Irineu, o Bolsonaro da esquerda

*Por Heronides Moura

Irineu é o Bolsonaro da esquerda. Ele trouxe para dentro da UFSC a política das emoções. Irineu sabe, como Bolsonaro, manipular os sentimentos dos grupos sociais. Ele nunca vestiu o figurino do Reitor tradicional. Desde o início de sua gestão, ele mobiliza emoções e não ideias.

Como seu mestre, Irineu pressupõe que a liderança tradicional perdeu o sentido em um mundo monopolizado pelas paixões. O Reitor não é mais, na visão dele, o bastião de um mundo no qual os conflitos devem ser resolvidos com calma. Como Bolsonaro, ele é um animador de auditório.

Não estou comparando as pessoas, mas o tipo de ação política e a forma de exercício do poder.

Irineu sabe pressentir o que atiça a emoção humana. Com isso, ele é capaz de estimular o confronto entre os grupos. Ele não está na Reitoria para dirimir os conflitos, mas para aumentá-los.

Irineu prospera no caos. Se o reitor tradicional valorizava a conversação ponderada, ele valoriza o slogan e o grito. Ele pratica a política das emoções. E, se a comunidade universitária não reagir, ele vai ser reeleito.

Bolsonaro só não foi reeleito porque houve a pandemia. Não haverá uma epidemia para Irineu.

A política universitária mudou completamente. As piores práticas da política do tempo das mídias digitais migraram para dentro da universidade.

Bolsonaro mantinha o país sob um ataque de nervos permanente. É o mesmo que faz Irineu. Bolsonaro pressentia os medos da população e os usava a seu favor. É o mesmo que faz Irineu.

Procurem uma proposta, uma ideia defendida por Irineu. Não há. Ele está na posição de Magnífico apenas para exercer o poder, costurado a cada dia com base no caos.

Vejam o caso da greve. Ele soube explorar o conflito no movimento sindical e tentou institucionalizar a greve. Logo ele, que sempre tentou destruir a institucionalidade. Irineu sentiu que podia explorar a emoção dos grevistas e buscou instrumentalizar a greve. Institucionalizou a única coisa que não poderia ser institucionalizada pela Reitoria: o nosso direito de greve.

Eu aderi à greve docente, mas me senti extremamente incomodado quando a Reitoria também aderiu. Irineu transformou a greve em lockout, que é a greve feita por patrões. Um patrão só apoia uma greve (e Irineu é um patrão) se tem algum interesse particular em jogo. O interesse dele era manipular as emoções dos grevistas e conquistar valiosos votos docentes para sua reeleição.

Os grevistas estavam acuados, atacados pelo próprio sindicato. Não bastava estar contra o governo, a gente estava também contra a Apufsc! Mas eis que chega Irineu, o cavaleiro do caos, para nos salvar!

É preciso entender que Irineu só fez esse movimento de apoio à greve porque ele trabalha com a política das emoções. E emoções se convertem em votos.

Como Bolsonaro, Irineu detesta as instituições. Instituições são entes frios e sem emoção. Não é que de vez em quando Irineu desrespeita as regras institucionais. A ação política dele é intrinsecamente anti-institucional.

Como Bolsonaro, ele prospera no caos e no ruído. No presente momento, a Reitoria da UFSC está invadida. Mas isso não é nenhum problema para Irineu. Ele vai despachar de um não-lugar qualquer. Como Bolsonaro, ele usa a mobilização de massas a seu favor.

Irineu sabe explorar ao máximo o idealismo dos alunos e alunas. A garotada deseja justiça social e uma universidade melhor e Irineu finge que deseja isso também, mas só quer o voto dos estudantes. Ele não faz absolutamente nada pela justiça social ou pela melhoria da universidade. Irineu sente a emoção à flor da pele dos alunos e explora vergonhosamente essa emoção a seu favor.

Não se iludam. Como Bolsonaro, Irineu é um político limitado, mas intuitivo. Cada movimento dele tem a única função de buscar a reeleição.

Se, para atingir este fim, ele tiver que deixar a UFSC em pé de guerra, ele irá em direção da guerra. Vai jogar os TAEs contra os docentes e os docentes contra os TAEs. Vai jogar aluno contra aluno. Vai jogar Proifes contra Andes e Andes contra Proifes. Vai jogar militância contra militância.

Não esperem dele qualquer mudança de rumo. Ter rumo é coisa de liderança tradicional. Não há rumo no caos.

Temos um enorme problema pela frente. Irineu colocou a política universitária em outro patamar. Para enfrentá-lo, será preciso unir razão e emoção. Não será fácil. Mas se nem em uma universidade pública conseguirmos fazer isso, onde conseguiremos?

*Heronides Moura é professor do DLLV/CCE da UFSC