Pesquisa mostra que cresce interesse por temas científicos, mas 50% da população nunca consultou livros ou enciclopédias

Sexta edição do estudo “Percepção pública da C&T no Brasil”, uma realização do CGEE com apoio da SBPC, mostra que sociedade está mais próxima das instituições científicas, mas ainda não ocupa espaços de divulgação da Ciência

O conhecimento e a importância que a população dá para temas de Ciência cresceram, mas a sociedade ainda não consome conhecimento científico no dia a dia. Este é um dos principais diagnósticos da pesquisa “Percepção pública da C&T no Brasil” lançada nesta semana pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Em sua sexta edição, a pesquisa busca traçar um perfil socioeconômico e comportamental dos entrevistados acerca de temas relacionados ao universo da Ciência e Tecnologia (C&T). No comparativo com a última edição, realizada em 2019, o interesse da população em temas do universo científico cresceu – como medicina (de 77,4% para 81,2%), meio ambiente (de 78,1% para 83%) e a própria C&T (de 61% para 64,2%).

“O interesse dos brasileiros por temas de Ciência e Tecnologia, Saúde e meio ambiente não é baixo. Ele se mantém mais ou menos no mesmo patamar nas últimas décadas, embora tenha existido uma pequena queda nos momentos de crise  – toda crise social e política cria uma queda nos interesses, não só em ciência, mas nos outros temas também. Então, o fato de 60%, mais da metade dos brasileiros, dizerem diz têm interesse pela Ciência significa que eles acham que a Ciência é relevante”, detalha o pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Yurij Castelfranchi, que atuou como consultor no estudo.

Entretanto, apesar do interesse em C&T existir, ele não se reflete no consumo de espaços onde se produz Ciência. Questionados sobre a visitação em espaços de Ciência e Tecnologia nos últimos 12 meses, do total de entrevistados, apenas 11,5% foram em um museu de C&T, 18,9% participaram de uma olimpíada ou feira de ciências e 19,4% frequentaram uma biblioteca.

O distanciamento entre C&T e a população também se reflete no consumo de informações científicas. Segundo a pesquisa, as redes sociais se consolidaram como o principal meio onde as pessoas acessam informações sobre ciência, sendo acessadas com frequência por 39,8% dos entrevistados, seguidas por programas de televisão (22,7%) e matérias de jornais e revistas (22,4%). Em paralelo, 49,7% dos entrevistados alegaram que nunca leram um livro (impresso ou virtual) e 55,4% nunca acessaram uma enciclopédia online, como a Wikipédia.

Como o próprio estudo defende, os seus diagnósticos mostram a necessidade de melhores políticas públicas não só sobre Ciência e Tecnologia, mas que busquem resolver a desigualdade presente no acesso ao conhecimento e na participação pública, que comprometem as oportunidades da população no futuro.

Idealizador da pesquisa desde sua primeira edição, em 1987, o presidente de honra da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, alerta para a importância da pesquisa chegar em mais públicos e, consequentemente, que embase mudanças políticas:

“Essa pesquisa é importante para sabermos o que a população pensa de nós, sobre o aparato das instituições e o que ela entende sobre a ciência brasileira. É fundamental que a comunidade científica olhe para essa pesquisa, assim como ela precisa chegar ao Congresso Nacional e ao Senado Federal. Desde a primeira edição, eu tenho certeza de que se as opiniões da maioria do povo brasileiro fossem levadas em conta na construção de políticas públicas sobre Ciência, Tecnologia e Educação, o País estaria numa situação muito melhor hoje. Inclusive, em relação às mudanças climáticas, porque a população brasileira tem a sensibilidade de perceber que essa é uma questão séria e que devia ter política pública para enfrentá-las adequadamente”, ponderou, no lançamento do estudo.

O relatório completo da pesquisa “Percepção pública da C&T no Brasil” está disponível na íntegra no site do CGEE: https://percepcao.cgee.org.br/.

Fonte: Jornal da Ciência