UFSC é reconhecida com selo ‘Todos Nós’ por compromisso com inclusão de pessoas autistas

A UFSC é a primeira universidade pública brasileira a receber o selo

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi reconhecida com o selo “Todos Nós”, concedido pela Associação Nacional para Inclusão de Pessoas Autistas (ANIA), nesta quarta-feira, dia 19. A certificação foi entregue durante o III Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior, e representa um reconhecimento pela implementação de ações para a inclusão plena dentro da instituição.

A entrega do prêmio ocorreu em uma solenidade na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) e foi transmitida ao vivo pelo YouTube. O vídeo está disponível na íntegra.

Bianca Souza, coordenadora de Acessibilidade Educacional da UFSC e Leslie Sedrez Chaves, pró-reitora de Ações Afirmativas e Equidade recebem o selo ‘Todos Nós’ em nome da UFSC.

A UFSC é a primeira universidade pública brasileira a receber o selo, que, segundo Leslie Sedrez Chaves pró-reitora de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe) da UFSC, “coroa e reconhece um trabalho que é realizado há mais de 10 anos pela Coordenadoria de Acessibilidade Educacional (CAE) e se consolida ainda mais nesta gestão”. A estrutura integra a pró-reitoria.

“Dificilmente a gente encontra uma instituição que esteja pronta. Mas a gente vê muitas instituições comprometidas, que estão nessa mesma luta conosco, que fazem um trabalho que a gente compartilha as aspirações, os valores, os sonhos”, disse Guilherme de Almeida, presidente da ANIA.

Bianca Souza, coordenadora da CAE, explica que, para a equipe de cerca de 30 pessoas entre servidores, estagiários e trabalhadores terceirizados, o selo “Todos Nós” é de extrema relevância e deve ser assimilado como compromisso não só para sua coordenadoria como para toda a UFSC. “A acessibilidade é para todos. O atendimento de estudantes com deficiência não é responsabilidade só da CAE, é de toda a Universidade. Essa é a primeira barreira que precisa ser rompida: compreender o estudante com deficiência como um estudante que merece respeito, parte da Universidade que merece ser visto com um olhar inclusivo, empático, acolhedor, respeitoso, assim como qualquer outra pessoa da comunidade”. 

Para promover essa visão, a CAE aposta na formação e capacitação dos profissionais que compõem o quadro técnico e docente da UFSC, para que qualquer setor possa promover um atendimento qualificado a qualquer pessoa. “O capacitismo é estrutural, e precisa-se romper com ele em todos os espaços”, reforça a coordenadora. 

Segundo o levantamento da CAE disponível no site, nos cursos de graduação da UFSC há 103 estudantes autodeclarados como neurodivergentes (dados do semestre 2023.2). Esse número pode ser maior, explica Bianca, pois muitos não ingressaram pelo sistema de cotas para pessoas com deficiência, ou não se autodeclaram autistas no momento da matrícula. O número de estudantes de graduação da UFSC com alguma deficiência saltou de 91 pessoas em 2014 para 545 pessoas em 2024, segundo o mesmo levantamento da CAE. 

Bianca e Leslie recebem, em nome da UFSC, o selo ‘Todos Nós’ das mãos de Guilherme de Almeida, presidente da Associação Nacional para Inclusão de Pessoas Autistas.

O atendimento das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não segue um protocolo fixo, conforme explica Bianca. “Mesmo quem não é autodeclarado é atendido pela CAE. Basta nos procurar, fazemos uma entrevista para entender a necessidade individual”, conta. “Cada pessoa tem sua própria história, sua trajetória, a maneira de lidar com a sua condição. Sempre que chega um estudante à CAE, apresentamos o nosso trabalho, e buscamos junto com a pessoa identificar as suas demandas, encaminhando também junto ao curso, se o estudante permitir”, detalha.

“Fazemos o acompanhamento desde antes do início das aulas, realizando a ambientação, levando o estudante e sua família para conhecer os espaços da UFSC que a pessoa irá frequentar. O ensino superior exige autonomia que às vezes os estudantes com TEA ainda não têm, e as famílias podem sentir essa insegurança. Então nosso trabalho é voltado para que todos se sintam mais seguros e autônomos, como adultos confiantes e protagonistas de suas próprias histórias”, salienta a coordenadora.

Junto ao curso, a CAE trabalha com a orientação de docentes e técnicos, para que a Universidade possa oferecer o suporte adequado aos estudantes. “Em sala de aula pode ser que a pessoa precise de um acompanhamento pedagógico, auxílio com as tarefas educacionais. Outros só precisam da articulação da CAE com os docentes para promover a equidade, seja na concessão de mais tempo, prazo, antecipação das demandas para que o estudante não seja surpreendido com provas e trabalhos não planejados. Eventos assim causam desestabilização para o estudante neurodivergente, então vamos orientando, sempre respeitando o desejo e a autorização do estudante”, complementa. 

Trabalhadoras da CAE/PROAFE estavam presentes na entrega do selo ‘Todos Nós’.

Bianca reforça que toda ação junto a terceiros (pessoas fora da CAE) depende da autorização expressa do estudante. “Se a pessoa com deficiência não quer que informemos sobre sua condição, não iremos informar. No entanto, o curso ou os docentes podem sempre encaminhar suas solicitações para a CAE acompanhar algum caso mais de perto”, ressalta.

A Coordenadoria de Acessibilidade Educacional é formada por uma equipe multiprofissional que envolve servidoras técnico-administrativas que são pedagogas, fonoaudióloga, assistentes sociais, intérpretes de Libras, psicóloga e assistente em Administração; além de estagiários e profissionais terceirizados, que são cuidadores e intérpretes de Libras. A maior parte da equipe de trabalhadores atua no campus Florianópolis, onde também se concentra a maior parte da demanda. Os outros campi são atendidos à distância, mas também através de visitas agendadas e com o trabalho de estagiários e terceirizados alocados nas unidades. Porém, ainda é necessária a ampliação deste atendimento, o que se impõe como um dos maiores desafios da instituição. 

“O atendimento aos estudantes com deficiência é uma demanda que a UFSC precisa ampliar. O trabalho é bastante intenso, individualizado, requer muito da equipe, que, apesar de grande, é insuficiente. Mesmo com os desafios de pessoal e infraestrutura, temos conseguido garantir o apoio e respeito aos estudantes, que nos avaliam sempre positivamente”, acredita Bianca.

A pró-reitora Leslie complementa que a UFSC trabalha na ampliação do atendimento por meio da construção de políticas para promover a inclusão e pelos direitos das pessoas com deficiência na Universidade, sendo elas estudantes ou trabalhadores da instituição. “A UFSC é uma organização comprometida com a luta pela inclusão. Receber o selo ‘Todos Nós’ demonstra o quanto é importante que as instituições públicas possam garantir o acesso de todas as pessoas à educação e aos serviços que a Universidade proporciona. É fundamental continuar lutando por esses direitos e por investimentos na educação pública”, reforça. 

Sobre o selo ‘Todos Nós’

Pensado exclusivamente para a comunidade de pessoas autistas, o selo “Todos Nós” busca fomentar e reconhecer práticas inclusivas exemplares, e assim estimular a implementação de ações que assegurem a inclusão plena e efetiva em variados contextos. Abrange escolas e empresas e locais de trabalho, organizações e comunidades em geral. Leia mais no site da ANIA.

Simpósio

A entrega da certificação à UFSC ocorreu durante o III Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior: Formação Continuada e Acessibilidade Digital como Recursos Centrais para Inclusão. O simpósio ocorreu nos dias 18 e 19 de junho, em Florianópolis, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Organizado pela Associação Nacional para Inclusão de Pessoas Autistas, reuniu especialistas, autoridades estaduais, familiares, amigos e ativistas da causa. Leia mais sobre o evento na notícia.

Fonte: Notícias UFSC