*Por Camilo Buss Araujo
Está em curso o processo eleitoral que decidirá a futura Diretoria do sindicato dos professores, Apufsc-Sindical. Por conta disso, cabe perguntar às chapas qual a posição delas em relação a alguns temas importantíssimos e que podem ficar obliterados por discursos genéricos sobre “democracia”.
A meu ver, uma das questões mais importantes é com relação ao sistema de votação adotado pela Apufsc: a votação eletrônica.
Durante o período de mobilização por reajuste salarial, os professores ficaram divididos com relação à deflagração ou não de greve. Não cabe aqui retomar os argumentos – legítimos, registre-se – de ambos os lados. O fato é que para um grupo de professores o sistema de decisão adotado pelo sindicato, a votação eletrônica, não refletia “a vontade da base”. Isso porque as assembleias eram tomadas majoritariamente por quem queria greve e, na hora da votação eletrônica, o resultado era muito mais apertado do que os ânimos dos encontros presenciais. O resultado desse entendimento foi o desrespeito à deliberação da categoria que votou por encerrar a greve no dia 24 de maio. Colegas, inconformados com o resultado das urnas, não reconheceram o resultado da votação porque, em última instância, a votação eletrônica era menos importante do que as reuniões presenciais.
É importante destacar que as duas entidades nacionais que representam os professores têm posições distintas sobre a forma de votação. O Proifes, que é uma federação de sindicatos autônomos, defende a adoção da votação eletrônica, enquanto o Andes-SN prega que as deliberações devem ser feitas em assembleias presenciais.
Para tomarmos como exemplo a recente greve dos professores federais, o Proifes, que conta com um total de 17,5 mil filiados em seus sindicatos, contou com a participação de cerca de 7 mil pessoas, ou 41,2%. Por outro lado, o Andes, que conta com cerca de 46,5 mil filiados (apenas docentes federais, excluindo os filiados de universidades estaduais, por exemplo) contou com a participação de pouco menos de 10 mil pessoas, ou 21,5%.
No caso da UFSC, a diferença entre os dois modelos fica ainda mais evidente. As maiores assembleias presenciais tiveram cerca de 300 pessoas, ou 10% dos filiados, enquanto a última votação que deliberou o fim da greve contou com a participação de mais de 1.500 votos, cerca de 50% dos filiados.
Quem teve estômago para frequentar as assembleias de greve pôde comprovar o quão insalubre é o ambiente para se estabelecer um debate com divergência de ideias. Quem se manifestava contra a greve era chamado de fascista. Quem defendia o governo era xingado de pelego. Quem pedia ponderação e respeito aos colegas era vaiado. No entanto, para alguns professores, aquilo era “a vontade da base”. Desconfio que, para alguns colegas da extrema-esquerda, “base” é o equivalente ao que os extremistas de direita dizem ser “povo”. Uns dizem “o sindicato tem que ouvir a base” outros dizem que “supremo é o povo”. A “base” consiste em pessoas dentro de um auditório que pensam da mesma forma, assim como o “povo” se expressa numa marcha dominical de verde e amarelo na Avenida Paulista. Subjaz um viés autoritário que ignora a polissemia. Polissemia interditada nos eventos presenciais, mas que aparece claramente na votação numerosa graças ao sistema eletrônico, que protege o eleitor do assédio e constrangimento das assembleias dominadas por apupos e xingamentos.
Ora, diante do fato de que uma das chapas, no caso a Chapa 2, tem apoiadores que endossaram essa perspectiva, cabe a pergunta às chapas: Qual a posição da chapa sobre a votação eletrônica na Apufsc-Sindical?
O sistema eletrônico de votação é uma conquista da Apufsc-Sindical e é preciso uma manifestação das chapas concorrentes sobre esse tema. Afinal, depois da agressiva experiência de mobilização docente de greve contra o atual governo, ficou evidente que, para alguns, o “assembleísmo” é mais importante do que o estatuto do sindicato. O filiado precisa saber como pensam as chapas para poder decidir sobre o futuro de sua categoria.
*Camilo Buss Araújo é professor de História e Estudos Latino-Americanos do Colégio de Aplicação e ex-vice-presidente da Apufsc