Evento acontece no auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos, até esta sexta-feira, dia 2
A 13ª edição do Seminário Internacional Fazendo Gênero teve sua abertura oficial na última segunda-feira, dia 29, com a conferência da escritora, ativista e acadêmica nigeriana-britânica Amina Mama, no auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no Campus de Florianópolis da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Aberto com a apresentação de sons e danças de matriz africana além de um ritual indígena, o evento valorizou a diversidade e caráter democrático do seminário. A Apufsc-Sindical é apoiadora do Fazendo Gênero.
A mesa de abertura contou com a presença e falas da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves; da diretora de Políticas e Programas de Educação Superior da Sesu/MEC, Ana Lúcia Pereira; do reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza; da vice-reitora Joana Célia dos Passos; do reitor e da vice-reitora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), José Fragalli e Clerilei Bier; do reitor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Maurício Gariba Júnior; da representante dos movimentos sociais Letícia Borges de Assis; da coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da UFSC, Teresa Kleba, e da comissão organizadora do evento, formada por Alexandra Alencar, Alinne de Lima Bonetti, Débora de Carvalho Figueiredo e Janyne Sattler.
Em sua fala, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, citou a pandemia de covid-19 enfrentada pelos brasileiros. “Perdemos 750 mil pessoas e até hoje não fomos capazes de viver o luto”, disse a ministra. Para ela, a volta do Fazendo Gênero simboliza o retorno da ciência, da pesquisa, do estudo. “Representa a volta do Brasil, a volta das mulheres que nunca desistiram deste país. Nós voltamos mais maduras, mas temos que enfrentar o fascismo todos os dias da nossa vida”. Ela citou alguns avanços já alcançados, mas ainda não garantidos, com a Lei da Igualdade Salarial entre homens e mulheres.
Tema do evento é citado pela ministra
“Nós não estamos lutando contra o fim do mundo, estamos lutando contra o mundo que eles criaram e nos deixaram. Nós estamos construindo um novo mundo, de solidariedade, de respeito, de pensamento e ciência”, disse a ministra. O tema do Fazendo Gênero deste ano é contra o fim do mundo. A ministra afirmou que a sociedade não pode aceitar a violência política de gênero, que tenta cassar o direito à voz das mulheres. E também precisa rejeitar a violência física, representada pelo aumento dos casos de feminicídio. “Nós queremos construir um país sem ódio, sem violência”, afirmou Cida Gonçalves.
O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, após saudar os presentes, abordou a conjuntura e os desafios para o funcionamento das universidades públicas. “De fato, as universidade federais de todo país nos últimos anos foram muito prejudicadas, mas resistiram e permanecem como grande esteio da nossa sociedade.” O reitor apresentou números da UFSC e suas posições em rankings nacionais e internacionais de educação, para em seguida abordar algumas diretrizes da gestão.
“A nossa reitoria, Irineu e Joana, defende o caráter democrático e inclusivo, a ampliação de políticas de ações afirmativas e equidade de gênero”, disse o reitor, lembrando que o primeiro escalão da Administração Central tem paridade entre mulheres e homens. O professor Irineu mencionou ainda que o Conselho Universitário da UFSC aprovou uma política antirracismo e que existem outras políticas em construção.
“As universidades públicas são o maior patrimônio da sociedade, responsáveis pela formação de quadros profissionais, responsáveis pela geração de novos conhecimentos que contribuem para o desenvolvimento regional e nacional. A nossa tarefa aqui na UFSC. no dia a dia, é reconstruir a Universidade. Temos consciência da importância da UFSC e da sua relevante função social para o nosso Estado, para o Brasil e para o mundo”, reforçou.
Vice-reitora ressaltou caso específico ocorrido em SC
A vice-reitora, Joana Célia dos Passos, cumprimentou as autoridades da mesa, a equipe que coordenou e as pessoas que estão participando do Fazendo Gênero. Também lembrou das mulheres que iniciaram o evento, 30 anos atrás, e “aquelas que estão aqui e aquelas que já foram para outro plano”. O ponto central da fala da professora Joana foi a situação vivida por Sônia, mulher negra, surda e sem escolarização que foi encontrada em situação análoga à escravidão na casa de uma autoridade do Judiciário catarinense. “O Fazendo Gênero também é sobre Sônia, e sobre tantas outras Sônias que têm os seus corpos negros aprisionados”.
Teresa Kleba, coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero da UFSC, agradeceu a todas as pessoas que trabalharam na organização do evento, citando que mais de 200 pessoas distribuídas em 21 comissões se empenharam durante mais de um ano no planejamento do evento, e afirmou que a realização total envolvia cerca de 500 pessoas.
Em seguida, foram ao palco a professora Débora Figueiredo, do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (LLE) da UFSC, a professora Amina Mama, principal conferencista da noite, e professora do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Andréa Gill, que fez a tradução da saudação inicial de Amina aos presentes.
Palestra de Amina abordou diáspora negra e lembrou conflito atual
Depois houve a palestra de Amina no evento. Ela leu um texto em inglês, enquanto a tradução para o português foi exibida no telão do lado direito do Garapuvu em tempo real. A conferência explorou a genealogia anticolonial do feminismo no mundo colonizado e ex-colonizado com foco no continente africano, o lar ancestral de mais de 20,6 milhões de brasileiros e o lar da maior diáspora negra, criada pela Passagem do Meio. Amina começou o discurso denunciando o que considera “genocídio palestino na Faixa de Gaza” e deu ênfase ao papel dos feminismos negros e do sul global em responder às epistemologias hegemônicas de violência e acumulação que têm conduzido o patriarcado neoliberal no presente. Durante a fala, a ativista levantou o punho fechado e bradou: “Somos todos palestinos! A Palestina será livre!”
Sobreviver a esse contexto, de acordo com Amina Mama, não é uma questão de escolha. “Se você é uma mulher e sobrevive, você tem coragem. E se você sobrevive intacta, você tem ainda mais coragem, coragem para se curar e coragem para continuar”. Para ela, construir redes é a estratégia de sobrevivência. “Um indivíduo simplesmente morrerá. Se você olhar para isso como um indivíduo, você morrerá, então você precisa formar coletivos para transformações. É o que nos mantêm alimentados, inteiros e felizes, porque o mundo é difícil.”
O Fazendo Gênero 13 segue até sexta-feira, dia 2, com diversas atividades nos campi da UFSC e da Udesc. A programação pode ser acessada no site do evento.
Fonte: Notícias UFSC