidos com pessoas sob stress pós-traumático é pedir que elas revivam suas experiências contando o que viram.

Ao falar do cosmos, Sérgio Sacani, conhecido como “Serjão”, lembrou que o Universo também pode contribuir com soluções para a geração de energia, uma das grandes questões relacionadas às mudanças climáticas. A busca de Hélio 3 na Lua, por exemplo, faz parte dos objetivos de países como os Estados Unidos e a China, que vêm desenvolvendo projetos e métodos na expectativa de captar o elemento que não é produzido na Terra.

Sacani trouxe referências do que países como EUA, China e Índia estão fazendo nas relações entre Clima e Cosmos. Foto: Mateus Mendonça

Este elemento teria eficiência para a produção de energia, sendo uma potencial solução às questões relacionadas à transição energética, ponto consensual quando se fala nas principais urgências para frear o aquecimento do planeta. Sacani citou o projeto Artemis, dos Estados Unidos, como um dos que pode fornecer algum retorno em um prazo mais curto. “Provavelmente ele vai atrasar, mas um novo estudo mostrou que ele deve ir em 2028”.

Alfabetização e divulgação científica

Os debatedores também falaram sobre a importância de se aumentar os espaços de divulgação científica para que a população entenda os impactos das mudanças climáticas. Eslen citou que é muito difícil, no geral, para os cidadãos interpretarem as mudanças climáticas, já que o pensamento é geralmente condicionado a prazos curtos. “Há uma dificuldade de entender o que significam 10 e 15 anos dentro da sua vida e o que isso vai gerar de problemas”.

Eslen comentou ter sido desprestigiado quando decidiu ser divulgador da ciência. Foto: Mateus Mendonça

Sacani ponderou que essas dificuldades também se devem ao fato de o clima ser um sistema caótico. “Pequenas mudanças não vão ter consequência imediata”, lembrou. Um exemplo, segundo ele, são as queimada na Amazônia, cujo efeitos vão surgindo ao longo do tempo.

Eslen também lembrou, em sua fala, sobre os preconceitos que sofreu na academia ao tornar-se um divulgador da Ciência. Sacani e Regina concordaram que a atividade é muito importante e não pode ser desprezada. Para Serjão, uma das alternativas seria estimular que os órgãos de fomento viabilizassem e reconhecessem o trabalho dos divulgadores.

Durante o debate, uma estudante de ensino médio que já descobriu asteroides subiu ao palco. Rosa Maria Miranda, do Colégio de Aplicação da UFSC, saudou os cientistas da mesa e falou sobre seu papel de divulgadora da ciência.

Confira o debate completo na transmissão da TV UFSC

Solenidade de abertura

No cerimonial de abertura, compuseram a mesa diretiva o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza; a vice-reitora, Joana Célia dos Passos; a pró-reitora de Graduação e Educação Básica, Dilceane Carraro; a pró-reitora de Extensão, Olga Regina Zigelli Garcia; o pró-reitor de Pesquisa e Inovação, Jacques Mick; o pró-reitor de Pós-Graduação, Werner Kraus Junior; a diretora de Ações Afirmativas e Equidade, Marilise Luiza Martins dos Reis Sayão; e a presidente da Comissão Permanente Organizadora da Sepex, Fernanda Cordeiro. Também prestigiaram o evento representantes da comunidade universitária, entre docentes, técnicos e estudantes, além do público e geral.

Em 2023, a organização do evento passou a ter caráter permanente e nesta edição, a comissão foi liderada pela servidora técnico-administrativa da Secretaria de Cultura, Arte e Esporte, Fernanda Cordeiro, que citou nominalmente pessoas e setores da UFSC envolvidos na realização da semana.

O reitor Irineu encerrou as falas da mesa de abertura reiterando a grandeza da Sepex para a instituição e o estado. No Brasil, do conjunto das 69 universidades federais, a UFSC está classificada como a quarta melhor federal, e isto se deve à qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão e da inovação. O gestor acrescenta que são 37 mil estudantes e, portanto, uma de suas maiores preocupações tem sido a inclusão e a permanência estudantil. Informou que mesmo com todas as dificuldades financeiras, o valor das bolsas de pesquisa, extensão, ensino, cultura e arte foi ajustado e nivelado.

A vice-reitora Joana reforçou os agradecimentos a todos e todas envolvidas na elaboração do evento e relatou um fato que, para ela era inevitável não falar na Sepex. “Meses atrás, alguns projetos da nossa Universidade foram censurados pelo órgão de fomento à pesquisa em Santa Catarina, exatamente por que colocaram o foco dos seus objetos de estudo nas injustiças sociais, nas desigualdades de gênero, nas questões raciais” ou em outros temas relacionados, mas que ficam à margem de grandes projetos.

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