Simplificação grosseira ou desonestidade intelectual?

*Por Samuel Pantoja Lima

“Por isso somos quem somos
estrelas de um só momento,
mas cujo brilho ameaça
a ordem do firmamento”
(Manduka de Mello)

Sou parte do grupo de docentes, com menos de 10 anos de UFSC, ao qual o professor Julian Borba (do Departamento de Sociologia e Ciência Política) dirigiu seu texto “Relembrar para não repetir”, publicado neste espaço recentemente. Já no primeiro parágrafo salta aos olhos a tentativa de simplificação grosseira: todos e todas nós, que participamos do Movimento Docentes em Luta, que uniu corações e mentes na última greve docente em maio e junho de 2024, somos tratados pela categoria fake “andesianos”. Sim, o renomado cientista político tenta nos impingir este “selo”, que para ele é um demérito, mobilizando um recurso muito desgastado no debate público, mas que volta e meia funciona: a mobilização do medo e do ódio!

Ora, o colega finge ignorar que se trata de um Movimento, plural, diverso, fortemente marcado pela presença de colegas docentes com menos de 10 anos de universidade (erámos mais de 58% do quadro, no final de 2019), que conta também com a participação de lideranças históricas do movimento docente identificadas com o Andes, que merecem todo nosso respeito e afeto. Uma coisa bem importante (e óbvia) é que as duas chapas disputam, democraticamente, a direção do nosso sindicato (Apufsc-Sindical) e não as direções das entidades nacionais (Andes-SN e Proifes-Federação).

Recorrendo a histórias de “tresontonte” – ele fala de uma assembleia realizada há 17 anos, em maio de 2007 – o autor volta a atacar os supostos inimigos vermelhos, em sua fantasia batizados de “andesianos”, acusando-os de “assembleistas”, “basistas” etc. Outra vez, ressurge a opção de discutir a forma de votação (presencial ou eletrônica) ao invés de examinar o mérito do processo – se democrático ou antidemocrático, por exemplo. Na falta de propostas para defender a Chapa à qual ele assina o manifesto, o professor segue repetindo a cantilena e “malhando” o fantasma do passado.

A questão de fundo, que o colega não toca em nenhuma linha do seu texto, é a condução da última greve da categoria docente, as atitudes e práticas da direção do nosso Sindicato (que abandonou uma assembleia com mais de 400 colegas – presencial e online) para encaminhar a votação do final da greve, sem ter sequer aprovado a cédula na assembleia convocada para este fim. Mas, isso, no entendimento do articulista, não é “autoritário” e “antidemocrático”. Esses são vícios dos outros… A revisão dos Estatutos, que não contempla em nenhum parágrafo a possibilidade do exercício do direito de greve como recurso legítimo da categoria, se impõe para que não fiquemos reféns da diretoria de plantão.

No entanto, convém ressaltar, toda e qualquer mudança passará pelo crivo e decisão dos/as associados/as da Apufsc-Sindical, como por exemplo reavaliar a filiação nacional do Proifes-Federação, algo que foi decidido (o processo de debate) numa assembleia de greve com algumas centenas de colegas presentes, que foi solenemente ignorada pela diretoria do nosso sindicato.

Por fim, sobre a tentativa de nos impingir um rótulo político (“andesianos”?), considerando a notável estatura política e acadêmica do colega que assina o texto supra citado, como parte do público a quem ele endereça seu texto e um dos mais de 370 signatários do Manifesto em defesa do voto na Chapa 2 – Mobiliza Apufsc: Base, Democracia e Luta, sinto-me desrespeitado na minha condição de docente, cidadão e livre pensador! E me resta perguntar: simplificação grosseira ou desonestidade intelectual?

Às/aos colegas docentes da UFSC, reforço as palavras do nosso programa de ação sindical: “Se perguntarem quem somos, responderemos que fomos forjados/as nas e pelas lutas de professores e professoras da UFSC que se reconheceram na defesa da universidade e se organizaram em um coletivo denominado Mobilização Docente, de caráter independente, autofinanciado, de livre adesão, sem hierarquias e solidário”. Somos filhos e filhas da utopia!!! Segue a vida, e a luta!

*Samuel Pantoja Lima é professor do Departamento de Jornalismo da UFSC