*Por Raul Valentim da Silva
A teoria que vincula a origem das espécies vivas a processos de seleção natural foi devidamente sepultada há cerca de cem anos atrás. Excepcionalmente é possível, em situações muito particulares, apresentar alguma possibilidade deste tipo de vinculação. Mas, considerando a existência atual de milhões de diferentes espécies e dos outros milhões de espécies que já foram extintas, essa teoria só pode perdurar em contextos de dogmatismo antirreligioso.
A alternativa utilizada por cientistas ateus é a vinculação da criação das espécies a processos de mutações genéticas aleatórias. O texto a seguir apresenta argumentações lógicas contrárias a este posicionamento. Isto não significa que o autor esteja propondo a tese de uma ciência teísta. Dada a impossibilidade de constatar cientificamente a inexistência de um Criador da vida, a proposta é de adoção de uma ciência agnóstica que possa admitir a existência desta Entidade.
Neste texto, o Criador representa um ente ou entidade, sem qualquer conotação religiosa, responsável pela idealização e criação do universo, incluindo suas ciências naturais e as suas interações fundamentais (gravidade, eletromagnetismo e forças nucleares forte e fraca), e da vida na Terra, incluindo a sua diversidade, sistemicamente organizada, e as capacidades humanas diferenciadas. A teoria da evolução dos seres vivos não está sendo questionada.
Os processos de reprodução dos mamíferos (5420 espécies descritas) iniciam-se nos gametas complementares de seus pais. Os cães formam uma única espécie com mais de 400 raças. A espécie dos gatos domésticos apresenta mais de 70 raças. Existem múltiplas formas de acasalamento nos mamíferos, mas apesar da grande diversidade observada, a reprodução efetiva está restrita a cada uma das espécies.
Existem mecanismos naturais restritivos, que não podem ser atribuídos a causas aleatórias, que conseguem manter a identidade específica de cada espécie. O número de óvulos fecundados nos acasalamentos é limitado e adequado ao número de crias que cada mãe pode ter na respectiva espécie, mesmo quando ocorrem múltiplas fecundações. O número de mamas, em cada uma das 5420 espécies de mamíferos, está devidamente vinculado com esta limitação de sua prole.
Os acionamentos do respectivo sistema de lactação e de todo o processo de gestação, quando ocorre a fecundação dos óvulos, específicos de cada espécie, também não são compatíveis com uma geração aleatória, resultante de um gradativo processo de mutações genéticas. As múltiplas compatibilidades na gestação entre a mãe e os respectivos embriões e as especificidades do leite, proveniente de diferentes alimentos, com todos os nutrientes necessários em cada espécie, exigem uma criação proposital.
Cada zigoto, resultante da fecundação de um óvulo, comanda todo o processo de desenvolvimento do embrião, utilizando saberes específicos de física, química, matemática e biologia que vai utilizar durante toda a vida da cria. Precisa saber como vai alimentar-se para crescer e poder se reproduzir. Precisa saber desenvolver todo o seu sistema visual, com as especificidades de sua espécie. Seus genes vão criar seus múltiplos sistemas orgânicos indispensáveis para sua sobrevivência. Tudo isto é incompatível com uma geração aleatória.
O desenvolvimento harmonioso de ossos, músculos, cartilagens, tendões e ligamentos específicos em cada articulação de cada espécie de mamífero, durante o processo de crescimento, pode bem evidenciar a necessidade de conhecimentos científicos avançados em cada genoma. Todos estes saberes foram inseridos no respectivo processo de criação. Cada articulação tem propósitos, vinculados a movimentos necessários para a sobrevivência, que são incompatíveis com uma criação aleatória.
*Raul Valentim da Silva é professor aposentado do CTC/UFSC