*Por Armando Lisboa
“Para ser bem sucedida, a mentira deve ser enorme” (Hitler)
Ocorreu em 22 de julho Assembleia Geral Ordinária da Apufsc. Estatutariamente, ela se realizaria anualmente em abril para apreciar o “plano anual de trabalho da Diretoria, prestação de contas do exercício anterior e diretrizes gerais propostas pelo Conselho de Representantes e pela Diretoria”.
Mais que defasada em três meses, salta aos olhos uma AG convocada para a acanhada sala de reuniões na sede campus do sindicato. Uma forma ordinária de tratar uma assembleia e uma categoria com mais de três mil sócios, ou um modo de incentivar a participação virtual?
Todavia, o ponto mais inapropriado da convocação é o da apreciação das “diretrizes gerais propostas pelo Conselho de Representantes”. Ocorre que a Diretoria nunca convocou o CR para este formular diretrizes. Portanto, inexistiam diretrizes propostas pelo CR, apesar deste ponto constar na pauta… Por outro lado, é bizarro que a Diretoria apresente um “plano anual de trabalho” a cerca de dois meses de encerrar sua gestão…
A Diretoria possivelmente não contava com o comparecimento de sócios à AG. Surpreendendo a mesma, cerca de quarenta docentes dela participamos, mesmo bastante apertados, ao longo de mais de duas horas.
Ocorre que a dedicação destes colegas foi avaliada pela Diretoria como “tóxica”: teríamos criado “toda espécie de dificuldades e subterfúgios” para não aprovar as contas e o plano anual de trabalho. Uma narrativa completamente esdrúxula, maldosa e danosa, como se constata assistindo ao vídeo da AG. Vejamos as falas de dez destes colegas.
A AG inicia-se (aos 30 minutos, em segunda convocação) com a análise do parecer do Conselho Fiscal (CF) sobre as contas de 2023. O prof. Paulo Rizzo (31:45) se manifesta e realça que o parecer é assinado, em abril de 2024, por um CF com mandato vencido desde outubro do ano passado. Observando que aquele parecer não tem validade jurídica, sugere que os membros do atual CF, caso estejam presentes, assinem o mesmo para que possamos apreciar.
38:00: Marcos, contador da Apufsc, inicia a apresentação das contas dando razão à intervenção do prof. Rizzo: é equivocada a prática de aprovar as contas com base em parecer do antigo CF.
54:34: Prof. Marco Rodrigues lembra que o documento com as contas apresentado na AG não foi publicizado anteriormente, ainda que datado de abril. O mesmo o faz o prof. Tiago Montagna (1:01:30).
Em resposta, os diretores Adriano Duarte e Karine Simoni (1:09) afirmam que não se lembram que alguma Diretoria anterior tivesse publicado o Balancete: “a gente nunca fez”, afirma-se taxativamente.
1:10:39: Rizzo esclarece que a tradição na Apufsc era publicar o Balancete no Boletim.
1:13:20: Prof. Romeu Bezerra, diretor do Proifes, desdenha da discussão, como se a mesma fosse uma questão de “vírgula e ponto e vírgula”, sugerindo logo passar para o ponto seguinte da pauta.
1:14:15: Prof. Adriano, que preside os trabalhos, sugere esperar o parecer de uma auditoria já contratada pela Diretoria, que em breve estará pronto, e, acatando encaminhamentos propostos, então fazer uma nova AG para aprovar as contas.
1:19: Com a sugestão aprovada por todos, passou-se para o segundo ponto da pauta: Plano Anual de Trabalho e Diretrizes do CR, apresentado por Adriano até 1:31:05.
1:31:41: Profa. Mailiz Lusa lembra que este Plano não passou pelo CR. Na sequência analisa que o mesmo tem por eixo os direitos humanos, dos quais nenhum dos presentes discorda. Todavia, “deixou os pontos da organização sindical em segundo plano”. Pontua ainda que a exceção que materializa a função sindical, o “Seminário sobre carreira” (ponto 11, último ponto do Plano), é exatamente o único item do Plano que adveio do CR.
1:33:24: Prof. Samuel Lima pondera que o Plano apresentado configura “uma agenda de trabalho da Diretoria”. Entende ainda que o ponto 10 (“preparar e organizar as eleições da Apufsc”) é uma atribuição estatutária do CR, e não da Diretoria, devendo ser suprimido. Alerta ainda que o item 9, da forma como está proposto – “por sugestão de alguns Diretores de Centro” – subentendendo quem são os “alguns”, pode transformar a Apufsc em plataforma de oposição à Reitoria. Pondera que o papel do sindicato é escrutinar as nossas condições de trabalho para compor uma pauta de ação na UFSC, e assim dialogar com a Reitoria, e não vitaminar esta ou aquela candidatura em futuras eleições.
1:36:10: Prof. Mauro Titton também entendeu que não se trata de um “Plano Anual de Trabalho” mas de um conjunto de atividades para o que resta de mandato da Diretoria. Também considerando que o CR não elaborou “diretrizes”, encaminha voto contra a aprovação do mesmo. Observa que a não aprovação não impede que a Diretoria faça as atividades ali elencadas, pois são atividades que estatutariamente não dependem de aprovação da AG.
1:39:30: Entendendo que o Plano proposto “está invertido”, o prof. Lino Peres sugere que o mesmo inicie com os itens específicos da ação sindical na UFSC, “pois é isto que nos caracteriza”. Somente após viriam os relativos aos direitos humanos.
1:44:30: Prof. Paulo Horta lembra que, com a proximidade das eleições municipais, é momento da Apufsc participar mais intensamente em nossa sociedade e fazer “valorizar a UFSC e o trabalho docente”.
1:46:20: Profa. Carla Paza entende que qualquer docente, inclusive diretores de centro, pode sugerir pautas para a Apufsc levar adiante. Mas, partindo do Estatuto, é o CR, como instância de representação, o lócus onde se deve canalizar estas propostas e avaliar as pautas de ação do sindicato. Alerta então para ter cuidado com o papel do CR, o qual tem sido negligenciado pela Diretoria nos últimos tempos, “inclusive cancelando reunião em cima da hora. Se a Apufsc não ouve seu CR, que dialoga com os representados, não há diálogo com a base”.
1:50:50: Profa. Carmen Müller critica que o ponto 9 (“formar comissão de estudos sobre as condições de trabalho”) foi incluído “por sugestão de alguns diretores”. Questiona “qual foi o critério para escutá-los” em detrimento dos demais associados? Considera politicamente perigoso para um sindicato priorizar uma pauta de ação “por sugestão de diretores.” Acrescentou que “fiz greve por condições de trabalho dignas. Não precisava de um Diretor de Centro vir dizer ao sindicato, se o sindicato tivesse me escutado”.
2:01:26: Prof. Titton afirma que “democracia se expressa no respeito às instâncias. E este sindicato tem instâncias para as coisas serem colocadas”. A diretoria, sabendo que haveria uma assembleia que pautaria diretrizes do CR, o mínimo que se espera é que convoque, com esta pauta, uma reunião do CR, para que este tenha espaço para formular diretrizes…
Ao final¹ (2:13:33), prof. Adriano coloca em votação, retirando o ponto 10 (“eleições para Diretoria”), pois usurparia competência do CR. Por 31 a 12, a assembleia rejeita o Plano Anual de Ação e Diretrizes.
Após o término da assembleia e numa conversa pessoal, Adriano elogia generosamente Rizzo por colaborar construtivamente para o bom andamento dos trabalhos. Todavia, para o conjunto dos sócios a Diretoria inventa e difunde aos quatro ventos outro jogo. A nobre e zelosa entrega à vida sindical docente, de qualidade impecável como constatado nesta AG, ao invés de ser louvada e premiada, é aviltada ao ser retratada “como método” onde impera “a falta de respeito, mentiras e distorções”…
A Diretoria, ao trair, de forma descarada, os fatos transcorridos na AG, envenena e corrompe o tecido sindical da UFSC. Como bumerangue, sua demonização histérica de um grupo a gerar “cizânia” e “ação destrutiva” desnuda antes seu próprio ordinário modus operandi.
¹Algumas falas e situações transcorridas na etapa final desta AG já trouxe no artigo anterior, não cabendo aqui repeti-las.
*Armando Lisboa é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais do Centro Socioeconômico (CNM/CSE) da UFSC e ex-diretor da Apufsc-Sindical (2006-2010)