Breve análise sobre a celeuma da Proifes sob o ponto de vista de quem pegou o bonde andando

*Por Tiago Montagna, com colaboração de Tatiana Minchoni, Carmen Maria Olivera Müller e Jorge Wolff

A Apufsc deve seguir filiada à Proifes? Esta questão tem muitos desdobramentos e é, ela própria, resultado de embates antigos em nossa Universidade. Muitos/as/es de nós docentes, inclusive os/as/es que subscrevem este artigo, não vivenciaram a história que culminou com a desfiliação da Apufsc junto ao Andes, mas aqui estamos desde os anos de sindicato independente ou vivenciando os resultados da filiação da Apufsc à Proifes. Neste sentido, a greve docente na UFSC prestou um grande serviço à nossa categoria ao escancarar a questão que inicia este artigo. Vamos tratar, nesta breve análise, justamente de como muitos/as/es de nós, que pegamos este bonde andando, percebemos toda esta situação.

Para início de conversa é importante rememorar algumas ações da atual diretoria da Apufsc durante a greve docente, ocorrida entre os dias 7 de maio e 18 de junho deste ano, dada a relevância que a Apufsc possui dentro da composição do Proifes. A convocação de assembleias não parece ser o forte da atual diretoria. Mesmo com a greve docente crescendo no país a partir de março deste ano, aqui na UFSC a categoria docente precisou arrancar, na marra, assembleias para discutir a conjuntura e decidir se deflagraríamos ou não a greve. Uma vez a categoria tendo decidido pela greve, precisou aguardar uma reunião do Conselho de Representantes da Apufsc (CR) para ter sua primeira assembleia já em greve.

Nesta reunião do CR, a título de “inovação política”, a diretoria propôs que o Comando Local de Greve (CLG) fosse constituído a partir da composição do próprio CR. A “inovação” foi tão incompreendida que acabou rejeitada e o CLG foi então definido em assembleia, com ampla participação da própria diretoria em sua constituição, de modo consensual e democrático, como, aliás, deve ser. Importante lembrar que a assembleia é soberana e que a constituição de um CLG implica na dissolução da autoridade da diretoria do sindicato no que diz respeito à condução do movimento grevista.

Na sequência dos acontecimentos, com uma proposta do governo que era pior do que a que já estava em pauta, um grupo de docentes (muitos/as/es dos/as/es quais nem em greve estavam) convocou uma assembleia para discutir a saída da greve. Greve esta recém-iniciada e em plena construção, com ampla mobilização da categoria, incluindo diferentes atividades como rodas de conversa, debates e, inclusive, assembleias com o objetivo de analisarmos e compreendermos coletivamente o que estava em questão, isto é, tanto as pautas que nos mobilizam, quanto as demandas locais e nacionais. Estimulando a saída da greve e priorizando o posicionamento daqueles que não aderiram ao movimento e solicitavam o fim da greve, a diretoria da Apufsc teria conduzido, na opinião de docentes com mais tempo de casa, uma de suas atuações mais vergonhosas. A diretoria, ao ver que seria derrotada em sua proposição de condução e cédula, simplesmente se retirou da mesa e declarou a assembleia encerrada. Fora isso, o show de horrores incluiu a rejeição de sucessivas questões de ordem, presença de advogado na mesa e diretores arrancando cabos, microfones e encerrando a transmissão para os campi, dentre outros (quem tiver estômago pode ver ou rever a assembleia de 21 de maio aqui).

À revelia da diretoria fujona, docentes presentes na assembleia a reorganizaram de imediato como assembleia de greve, a qual continuou e deliberou contra a proposta do governo e por uma cédula para votação online. A ata da assembleia foi entregue à diretoria da Apufsc, mas solenemente ignorada. A direção iniciou, no mesmo dia da assembleia em questão, uma consulta online com cédula não aprovada pela categoria. Por fim, com o resultado da votação online, maculada desde o início pelas ilegalidades apontadas, o presidente da Apufsc sentou-se, a portas fechadas, para assinar um acordo que a categoria havia rejeitado por unanimidade na assembleia da qual se retiraram, além de já haver rejeitado tal proposta em Assembleia Permanente de Greve realizada no dia anterior, em 20 de maio de 2024. O presidente do sindicato de professores da UFSC precisava assinar, pois à época a Proifes nem registro como federação possuía, ou seja, não teria condição legal de assinar aquele acordo. Daí em diante, a diretoria passou a criminalizar e boicotar a greve que prosseguiu na UFSC, num nítido desrespeito à categoria. É digno de observação que as “criminalizadas” assembleias e CLG impulsionaram a filiação de uma quantidade importante de docentes à Apufsc, superando a diretoria em muito neste quesito. Entre abril e julho de 2024, ocorreram em torno de 300 filiações à Apufsc (cerca de 10% do total de filiados em quatro meses), a maioria delas em assembleias e movimentos de convencimento realizados pelo CLG “ilegal” (ver, a propósito, o texto Greve Selvagem, de Alexandre Nodari, publicado antes neste mesmo espaço, aqui). Enfim, daria para seguir elencando outras ações de desrespeito à categoria por parte da diretoria, mas, por ora, basta.

Pois bem, se a pergunta inicial tem a ver com a Proifes, por que abordar as práticas da gestão? Porque é aqui que chegamos no argumento principal desta análise: atualmente a diretoria da Apufsc não mais se submete (ou nunca se submeteu) à categoria, mas à direção da Proifes. A prova cabal disso é que práticas iguais ou semelhantes às que vimos aqui na UFSC também foram utilizadas em outras Universidades, justamente aquelas com sindicatos filiados à Proifes (Adurn, Apub, Adufrgs, ADUFG e Sindiedutec-PR) e sempre no sentido de conter a deflagração do movimento grevista. Ou seja, de cima para baixo, sem respeito à base, a Proifes utilizou-se de diretorias subservientes para conseguir seu objetivo: dar fim à greve a qualquer custo. Esse conjunto de ações desrespeitosas culminou em campanhas de desfiliação nos sindicatos base da Proifes, inclusive aqui na UFSC, bem como em uma campanha intitulada “Não em nosso nome”, que visa denunciar a atuação pelega desta federação.

Percebam, colegas, que não há necessidade de nenhum “andesiano malvadão” doutrinando docentes incautos/as/es para que o argumento do parágrafo anterior seja percebido e comprovado. Basta, apenas, abrir os olhos e os ouvidos para o que se passa neste momento com a diretoria da Apufsc e com as outras diretorias de sindicatos filiados à Proifes. O desrespeito com a categoria é escancarado, com a cereja do bolo sendo a malfadada assembleia do dia 21 de maio, convocada no dia seguinte à assembleia legítima chamada pelo CLG no dia anterior, a fim de desmobilizar e deter o movimento grevista na UFSC.

Se avizinham, portanto, discussões cruciais sobre a continuação da filiação da Apufsc à Proifes, isto se a diretoria não resolver novamente “inovar” em suas práticas políticas, inviabilizando assembleias para discussão do tema. Assim, gostaríamos de conclamar todos/as/es docentes, mas, em especial, aqueles/as/es com menos tempo de casa para que se somem a essas discussões. Várias “caras novas” apareceram no movimento docente durante as assembleias de greve e o funcionamento do CLG, fato que precisa ser saudado e mantido, mas, sobretudo, expandido.

E, para não deixar a pergunta inicial sem resposta, cumpre dizer o óbvio: não, a Apufsc não deve permanecer filiada à Proifes. As experiências destes pouco mais de dois anos de filiação são por demais negativas às reivindicações mais básicas da categoria para que se decida manter a situação como está.

A luta continua.

*Tiago Montagna é professor do FIT/CCA, Tatiana Minchoni é professora do PSI/CFH, Carmen Maria Olivera Müller é professora do CAL/CCA e Jorge Wolff é professor do DLLV/CCE, todos da UFSC