Os eventos serão realizados no dia 7 de outubro, às 10h e às 14h, com transmissão pelo canal da entidade no YouTube
No próximo dia 7 de outubro, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realiza dois debates por ocasião do “Dia de Luta pela Democracia Brasileira”, com transmissão ao vivo pelo canal da entidade no YouTube, às 10h e às 14h. A data, celebrada em 5 de outubro – dia em que foi promulgada a Constituição de 1988 –, é uma oportunidade de reflexão sobre o período da ditadura militar e a importância da liberdade em contraste com o autoritarismo.
A primeira mesa, “Democracia, Ciência e Desinformação”, às 10h, abordará o papel crucial da ciência no combate à desinformação, uma das maiores ameaças à democracia contemporânea, segundo o Fórum Econômico Mundial. A abertura será realizada por Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC, com a coordenação de Claudia Linhares Sales, secretária-geral da SBPC. Participam como palestrantes Ana Regina Barros Rêgo Leal (UFPI), Thaiane Moreira de Oliveira (UFF) e Wilson Gomes (UFBA), que discutirão como a desinformação afeta as instituições democráticas.
A segunda mesa, às 14h, será também coordenada por Janine Ribeiro e trará a questão “A servidão voluntária de volta: por que tantos votam naqueles que vão lhes fazer mal?”. Os palestrantes Christian Dunker (USP) e Michel Gherman (UFRJ) irão explorar, à luz da filosofia e da psicanálise, o fenômeno da servidão voluntária e o impacto da extrema direita, tanto no Brasil quanto no cenário global, sobre eleitores que votam justamente em quem atua contra os interesses deles mesmos.
Em 2023, a SBPC, com o apoio de cerca de 100 entidades científicas e associações da sociedade civil, propôs a criação de uma data dedicada à luta pela democracia brasileira, para refletir sobre sua importância e seu papel na construção de um país livre, soberano e desenvolvido. A proposição dessa data foi inspirada no “Día Nacional de la Memoria por la Verdad y la Justicia” da Argentina. “A ideia surgiu depois dos graves golpes contra as instituições democráticas sofridos nos últimos anos, que mostraram o quão frágil esse regime ainda é no País. Precisamos deixar claro a todos os brasileiros, principalmente aos jovens, que os crimes praticados pelo Estado, em especial pelos que se apoderam dele para seus fins escusos, são inaceitáveis”, comenta o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro.
Na Argentina, desde o fim da ditadura militar a própria sociedade inverteu o sentido do dia do golpe, que se deu em 24 de março de 1976, e propôs a comemoração de um dia nacional pela verdade e justiça. Em 1988, a data foi fixada por lei pelo presidente Carlos Menem e, em 2006, o presidente Néstor Kirschner a transformou em feriado.
“A SBPC e as demais sociedades que colaboraram na ideia pretendem, com essa data, deixar clara para as pessoas a importância da democracia, no que ela consiste, além de mostrar que este é o regime mais ético que existe, pelo menos em nosso tempo. Não existe ética em qualquer regime que seja desrespeitoso com a vontade da maioria e com a igualdade de todos. Por isso, pretendemos mostrar em que consiste a democracia, além de contestar todos os elementos autoritários que ainda vigem a nossa sociedade”, argumenta Janine Ribeiro.
Para Claudia Linhares Sales, secretária-geral da SBPC, estabelecer um dia de luta pela democracia brasileira é chamar atenção para o fato de que cabe à sociedade civil, lutar e defender cotidianamente seu fortalecimento e o fortalecimento das instituições civis guardiãs desse regime. “Por isso, essa data deve ser um dia de debates, de educação, de reflexão. É um dia para lembrarmos que sem democracia não há dignidade, não há cidadania, não há direitos. E que os maiores problemas atuais do Brasil se aprofundaram, ou se consolidaram, durante os 21 anos da última ditadura militar no país. Vimos no dia 8 de janeiro de 2023 que as ameaças à nossa democracia são concretas. Espero que esse dia se consolide para que não vejamos mais dias como aquele.”
Fernanda Sobral, diretora da SBPC e professora emérita da Universidade de Brasília (UnB), comenta que o evento, além de ser uma oportunidade de discutir as várias dimensões da democracia, irá debater como a desinformação leva a população a submeter-se à perda de liberdade e cultuar o opressor. “O tema da primeira mesa-redonda, mostra que quanto mais os cidadãos são bem-informados, mais eles têm condições de participar da sociedade mais amplamente. É o princípio da própria cidadania. Enquanto a segunda mesa vai tratar da servidão voluntária em uma dimensão psicanalítica. No final, veremos que tanto a desinformação como a servidão voluntária dificultam uma participação cidadã na sociedade”, conclui Sobral.
Fonte: Jornal da Ciência