Depois

Por Nestor Roqueiro*

Depois vão dizer que não entendem porque a extrema direita venceu as eleições em 2026.

A extrema direita nunca se desmobilizou. Perderam a eleição e o protagonismo na mídia. A mídia, o pior instrumento para construir um futuro prospero para o Brasil. Mas a extrema direita tem seus canais de comunicação, tem sua estratégia de mobilização, tem suas pautas e suas táticas. A extrema direita esta organizada, tem propósito e motivação. Tem tudo o necessário para voltar com força no momento oportuno, e voltarão.

Como evitar o retorno da extrema direita? Com educação, obvio, mas educação leva tempo, muito mais tempo que o lapso entre eleições, o tempo da educação se mede em décadas. E ai, a curto prazo o que fazer? Bem, o tal do campo progressista esta perdido como cego em tiroteio. Não tem uma estratégia clara, não tem unidade, não tem motivação forte e não tem tática.

Tínhamos um esboço de reação popular na greve do setor de educação. Um esboço pois foi uma reação tardia, lenta, desarticulada, que está chegando ao fim. Era um movimento popular por uma causa justa, qualidade da educação publica, inserida num embate hercúleo pela disputa do orçamento federal. Um orçamento abocanhado pelos rentistas que enriquecem com a divida publica não auditada. Um orçamento esfoliado pelos deputados, de situação e oposição, que o utilizam para financiar suas campanhas nas eleições municipais. A saude e a educação correm o risco de perder o piso constitucional e isto defendido para “liberar” mais recursos do orçamento para outros fins. Que fins? Saude e educação publica, salários indiretos para a população mais pobre do Brasil sendo roubados “para outros fins”. E a extrema direita de espreguiçadeira esperando pelo drinque ao por do sol. 

Os ex-esquerdistas, travestidos de social democratas mas tão autoritários como os de extrema direita que dizem combater, errados ate a medula na sua avaliação politica, querem sustentar o atual governo colocando cobertores curtos em um corpo social que padece com o frio toque do capitalismo decadente. Pior ainda, usam do apelo emocional de que alguém esta em situação pior (sempre houve e haverá) para que os reclamos pelo orçamento popular sejam mais brandos. Onde estão os apelos emocionais para os rentistas e para os deputados? Ja sabem que ai não adianta apelar para o emocional, o bolso é que manda, não o coração. Que desserviço fazem os ex-esquerdistas às causas populares. Ao invés de incentivar os movimentos populares para que estos reivindiquem sua fatia no orçamento pedem calma, parcimônia, compreensão da situação, moderação para não atiçar os extremistas de direita, que agradecem pela ajuda recebida.

No quintal de casa proifanos e andesianos, que poderiam terminar sua briguinha adolescente na rua, contaminam com seus embates vazios um dos últimos redutos institucionais dos trabalhadores, o sindicato. Em 2026 teremos a disputa pelo orçamento (sim, de novo, sempre a disputa pela grana, em um sistema capitalista isto é o central, fundamental) e vamos precisar do sindicato para que o serviço publico receba uma fatia maior. Teremos um sindicalismo que movimente as bases? Pelo que vimos nesta greve a resposta é NÃO! Ambos sindicatos dão as costas para o movimento docente, por isso da baixa adesão dos jovens (e muitos velhos) que não se sentem representados nem ouvidos. Resultado? Receberemos a esmola que o governo quiser nos oferecer, se quiser. 

*Nestor Roqueiro é professor do DAS/CTC