Os especialistas em destruir sindicato(s)

*Por Carlos Alberto Marques

Escrevo este texto sem ter o prazer de o redigir. Aprendi que não é um bom caminho fulanizar e judicializar a política. Porém, nesse momento político de embates violentos no meio sindical, tem chamado atenção, de modo especial, a atuação de um ex-presidente da Apufsc. Os mais antigos se recordarão de sua atuação antes, durante e após o processo de desfiliação da Apufsc ao Andes-SN, especialmente sua crítica contundente ao modus operandi dos chamados andesianos. Agora, fruto daquela “exitosa” experiência, ele tem se dedicado a outra: desfilar a Apufsc e destruir o Proifes-Federação. Mostra, assim, sua especialidade: destruir sindicato(s).

Esse ex-presidente vem abraçando aqueles a quem detratou (adeptos do Andes) e, como um servo de mente turva, dispõe-se a cumprir a nova tarefa: atacar raivosamente a entidade concorrente (o Proifes). Interessante notar que essa hoje odiosa federação contou com sua preciosa colaboração, quando em 2011 se elaborava a proposta de carreira, posteriormente negociada e acordada com o governo petista. Desmemoriado, agora oferece aos amigos de turno o arrependimento e elogios à combatividade. Aos inimigos, a lei e a pecha de pelegos.

Em artigo recente (Farsa Sindical), dentre muitas impropriedades e distorções, esse professor omite propositadamente informações sobre a composição da federação, sua história e seu funcionamento (obtidas, por exemplo, na Carta Aberta à Sociedade). Além disso, ofende grotescamente a Adufrgs que, em meio à catástrofe que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, com dificuldades teve que definir sua posição sobre a proposta do governo, ignorando o funcionamento daquele sindicato e de seu estatuto.

Esse ex-presidente, que se omitiu no processo de filiação da Apufsc ao Proifes, agora ataca essa entidade sindical, desprezando a inteligência dos/as filiadas da Apufsc, bem como os/as filiados/as dos 11 sindicatos federados que já há alguns anos se decidiram por filiar-se a ela.

Acusado de ser o traidor do Andes aqui na UFSC, ao sabor das conveniências e/ou da distopia cognitiva, agora ele ataca a Diretoria da Apufsc, somando-se aos que querem a sua destituição. Justamente ele, que foi um dos principais responsáveis pela elaboração do atual estatuto e que, sem constrangimento algum, agora o renega seletivamente nas proposições sobre a condução da greve e apreciação da proposta do governo. Deve ser recordado que à época, uma das suas justificativas para as novas regras estatutárias era que elas renovariam a prática sindical.

A violência verbal empregada em suas análises e posições políticos engrossam a configuração do grupo andesiano alojado no ilegal CLG, criando um clima de histerismo que, infelizmente, deseduca jovens professores/as e que seguramente muito em breve se afastarão espaço sindical. O ex-presidente reforça aqueles que por anos mantiveram um sindicato paralelo à Apufsc, motivados justamente pela desfiliação ao Andes; desfiliação essa patrocinada por ele, que foi o maior defensor do processo e que hoje é “acolhido” pelo Andes em suas fileiras. Juntos almejam conduzir uma guerra santa do bem contra o mal, salvando nosso sindicato das garras do Proifes.

Em sua nova tarefa, a proeminente figura quer que a Apufsc volte ao Andes. Esse sindicato valente, que passou 6-7 anos nos governos Temer e Bolsonaro sem fazer uma greve, e que agora aparece aguerrido e com ataques violentos contra o governo Lula, por esse estar oferecendo até 43% de reajustes aos mais novos na carreira. Como é de hábito, o sindicato valentão não quer aceitar e fazer acordo, entrando inclusive na justiça contra o Proifes. Pasmem, o Andes presentou proposta com ganhos inferiores ao oferecido pelo governo no acordo com o Proifes. Engraçado que, desde 2012, o sindicato valentão não faz nenhum acordo que beneficie a categoria; os benefícios conquistados foram via Proifes. A única coisa que as principais lideranças e a diretoria do Andes sabem fazer é promover sua insana cruzada por uma revolução permanente, via greves intermináveis, especialmente contra governos progressistas.

Não vejo problemas que se faça crítica ao Proifes; eu mesmo as faço e venho ajudando na melhoria política da federação. O que causa perplexidade e muita desconfiança é que essa pessoa agora esqueça o que disse e fez, e sem o menor pudor passe a elogiar e defender o Andes.

Comentar suas ideias poderia terminar aqui, não fosse ele se juntar a outros sujeitos com o mesmo propósito: destruir o modelo sindical federativo do Proifes, que reúne sindicatos autônomos. Isso significa acabar também com a Apufsc-Sindical, que é um sindicato independente e autônomo, para que vire uma seção do Andes. Assim, nos tornaremos parte de uma estrutura altamente centralizadora, verticalizada e burocratizada que formata o funcionamento do Andes-SN. Significa que se quer voltar ao método assembleista, presencial e seletivo, que serve para garantir o espaço preferencial aos militantes, com sua pretensa sabedoria superior ao simples e mortal professor/a – um ser considerado incapaz de analisar e decidir sozinho sobre problemas da categoria e da universidade. Os resultados desse método são as enfadonhas assembleias, onde depois de horas de falas quem toma as decisões são os poucos e aguerridos militantes. É um verdadeiro simulacro de democracia sindical, que reforça e dá verniz ao cupulismo do sindicato único (nacional).

Tudo isso já está em curso. Os destruidores de sindicato autônomos e independentes não demoraram em encaminhar suas pretensões, aprovando nesta terça-feira, dia 4, a desfiliação da Apufsc ao Proifes, em uma assembleia presencial onde votaram filiados e não filiados, sem contagem de votos. No mesmo dia, encaminharam um abaixo-assinado requerendo a convocação de uma AGE para destituir a Diretoria da Apufsc.

Enfim, para além dessas figuras, o que se assiste aqui e em outras universidades são docentes que flertam, de forma consciente ou não, com aqueles que contribuem com o declínio da democracia, com aqueles que usam e abusam do discurso de ódio, que atacam a ciência e desprezam a universidade pública. Em que país pensam viver? Não serviram os exemplos do passado recente? Esses professores/as e seu valente sindicato estão dando um péssimo exemplo à sociedade, mas pouco se pode se esperar daqueles/as que, no fundo, tem objetivos estranhos às questões universitárias.

*Carlos Alberto Marques é professor CED/UFSC, ex-presidente da Apufsc-Sindical e diretor do Proifes-Federação