Brasil ainda enfrenta barreiras para integrar a digitalização ao currículo escolar

Com grande parte dos colégios públicos sem acesso adequado à internet, cenário é árido. Mas há avanços nas conexões, segundo a Veja

Fundada há quase 120 anos no bairro do Belenzinho, em São Paulo, a Escola Estadual Amadeu Amaral possui paredes espessas de tijolos que atrapalham a transmissão do sinal de internet. Em 2022, em parceria com a ONG Instituto Escola Conectada e a empresa de telecomunicações Telium, o colégio recebeu um reforço na conexão wi-fi de uma das salas de aula, utilizada pelos 1060 alunos da instituição para acessar as plataformas digitais dos 200 notebooks e tablets disponíveis no local. “Eu tinha o equipamento, mas precisava de mais sinal de internet”, diz o diretor Donizetti Santos, que considerou o governo federal que prevê a integração de habilidades tecnológicas ao currículo escolar, desde a educação infantil até o ensino médio. A ideia é que os estudantes desenvolvam habilidades para lidar com o mundo digital, como raciocínio lógico e uso crítico das redes sociais. Na teoria, as redes de ensino tiveram até outubro de 2023 para implementar a nova diretriz em sala de aula — na prática, no entanto, o país ainda está distante dessa meta.

A principal barreira para a digitalização das escolas brasileiras é a falta de conectividade. Segundo levantamento da associação NIC.br, criada para implementar projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil, a partir de dados do censo escolar de 2023, das 13.8000 escolas públicas brasileira, 53 mil não contam com internet para uso pedagógico. A velocidade das conexões, em muitos casos, também deixa a desejar. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), apenas 81.500 escolas (cerca de 59% do total) operam com a velocidade de internet adequada, de 1 megabit por segundo por aluno. Além disso, o avanço digital também é prejudicado pela falta de equipamentos, com 79% dos professores da rede pública afirmando que a escassez de computadores impede a educação tecnológica nas escolas. “A maior demanda dos professores é entender como aplicar os recursos digitais na classe e como tratar de temas de cidadania digital”, diz Lia Glaz, presidente da Fundação Telefônica Vivo, que oferece cursos livres de letramento digital a educadores.

Com boa parte dos colégios públicos ainda desconectada, quem perde são os alunos e, num sentido mais amplo, o próprio país, já que o uso da tecnologia em sala de aula, quando feito corretamente, colabora para o avanço do ensino em vários níveis. Um estudo recente do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb) mostrou que existe uma correlação direta entre o uso de recursos tecnológicos e a aprendizagem dos alunos. No Piauí, o aumento do número de escolas com acesso à internet entre 2019 e 2023 foi acompanhado por uma melhora na nota dos estudantes em matemática. O município de Feliz Deserto, em Alagoas, viu um incremento de 17% no desempenho escolar no mesmo período em que conectou escolas da região.

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