*Por Suzi Barletto Cavalli
Na minha área profissional, sempre considerei superimportantes as entidades de classe. Considerando valorosa a participação, assim fui atuante no sindicato, associação e conselho profissional. Sempre estimulei os meus alunos/as da necessidade de estarmos integrados nesses coletivos de atuação de classe, pois eles são fundamentais para o crescimento, desenvolvimento e organização das necessidades de luta, sejam elas referentes as questões regulatórias, científicas ou técnicas.
Também tenho a maior clareza que a vivência nesses coletivos, requerem que tenhamos uma diretriz pautada na ética, caráter e um senso profissional e político.
Entender as diferenças entre as entidades de classe profissionais é a primeiro esboço no plano de luta de uma categoria. Assim, quando entrei na UFSC, me filiei à Apufsc, mas ao conhecer melhor e com o passar do tempo, me deparei com uma associação travestida de sindicato.
Minha indignação já era alta com um sindicado dedicado ao papel de uma associação social e de recreação. E foi ao limite com o fato, que alguns colegas se prontificaram a participar de um evento em prol da categoria de docentes das IES em Brasília e solicitaram ajuda da Apufsc para a viagem, que seria realizada de ônibus. A Apufsc divulgou o pedido, via a lista de e-mail, e aí os professores e professoras passaram a analisar o pedido, uns contra outros a favor (muito mais contra) e vieram à tona as condições precárias de civilidade entre os/as docentes. Com esse embate, de baixo nível de convivência, caráter e ética profissional, me desfiliei.
Voltei a me filiar quando as ações da Apufsc eram consideradas as de um sindicado, e também parecia que novos rumos traziam a civilidade.
Hoje participo da diretoria da Apufsc, fui anteriormente membro do CR, e continuo acreditando e declarando a importância das entidades de classe de trabalhadores e trabalhadoras.
A minha reflexão vem em função dos acontecimentos das últimas semanas, que foram motivados pela negociação com o governo federal, por reposição salarial, melhorias na carreira docente (aposentados ou não), e pelo orçamento para as IES Federais.
Assim mudou a rotina da comunidade da UFSC, os TAEs, deflagaram a greve, os docentes faziam discussões e os estudantes também se inseriram no processo que a universidade estava vivendo.
Não vou comentar as especificidades das assembleias plenárias e reuniões de comissões que foram realizadas no período. Mas quero explicitar a dificuldade de diálogo e da intolerância de grupos que são favoráveis à grave.
Desde o início das discussões dos docentes na universidade, ficava nítida a divergência em função de que a Apufsc está filiada ao Proifes e os que não aceitam o fato, passam a usar os preceitos do Andes. Uma grande maioria desses colegas, sabem que a escolha foi feita pelas professoras e professores filiados, mesmo assim, não aceitam o fato e passam a criar conflitos extremos com a diretoria do sindicato.
Ora é o problema que não somos democráticos, que tomamos decisões a revelia da categoria, ora criticam veemente que respeitamos o estatuto do sindicato e não querem que façamos isso. Também recebemos vários adjetivos interessantes: “pelegos”, atrasados politicamente, uma vergonha para a categoria e que o conjunto da obra é somos a “a vergonha do século”. Vergonha é saber que temos colegas, quase todos/as com doutorado e educadores/as e são capazes de utilizar esses insultos.
Fico pensando em algumas coisas: será que as/os colegas que não aceitam a filiação da Apufsc ao Proifes é democrática? Pois se não aceitam o que foi levado a decisão dos professores e professoras filiadas/os, não vale? Qual é a democracia aceitável, aquele que age para mudar o que foi definido? Que o faz no meio de uma negociação com o governo federal?
Por que temos um estatuto? Já foi escrito sobre isso. Mas simplesmente é porque precisamos nos nortear com algumas diretrizes para ações coletivas e todas estão lá. Seguimos à risca o que o estatuto infere, e ele foi feito e aprovado pelos professores e professoras filiados/as. Não gostam dele, querem mudá-lo, ótimo vamos discutir sobre isso e vamos conhecer a história da construção desse estatuto.
Outra questão séria, que houve inúmeras tentativas de banalizá-la ou declará-la “fora da lei”, é sobre a deliberação em assembleias ou responsabilidades é de que somente os filiados ao sindicato tem o direito e o dever de decidir.
Aí vem a pergunta. Mas a greve é de todos e todas professores e professoras? Sim, todos podem fazer ou não fazer greve, mas só votam nas deliberações do sindicato, os filiados. Qual a explicação, simples, o sindicato tem compromisso com os/as filiados/as, e não com os outros professores e professoras que não são. O sindicato tem obrigações e deveres com os professores e professoras filiados/as. O sindicato tem que prestar conta de sua atuação, em todos os níveis, só para os filiados e filiadas. Se o sindicato obtiver questões favoráveis, de todas as formas, são para os filiados e filiadas.
O sindicato não pode representar os professores não filiados. Isso seria um abuso de poder, e de caráter jurídico.
Então volto ao início, a importância de um sindicato, reside em representar uma categoria em suas necessidades sindicais e tudo que a envolve.
E o final, não é filiado a Apufsc? Filie-se a luta é dentro das entidades de classe e essas são coletivas.
Mas, não esquecer que existem regulamentações e que devemos acatar o que a maioria desse coletivo decidir. Isso é democracia na sua simplicidade.
*Suzi Barletto Cavalli é professora aposentada do departamento de Nutrição da UFSC e membro da Diretoria da Apufsc-Sindical