Ordem do dia foi alterada depois de manifestação estudantil sobre precariedade do restaurante
Nesta terça-feira, dia 29, a sessão ordinária do Conselho Universitário (CUn) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) teve a ordem do dia alterada para incluir uma discussão sobre as condições do Restaurante Universitário (RU). A mudança aconteceu depois de uma intervenção do movimento estudantil logo no início da reunião, denunciando a precarização dos espaços da universidade e cobrando ações da Reitoria.
Os estudantes pediram a fala antes das discussões acerca das pautas estabelecidas para a sessão, pedindo por um debate sobre a realidade estrutural da UFSC. Eles exigiram ações de manutenção do RU, destacado por todos os presentes como a principal ferramenta para a permanência dos estudantes na universidade, e denunciaram os perigos para a segurança de saúde dos alunos, servidores e trabalhadores do restaurante. Foram mencionados casos como a inundação de esgoto na cozinha, o incêndio em uma lâmpada e o vídeo, que viralizou nas redes sociais nas últimas semanas, de uma barata supostamente encontrada na comida servida pelo restaurante.
Também foi cobrada transparência da gestão sobre as medidas que estão sendo tomadas em relação a essas questões. Falando sobre as condições gerais da UFSC, os alunos ainda relataram que, enquanto montavam os cartazes para a ação, no varandão do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), uma lâmpada caiu no espaço.
Respostas da Reitoria
Acatando sugestões dos conselheiros de que a ordem do dia fosse alterada, o reitor Irineu Manoel de Souza iniciou o debate prestando alguns esclarecimentos. Ele disse que a Companhia Catarinense de Água e Saneamento (Casan) esteve nesta terça-feira no RU, a fim de auxiliar na manutenção dos equipamentos, e mencionou a contribuição de estudantes do Centro de Ciências Biológicas (CCB) no monitoramento da qualidade da água, bem como de estudantes das engenharias no planejamento de reestruturação do restaurante. Também falou sobre a criação de uma comissão, em julho deste ano, formada por técnicos e servidores, para a sugestão de melhorias, a partir da qual foi gerado um relatório, usado pela gestão para a elaboração de um plano de ação. Este documento foi apresentado em audiência pública realizada no dia 16 de outubro.
A discussão sobre o novo RU, com recursos assegurados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Universidades, foi brevemente abordada, com a afirmação de que o projeto definitivo ainda está em elaboração.
O reitor ainda afirmou que, em nota emitida pela Secretaria de Saúde de Florianópolis também nesta terça-feira, a Vigilância Sanitária esclareceu que “não há risco potencial aos usuários e trabalhadores que justifique interdição” até o momento. Segundo o comunicado, foram realizadas sete inspeções em 2024, “com exigências de adequações a serem feitas e que, em sua maioria, foram atendidas dentro do prazo estipulado.”
Finalizando sua fala, Irineu mencionou algumas ações já tomadas pela gestão, como as paralisações mensais do RU para manutenção preventiva, a começar entre os dias 15 e 17 de novembro, e o fechamento total entre 21 de dezembro de 2024 e 3 de março de 2025 para maiores intervenções.
Segundo o reitor, a Pró-Reitoria de Permanência e Assuntos Estudantis (Prae) está planejando a viabilização de transporte até o RU do Centro de Ciências Agrárias (CCA) nas datas em que a unidade da Trindade estiver fechada. Essa também foi uma medida sobre a qual os estudantes cobraram esclarecimentos, pensando nos custos e logística do deslocamento até o Itacorubi para alunos de baixa renda e que seguem determinadas rotinas de trabalho.
Restaurante do CCA também precisa de melhorias
A diretora do CCA, Rosete Pescador, assumiu a fala ao longo do debate. Ela destacou que, ainda que a unidade esteja aberta a receber os estudantes, melhorias precisam ser feitas para que tenham condições de suportar o aumento no fluxo. Rosete disse que, atualmente, estão preparados para oferecer cerca de 800 refeições diárias. Com o aumento na presença de estudantes do campus da Trindade, no entanto, estão atendendo de 1.200 a 1.400 pessoas. Ela exigiu o término das reformas iniciadas ainda no ano passado.
Segundo a diretora, a manutenção visava a troca do telhado para evitar as goteiras em dias de chuva, e adequação de mesas, cadeiras e calçadas. As obras deveriam ter acabado em março de 2024, antes do começo do ano letivo, o que não aconteceu em decorrência de problemas com os engenheiros e a empresa terceirizada. Além disso, a troca nas telhas, segundo ela, não resolveu o problema das goteiras.
Problema de gestão
Durante as mais de duas horas de discussão, tanto alunos quanto servidores técnicos e docentes fizeram falas sobre suas preocupações e necessidades de mudanças no funcionamento do RU. Segundo o conselheiro Renato Milis, representante dos técnicos-administrativos em educação (TAEs) que atua no Colégio de Aplicação, este é um problema que acompanha a universidade há muitos anos, e não é meramente uma questão orçamentária, mas de projeto e gestão que está “muito aquém das necessidades da comunidade universitária.”
O conselheiro Antônio Pereira Moro, professor no Centro de Desportos (CDS) ressaltou que tal situação é, ainda, um prejuízo para a imagem da universidade, em meio às notícias sobre a posição da UFSC em rankings de ensino, e para a própria educação dos alunos. Ele citou os cortes orçamentários e preocupações com o arcabouço fiscal, mas também frisou que o problema não é meramente no orçamento, mas também de gestão, afirmando que a audiência pública realizada pela Reitoria não apresentou soluções efetivamente.
Já os estudantes ainda lembraram a importância de verificar as condições em todos os campi da UFSC, manifestando preocupações com as condições de estudantes do interior e a situação de outras unidades do RU.
O professor Ubirajara Moreno, conselheiro do CUn e primeiro-secretário da Apufsc-Sindical, também fez uma fala. Ele apreciou a manifestação dos estudantes, defendendo a discussão acerca das ações que precisam ser tomadas para que os problemas sejam resolvidos para além das resoluções.
“Inclusão é ter um RU que funciona, inclusão é ter uma Biblioteca Universitária operacional, uma moradia estudantil do tamanho que a UFSC exige”, defendeu o primeiro secretário da Apufsc, Ubirajara Moreno.
Café da manhã a partir de 2025
A vice-reitora Joana Célia dos Passos reconheceu a legitimidade das manifestações em defesa de um RU aberto e sem reajustes no valor, e mencionou algumas das ações tomadas pela gestão, em nome da transparência cobrada pelos presentes. Além das manutenções citadas pelo reitor, ela falou de ações de curto, médio e longo prazo a serem tomadas, a capacitação e qualificação dos servidores e trabalhadores terceirizados, e sobre a comissão coletiva para monitoramento e acompanhamento das manutenções do RU.
Joana ainda afirmou que o café da manhã, que também esteve entre as cobranças dos estudantes e foi uma das promessas da atual gestão, deve começar a ser ofertado no primeiro semestre de 2025 a partir dos campi do interior. Citando números, ela ainda falou sobre a segurança das equipes de trabalho, dizendo que, de 2023 para cá, houve um aumento na força de trabalho dos auxiliares de cozinha, que são 144 em 2024. Também mencionou os auxiliares de almoxarifado, função que antes não existia mas atualmente emprega 12 pessoas no RU, e o aumento no número de cozinheiros, que são 156.
Como encaminhamentos, a sugestão dos conselheiros foi para a criação de duas comissões. Uma para acompanhamento do projeto do novo RU, e outra para o monitoramento das ações de melhoria da unidade do campus Trindade. A cobrança, tanto de docentes quanto de técnicos e estudantes, foi para a inclusão de todas as categorias nas comissões, ao que o reitor afirmou que deve procurar o DCE para solicitar a representação estudantil, e a Apufsc para a representação dos professores e professoras.
Também foi sugerido, pelo conselheiro Rodrigo Moretti, do Centro de Ciências da Saúde (CCS), a realização de uma sessão especial do CUn para debater assuntos de permanência estudantil. O professor lembrou que, há um ano, uma reunião do conselho sobre infraestrutura e segurança foi realizada e determinou uma série de questões, incluindo a iluminação do campus, que nunca foram solucionadas. O reitor acatou a sugestão, e a sessão deve ser marcada em breve.
Assista à sessão na íntegra:
Laura Miranda
Imprensa Apufsc