Encerrada a votação eletrônica sobre a continuidade ou não da greve, com a participação recorde de 1.505 docentes, a Apufsc-sindical encaminhou ao reitor o ofício n° 35/2024, informando o resultado da votação que encerrava a greve na UFSC, e no mesmo ofício solicitou que a notícia fosse amplamente divulgada. O que, de fato, foi feito.
É sabido que sair de uma greve tem sido historicamente mais difícil do que começá-la. Mas a greve encerrada na sexta-feira, dia 24, apresenta aspectos dramáticos. Depois da votação recorde com a participação de 1.505 docentes, dos quais 767 decidiram pelo seu fim, um grupo resolveu considerar o processo ilegal, mesmo tendo participado intensamente desde seu início, pedindo votos e defendendo seu ponto de vista, o que, obviamente, legitimou todo o processo.
Alguém já disse que a história se repete, na primeira vez como tragédia, e na segunda como farsa. Já vimos esse filme de terror quando o candidato derrotado à presidência da República, em 2014, não aceitando o resultado das urnas, desencadeou forças obscuras que nos levaram também ao 8 de janeiro de 2023, quando outro derrotado nas urnas também desejou reverter o resultado por meio da violência.
É triste reconhecer mas foi muito fácil e cômodo até agora colocarmos a culpa nos outros pelo desrespeito à democracia e às regras do jogo. Mas é preciso reconhecer que o chamado ‘campo democrático”, tem sido capaz de barbárie semelhante, tem sido capaz de produzir fake news e de dissonâncias cognitivas de todas as espécies.
Voltemos ao reitor, cuja função seria administrar, gerir, coordenar e supervisionar as atividades de toda a instituição. Entretanto, o reitor parece ter uma ideia na cabeça: a sua reeleição. Custe o dano que custar à instituição pela qual ele deveria zelar. Assim, temos um reitor refém das forças que o elegeram: muitos TAEs, diversos estudantes e os vários professores, muitos dos quais se acomodam, hoje, no Comando Local de Greve. Isso ficou evidente, por exemplo, na sua recusa em discutir seriamente sobre as condições físicas degradadas da universidade. Em mais de uma ocasião o comando de greve repetiu que a administração central da UFSC não deslanchava pela falta de recomposição das verbas da universidade.
Não à toa elegeram esse um dos três pontos centrais de suas reinvindicações, mesmo não se tratando de tema de mesa de negociação salarial. Mas esqueceram de dizer que os cortes orçamentários têm se repetido nos últimos seis anos, afetando três administrações seguidas, mas só a atual tem usado essa escora para escamotear sua sofrível capacidade de gestão. Aliás, a moderadíssima capacidade de gestão sempre se faz acompanhar de mazelas ainda piores. Em março de 2023, foi entregue ao reitor um amplo relatório das péssimas condições gerais dos campi, mas até agora só recebemos em troca o silêncio complacente de quem não parece saber o que fazer. Temos assistido a uma administração não apenas refém, mas verdadeiramente cúmplice de práticas políticas autoritárias, como por exemplo nas inconcebíveis invasões e ocupações semanais do gabinete do reitor, ora por estudantes, ora por servidores em greve, agora por professores inconformados com o fim da greve. E sua resposta tem sido invariavelmente solícita e conivente com esses desmandos. Colegas de outras universidades ficam estarrecidos com esse misto de populismo na gestão e inoperância na política.
Portanto, mesmo que estarrecidos com a retirada das notícias do fim da greve das páginas oficiais e sua substituição pelas notícias de um comando de greve que não existe mais, temos que reconhecer que não foi surpreendente. Afinal é assim que agem os gestores fracos, sem rumo e sem clareza do papel político e social que desempenham na instituição pela qual deveriam zelar.
Caberia a um reitor cuja estatura corresponde ao cargo que ocupa arbitrar sobre o conflito estabelecido na universidade com a greve encerrada sexta-feira. Caberia a ele fazer a mediação entre os grupos para que a universidade voltasse o mais rapidamente possível à normalidade mas, ao contrário, como se fosse uma pessoa que não está obrigado a responder pelos seus atos, ele jogou um balde de gasolina na fogueira.
É vergonhoso colocar a culpa da publicação da informação do fim da greve na Agecom, num gesto de Pilatos, mas não podemos nos furtar da óbvia conclusão de que todos temos responsabilidade por ter feito escolha tão equivocada para ocupar o cargo máximo na nossa instituição.