Em ambientes de reabilitação, foi demonstrado que jogar videogame tem muitos efeitos comportamentais e fisiológicos positivos
Um suporte hospitalar para videogame foi desenvolvido para contribuir no cuidado e na hospitalização de crianças e adolescentes no Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina (HU/UFSC). O trabalho surgiu a partir da tese de doutorado de Carolina Campagnollo, no Programa de Pós-Graduação em Gestão do Cuidado em Enfermagem da UFSC, intitulada “Desenvolvimento de um suporte hospitalar para videogame: contribuições para o cuidado de enfermagem de crianças e adolescentes hospitalizados”.
O suporte para videogame hospitalar possui monitor, console, controles e jogos. Ele foi projetado para ajudar a evitar que os equipamentos se percam e para que a equipe possa transportá-lo facilmente entre as salas. A utilização do produto permitiu o acesso a equipamentos de jogos interativos que proporcionam entretenimento a crianças e adolescentes durante o período de hospitalização.
De acordo com a idealizadora do projeto, as crianças que utilizaram o suporte relataram uma melhora em sua experiência de internação hospitalar, ajudando-as a ficarem mais alegres, confiantes e distraídas.
A maioria dos pacientes pediátricos é levada para uma sala reservada para brincadeiras e jogos. Os pacientes que, por questões de mobilidade ou indicação médica, não podem ir até essa sala, recebem o suporte diretamente no leito.
“A rotina hospitalar é difícil, e para as crianças, ainda mais. Elas estão acostumadas a uma série de atividades no dia a dia e precisam parar enquanto estão em tratamento”, afirma Carolina. Ela explica que proporcionar um cuidado terapêutico possibilita uma hospitalização menos traumática e uma recuperação mais rápida. “O benefício se estende não só aos pequenos, mas também às famílias, que ficam felizes ao ver os sorrisos durante os jogos”.
Inspiração pessoal para o projeto
Carolina conta que a ideia surgiu em 2019, quando seu filho de 11 anos precisou passar por uma cirurgia cardíaca. Ela vivenciou o processo de adoecimento e hospitalização, que traz consequências emocionais para as crianças e aos familiares. O acompanhamento de uma internação longa despertou nela o desejo de contribuir para o aprimoramento do processo de hospitalização infantil.
Para a pesquisadora, as instalações hospitalares acabam não contemplando a socialização de todas as faixas etárias. “No caso do meu filho, a brinquedoteca já não despertava interesse em um pré-adolescente”, explica. A necessidade de repouso no leito também foi um fator considerado. Dispositivos eletrônicos como celulares e tablets suprem a distração por um curto tempo, mas dependem de acesso à internet e podem ser ergonomicamente inviáveis por longos períodos e em internações prolongadas.
Assim, ela considerou o desenvolvimento de um suporte hospitalar para videogame, visando a eficácia de intervenções lúdicas, o entretenimento, o conforto e a satisfação, além de contribuir para a terapia do paciente.
Segundo Carolina Campagnollo, o principal obstáculo foi o custo elevado da ideia. Normalmente, o hospital necessita priorizar os recursos em relação aos cuidados técnicos, estruturais e de equipamentos. Os recursos muitas vezes são completamente utilizados, o que dificulta justificar gastos com videogames, embora o equipamento tenha sido custeado pela própria pesquisadora.
Outros desafios estão relacionados ao gerenciamento do suporte para videogame. Alguém precisaria assumir a responsabilidade de gerenciá-lo, mas os profissionais de enfermagem têm tempo limitado para interagir com os pacientes. Mesmo que o console de videogame esteja em uma sala de jogos ou na brinquedoteca, pode levar pelo menos 15 minutos para configurá-lo ao lado da cama de uma criança.
Perspectiva de crescimento
A pesquisadora afirma que, desde o início do desenvolvimento do projeto, foi considerada a possibilidade de contribuição para um cenário nacional. “Estou trabalhando na divulgação, já tendo apresentado o projeto em congressos na Nova Zelândia, em São Paulo e, agora em novembro, no Chile”. O produto foi classificado como desenho industrial e registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), assim como também obteve o direito autoral da marca “Anjos no Controle” na Câmara Brasileira do Livro.
O suporte foi disponibilizado e está em uso no local da pesquisa. “Buscaremos desenvolver, aprimorar e fabricar muitos outros suportes como este entregue no Hospital Universitário da UFSC. Espera-se que seja o primeiro de muitos.” A pesquisadora também deseja ter a oportunidade de expandir a iniciativa para outros hospitais no país e internacionalmente, “fazendo com que o mundo veja a competência, a vontade de empreender e a criatividade da enfermagem brasileira”.
Atualmente, crianças, adolescentes e adultos utilizam dispositivos eletrônicos como forma de diversão. Esses objetos, como computadores, dispositivos móveis e videogames, são mencionados por eles pela facilidade de manuseio e praticidade. Em ambientes de reabilitação, foi demonstrado que jogar videogame tem muitos efeitos comportamentais e fisiológicos positivos; assim, o suporte pode ser utilizado por outros pacientes além das crianças.
Fonte: Notícias UFSC