Dia dos Professores e das Professoras: UFSC tem 225 docentes atuando como voluntários

Segundo a Prodegesp, dos voluntários que atuavam no primeiro semestre de 2024, 119 são aposentados

“É uma boa maneira de contemplar o passar do tempo”, reflete Simone Pereira Schmidt, professora aposentada que segue trabalhando como voluntária na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atualmente, ela é docente da pós-graduação em Literatura e na de Ciências Humanas Interdisciplinar, membro do Instituto de Estudo de Gênero e atua no Instituto Kalida. O caso não é isolado. Os dados da Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (Prodegesp) referentes à primeira metade de 2024 mostram que o quantitativo de docentes voluntários na UFSC é de 225. Desses, 119 são aposentados.

A escolha tomada por esses professores é uma possibilidade oferecida pela universidade na Resolução Normativa nº 67/2015/CUn, de 11 de Dezembro de 2015, que define “voluntário” como o servidor público federal inativo ou pessoa física que deseje prestar atividade voluntária no âmbito da UFSC, isto é, aquela que depende da vontade espontânea. Ela determina que os voluntários podem exercer atividades de ensino, pesquisa, extensão e orientação em qualquer nível ou, ainda, participar de grupos de trabalho de natureza acadêmica, por um período de até quatro anos, através do termo de adesão ao programa, com possibilidade de prorrogação.

No total, 219 docentes voluntários estão alocados no campus Florianópolis, de acordo com o Observatório UFSC. O Centro Tecnológico (CTC) é o que mais recebe professores voluntários, com 43 deles. Em segundo, o Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) recebe 37, e, em terceiro, o Centro de Ciências da Saúde (CCS), com 34. Além disso, 115 docentes têm mais de 70 anos.

Outro caminho possível para esse grupo que, mesmo depois de completar seus anos de serviço, sente o desejo de continuar contribuindo para a construção da soiciedade, é o Programa de Mentoria Master, projeto da Pró-Reitoria de Extensão que tem como objetivo a valorização dos servidores aposentados. Atualmente, 27 docentes atuam nessa modalidade. São cinco opções de mentoria: carreira acadêmica; ensino básico; ensino de graduação; ensino de pós-graduação; serviço técnico-administrativo em educação. Qualquer pessoa da comunidade interna ou externa à UFSC, bem como escolas de qualquer lugar do país ou exterior, podem participar do programa. 

Simone foi uma das professoras que aderiu a essa opção, oferecendo o curso “Apoio pedagógico em Literaturas Africanas” para a graduação e a pós-graduação. Encantada pela docência, sua carreira foi construída de forma natural com o passar do tempo. No início da trajetória acadêmica, cursava Jornalismo e Letras ao mesmo tempo, tomando a decisão final baseada em sua paixão pela literatura. Ao se formar, percebeu que a maioria das vagas era para lecionar, e seguiu neste caminho. Quanto mais perto chegava de um diálogo igualitário com os alunos em termos de faixa etária, mais se encantava com a profissão. “Gostava do Ensino Fundamental, mas eu gostei mais do  de dar aula no Ensino Médio. Quando eu cheguei na universidade, eu gostava mesmo”, conta. Para ela, a troca e o diálogo são alguns dos pilares mais fundamentais da docência. 

Simone Pereira Schmidt, docente aposentada que atua como professora voluntária na UFSC (Foto: Laura Miranda/Apufsc)

Em 1994, Simone passou no concurso para ser professora na UFSC: “Não era meu plano morar aqui nem nada, mas eu super me entreguei, gostei desde o primeiro momento e fiquei, tanto que estou aqui há 30 anos”. Desde então, a universidade se tornou uma figura central na sua vida, o local em que fez sua carreira, amigos e onde suas filhas também tiveram toda a sua formação. “A vida inteira a gente ficou em torno e dentro da universidade”, afirma.

Motivações

No artigo Trabalho docente voluntário em uma Universidade Federal: Um estudo exploratório sobre motivações e relações de trabalho, que analisa o quadro docente na UFSC, os professores voluntários destacam que a opção pessoal deu-se, principalmente, pelo “interesse em continuar atuando na universidade em melhores condições”, “o interesse em continuar pesquisando”, “o prazer pelo trabalho/não querer parar de trabalhar” e “o apreço pela instituição”. Permanecer como docente e ter a vantagem da redução da jornada de trabalho também são motivos citados.

Simone relata o mesmo sentimento declarado pelos entrevistados do artigo, afirmando que, com a aposentadoria, tem maior liberdade para escolher em quais atividades quer se envolver e menos obrigações administrativas com a universidade. “Quando está na ativa tem que cumprir uma carga horária, tem que prestar contas, fazer relatório, fazer planejamento, estudar, não tem tempo nem para escolher, nem para pensar melhor onde é que tu tá querendo investir mais o teu desejo”, justifica. 

Nesse novo momento, ela decidiu, então, atuar nas pesquisas ligadas a gênero, feminismo, estudos raciais e estudos africanos. Para Simone, ajudar na construção dos debates em torno destas questões dentro da UFSC é o seu maior legado: “Nesta fase da minha vida, estou exercitando largar de lado a ideia da fama, sucesso e posteridade. Se trabalhou bem no que acredita está ótimo. As questões que acredito são também uma forma de ver o mundo, de querer mudar o mundo.”

Laura Miranda e Letícia Schlemper
Imprensa Apufsc