Quem sabe não vamos perder a “ternura”

*Por Suzi Barletto Cavalli, Karine Simoni e Viviane Maria Heberle

Em uma democracia, a ideia de ser efetivamente democrático precisa ser “demandada pela base”. No caso de um sindicato de docentes de uma universidade pública, é fundamental que todas e todos sejam ouvidos. A Apufsc consolidou esse princípio em 2017, modificando seu Estatuto para realmente garantir a participação de todas e todos nas decisões da categoria. Até então, como sabemos, questões preeminentes eram resolvidas por uma quantidade ínfima de pessoas – o dito “assembleísmo”, assim chamada a prática segundo a qual as decisões sobre assuntos de interesse comum são tomadas apenas em assembleia. Esse, infelizmente, continua a ser a compreensão de muitas entidades: no 67º Conad do Andes-SN, realizado em Belo Horizonte entre 26 a 28 de julho de 2024, decidiu-se que as seções sindicais do Andes não devem aceitar qualquer espécie de votação eletrônica, fazendo valer apenas as decisões tomadas em assembleia. Assim, a militância do Andes, em assembleia, pode controlar os rumos do movimento, sem a necessidade de consultar a maioria. É isto um princípio democrático?

Em seu conceito mínimo, a base refere-se a todas e todos, mas será que essa terminologia não estaria “démodée”? Em uma pirâmide a base é o maior espaço horizontal, o que não significa que englobe tudo ou todos, ou mesmo pode não incluir a maior parte. Será que em 2024 não podemos chamar o nosso sindicato de inclusivo e de democrático, já que, pela votação eletrônica, estabelece uma nova forma de ouvir as/os docentes, de acordo com as demandas e necessidades no século XXI? Usamos a tecnologia de comunicação de várias formas e diretamente em nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão. O modelo de votação eletrônica está, inclusive, em pauta, via um abaixo-assinado de circulação nacional promovido pela UFRJ (filiada ao Andes), em defesa do voto eletrônico (e secreto) nas instâncias sindicais.

O grupo da Diretoria do sindicato é formado por professoras e professores que são legitimamente eleitos e trabalham de forma voluntária, sem deixar de cumprir suas demais obrigações que o serviço público docente exige. Também são eleitas as pessoas que formam a representação dos aposentados/as e aquelas que representam os departamentos da universidade, que, indicados pelos referidos colegiados, devem fazer a interlocução dos seus pares nas discussões do sindicato. Ou seja, as pautas levadas ao CR da APUFSC-sindical devem ser debatidas e deliberadas nos respectivos departamentos: assim é a forma da transparência e representatividade para com todos/as filiados/as. 

Como é de conhecimento de vários/as colegas, a Apufsc já passou por diversas mudanças, seja no estatuto, ou na forma de sindicalização. Já fomos filiados a entidades nacionais e também já fomos autônomos, e neste ano comemoramos, com orgulho, 13 anos de concessão da carta sindical da APUFSC. Vale lembrar que em 22 de julho de 2022, depois de longo tempo, com participação de convidados das duas entidades nacionais (Proifes e Andes) e após meses de discussão entre as/os filiadas/os, a votação eletrônica consolidou a opção pela filiação nacional ao Proifes-Federação. 

Já foi amplamente reportado neste e em outros espaços que, para mudarmos essa filiação, precisamos de um processo democrático, assim, devemos fazer no mínimo um percurso semelhante ao de outrora. Como vamos deixar a “base” decidir em uma única assembleia e subsequente votação sem conhecer a história da Apufsc e sua linha de tempo? Quantos/as colegas desconhecem essa história e podem ser logrados/as de saber e tomar a decisão de forma consciente? Os ataques ao Proifes-Federação, nacionalmente orquestrados e rigorosamente respondidos, tem um objetivo forte: renunciar à carta sindical, para poder voltar a ser uma seção do Andes. 

Por qual motivo tem-se pressa, por que razão quer-se evitar a discussão com a “base”, por que buscar mudar a filiação nacional alegando que o PROIFES não atende aos preceitos da categoria de professores e professoras em tempos de greve? Visto que a outra entidade (Andes) também assinou com o governo o mesmo acordo algumas semanas depois, não parece no mínimo estranha essa alegação?

A explicação já foi dada em outros momentos (https://www.apufsc.org.br/2024/07/25/nota-da-diretoria-atuacao-toxica-contra-a-diretoria-da-apufsc/  , https://www.apufsc.org.br/2024/08/08/nota-da-diretoria-8/https://www.apufsc.org.br/2024/06/06/aos-que-pedem-a-cassacao-da-diretoria/), mas resumimos a: o grupo que se denomina “Mobilização docente UFSC” tem tentado de todas as formas destituir a Diretoria da Apufsc, mesmo com a proximidade do processo de eleições para a nova diretoria. Talvez o objetivo seja estabelecer uma vitória no “tapete” da plenária, só com a suposta “base”, aproveitando-se do derradeiro calor do fim da greve. Enfim, teremos em breve eleições na Apufsc e elas serão democráticas e includentes; terão representatividade e vão manter o diálogo com toda a categoria.

Existem subsídios convincentes para a resposta às questões propostas e elas incluem desmobilizar a Diretoria, o CR, e demais filiados e filiadas preocupados/as com a história, com o presente e com o futuro do nosso sindicato. Aqueles e aquelas que se intitulam “Mobilização docente UFSC” não são majoritários na UFSC e nem no sindicato, e suas ações têm buscado, longe da construção de afetos, a ruptura do movimento sindical de professoras e professores da UFSC. Ouvimos estarrecidos/as, em uma das assembleias, que “o que importa não é o sindicato, o que importa é a luta”, mostrando que o objetivo maior é estabelecer o fim do movimento sindical construído por professoras e professores da UFSC. O modus operandi pautado em constantes acusações levianas, graves e infundadas (como a de que o vice-presidente não seria capaz de conduzir uma reunião, como a que a Diretoria usou dos recursos em vinhos e viagens, como a de que o vice-presidente teria uma psicopatia, como a que a Diretoria seria fascista) não pode ser chamado de respeitoso, menos ainda de afetuoso. Afeto se constrói no diálogo, e diálogo se faz com quem pensa de modo diferente; caso contrário seria monólogo. Um sindicato deve, por princípio, representar toda a categoria, não apenas sua minoria militante e engajada. As alegações segundo as quais a Diretoria não é receptiva por não acolher pedidos feitos à revelia, contrários ao Estatuto da Apufsc, ou que não existe diálogo com a categoria, são de tal modo falaciosos que por si só acabam mostrando as contradições de um movimento que se diz “democrático e inclusivo”. 

Como um grupo pode tomar para si o adjetivo “democrático” se resolveu manter a greve por mais de um mês, desrespeitando a decisão da maioria da categoria que havia optado por  encerrar a greve quando entendeu que as negociações com o governo haviam se encerrado?  Por que perseverar em uma greve com tão baixa adesão e com o beneplácito da administração central da universidade para, ao final, aceitar o mesmo acordo que o Proifes-Federação havia assinado um mês antes?

Por fim, queremos que os professores e as professoras continuem a trilhar os caminhos de um sindicato democrático, inclusivo e que continue a respeitar a todas e todos, mesmo no contraditório e nos momentos execráveis. A propósito de afeto, não nos esqueçamos que este é de fato uma qualidade, ou aspiração, que depende antes de tudo de alguns princípios, e que, felizmente, também pode ser aprendido, ampliado, construído nas práticas, e não nas palavras ao vento. Ouvir as perspectivas dos colegas com atenção e sem interrupções ou vaias, mesmo que não se concorde com a opinião exposta. Escolher palavras que promovam a colaboração e o respeito. Apreciar as diferentes perspectivas e experiências de cada um. Não fazer suposições levianas sobre como as pessoas devem se comportar. Agradecer às/aos colegas por suas contribuições, por menores que sejam. Reconhecer, respeitar e celebrar as escolhas e vitórias dos outros. Avaliar as próprias atitudes e comportamentos para garantir que se esteja cultivando um ambiente afetivo e respeitoso.

Esta Diretoria valoriza, retribui e agradece o afeto de cada filiada ou filiado que apoia os princípios democráticos, o respeito pelas diferenças e a educação. E defenderá, até o último dia de mandato, a história da Apufsc e o princípio de que a maioria é que deve decidir o presente e os futuros rumos das nossas vidas de trabalho na universidade. Não nos deixem perder a “ternura” no movimento sindical, a convivência humana e o respeito entre colegas.

*Suzi Barletto Cavalli é professora aposentada do departamento de Nutrição da UFSC e membro da Diretoria da Apufsc-Sindical, Karine Simoni é diretora Financeira da Apufsc e Viviane Maria Heberle é secretária-geral da Apufsc