Iela tornou-se referência ao busca disseminar conhecimento e inspirar reflexões sobre o continente
O Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) completou 20 anos no mês de julho. Criado em 2004 com o nome de Observatório Latino-Americano (OLA), o projeto começou como um portal de notícias com foco na América Latina e tornou-se referência nacional em estudos sobre o continente.
O movimento surgiu com o desejo de integrar o conhecimento e as relações da América Latina. A expressão “Abya Yala”, denominação histórica do continente americano na língua indígena Kuna, tornou-se guia de uma jornada em direção à união.
O Iela nasceu em um momento de “interesse cosmético” na América Latina, explica Nildo Ouriques, presidente do instituto, professor de Economia na UFSC e atual diretora da editora da universidade (Edufsc). Além dele, participaram da criação do Iela a professora Beatriz Paiva e as jornalistas Elaine Tavares e Raquel Moyses.
“Toda universidade grande nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia, possui um centro de estudos, um instituto ou uma cátedra latino-americana e, aqui, nada. Hoje nós somos o único instituto de estudos latino-americanos em uma universidade brasileira”, afirma o professor.
No contexto de criação do Iela, outras universidades brasileiras apresentavam poucos exemplos de estudo aprofundado do tema. “[No Brasil] havia um programa de pós-graduação que era da USP, o Prolam, e havia o Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (Ilea) da UFRGS, mas que na prática não tinha estudo nenhum sobre a América Latina”, comenta Ouriques.
Das Jornadas bolivarianas aos cursos livres
Dos dias 6 a 8 de dezembro de 2004, mesmo ano de criação do então OLA, ocorreu a primeira edição das Jornadas Bolivarianas, evento anual que buscava agregar a intelectualidade latino-americana. Com o tema “Bolivarianismo e poder popular na Venezuela”, os dois dias da primeira Jornada foram marcados pela presença do então embaixador da Venezuela no Brasil, Julio Garcia Montoya, além do professor Luis Lander, da Universidad Central de Venezuela (UCV) e do professor Luiz Vicente Vieira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A realização das Jornadas Bolivarianas, que até 2020 acontecia anualmente, sofreu com a pandemia de covid-19 e não há previsão para retorno. O instituto agora decidiu focar em outros tipos de eventos. Em comemoração às duas décadas de existência, há atividades agendadas para setembro deste ano. A data ainda não está definida, mas o tema será “A questão nacional no marxismo e liberalismo”, com presença do antropólogo Antonio Risério. Outro evento está previsto para novembro, mas ainda sem tema confirmado.
Em busca da disseminação do conhecimento latino, o Iela também oferece cursos livres. Durante a pandemia, o módulo “O que ler para conhecer a América Latina” chegou a ter cerca de 6 mil alunos.
Valorização de autores latinos
Em 2012, o grupo lançou a coleção literária Pátria Grande, com o objetivo de divulgar no Brasil obras latino-americanas que, embora exitosas, não eram traduzidas para português. A publicação inédita mais recente por iniciativa do instituto foi “Guatemala, a democracia e o Império”, de Juan José Arévalo, ex-presidente da Guatemala. Comercializado pela Editora Insular, é a primeira obra do autor disponível no Brasil.
“A democracia é tão dura com a América Latina quanto a ditadura foi, porque os grandes autores não são publicados. Durante a ditadura, eles eram proibidos; hoje, são esquecidos, então nós temos que fazer isso”, opina Ouriques.
O professor também questiona como as universidades brasileiras concentram suas referências em intelectuais estadunidenses e europeus:
“A sociedade brasileira está exposta perante a mídia o tempo inteiro, e a ignorância sobre a América Latina cresce entre nós. O pensamento crítico aqui não é publicado. Existe um mundo latino-americano para ser conhecido”.
Ouriques também explica que existem interesses econômicos globais que impedem maior integração da região. “O fortalecimento da América Latina significa um conflito de mega intensidade com os Estados Unidos. Esse não é um projeto acadêmico, é um projeto político”.
O Iela hoje
Atualmente, o Iela tem uma equipe executiva composta por 10 pesquisadores permanentes, entre professores e estudantes Nildo Ouriques, Elaine Tavares, Maicon Cláudio da Silva, Waldir Rampinelli, Beatriz Paiva, Paulo Capela, Cristiane Sabino, Heloísa Teles, Camila Vidal e Dilceane Carraro. Além disso, outros estudantes de graduação, pós-graduação e professores compõem o quadro de pesquisadores temporários — que está em constante mudança.
Para participar do Iela, basta procurar um dos membros permanentes ou se inscrever diretamente em um dos projetos do instituto, que fica no primeiro andar do Centro Sócio-Econômico da Universidade Federal de Santa Catarina. O contato também pode ser feito pelo e-mail [email protected].
Imprensa Apufsc