*Por Fábio Lopes
Quem costuma ler os textos publicados neste espaço ou acompanhar o debate em fóruns como o CUn sabe que, por muito tempo, fui uma voz solitária a denunciar a crise de manutenção na UFSC e a responsabilidade da Reitoria no agravamento do problema.
Eis que, em dias recentíssimos, a ficha de boa parte da comunidade acadêmica caiu, e o prefeito do campus virou Inimigo do Povo. Até em Assembleia de Greve Docente o homem tem sido execrado. A ira contra ele chegou ao ponto de, em uma pérola de wishful thinking, a notícia falsa de sua demissão ter sido comemorada por um professor – jornalista de formação – no microfone do evento.
Não digo tudo isso para tirar casquinha de ninguém, nem para fins de autopromoção. Longe de mim terminar essa conversa com um “Estão vendo? Eu avisei.”. As pessoas têm cada uma o seu tempo, cada uma as suas próprias experiências, e isso determina quando e até que ponto elas se tornam capazes de tomar consciência do que se passa ao seu redor. Se me antecipei às conclusões que agora se transformaram em moeda corrente na UFSC, foi, em primeiro lugar, porque estou em um cargo que me permite acesso privilegiado e direto a informações e intercorrências que chegam só aos poucos e em fragmentos aos que não têm que lidar continuamente com a Administração Central. Seja como for, o problema dos neo-descontentes com o prefeito – que passaram a seguir a trilha de meus já antigos protestos – é que já deveríamos estar em outra. Peguem a visão.
Para mim, está de há muito claro que o caso da PU é só a face mais visível e caricatural – mas nem por isso a mais grave – de um drama bem mais profundo: a impressionante mediocridade da equipe hoje encastelada na Reitoria. Contam-se nos dedos os titulares de pró-reitorias e secretarias que têm currículo e qualificação para estar onde estão.
Não por acaso, em reunião recente dos onze diretores de centro de Florianópolis com o reitor, recomendei a demissão de cinco desses quadros – e sinceramente acho até que fui modesto em minhas reivindicações.
Não me entendam mal: não estou dizendo que colegas como os atuais pró-reitores da PROAD, da PROAFE ou da PRAE fazem tudo errado no exercício de suas funções ou que não possam eventualmente desempenhar bem outras posições na UFSC. Estou dizendo que eles cometem erros demais e que não têm estofo e envergadura suficientes para o tamanho das atribuições que hoje lhes concernem.
Ao contrário de porções generosas do staff da atual Reitoria, só me apresentei para ser diretor de centro ao fim de trinta anos de docência na UFSC e depois de ter sido crescentemente testado de várias maneiras. Ao longo dessas três décadas, fui muitas vezes coordenador de um programa de pós que é centro de excelência; fui ainda mais vezes subcoordenador desse mesmo programa; fui por quatro mandatos representante dos docentes do CCE no CUn; fui por quinzes anos tutor do PET-Letras; pertenci à direção do sindicato local, do sindicato nacional; integrei comandos locais de greve, comandos nacionais de greve; fui diretor da Editora da UFSC.
E assim mesmo, porque tenho espelho em casa e faço bom uso dele, sou de capaz de perceber que a direção de centro é meu teto. Eu jamais me aventuraria, por exemplo, a tentar ser reitor ou vice. Jamais. Conhecer os próprios limites e possibilidades é a maior das virtudes, tanto mais em períodos de crise. Do contrário, paga o preço a instituição – e essa conta é altíssima e crescente. Não se trata só de expor a universidade à incompetência daqueles que deveriam geri-la. Trata-se de algo muito mais grave: um rebaixamento dos critérios de seleção para os cargos de alta responsabilidade; a consolidação de uma cultura organizacional em cujos termos a liturgia e a majestade de funções públicas são conspurcadas. Qualquer um passa a se achar no direito de ocupá-las, assim como o que antes era erro imperdoável no exercício de uma posição passa a ser normalizado.
Mas voltemos ao prefeito universitário e às críticas que lhe são feitas. Não quero terminar este artigo sem mencionar uma razão crucial para que ele tenha subitamente se convertido em personagem central da crônica universitária. É que as circunstâncias políticas internas à UFSC mudaram, e a antiga unidade da Reitoria se desfez, de modo que reitor e vice-reitora, com seus respectivos grupos de apoio, estão envolvidos em uma troca de tiros na qual a cabeça do titular da PU virou troféu para uns, ao mesmo tempo que é vista pelo grupo adversário como sinal de derrota. No fundo, é a gasolina dessa disputa intestina por poder que assanha a fogueira em que arde atualmente o Sr. Rodak.
Meu comentário sobre essa briga: ela é mais um motivo para temermos pelo futuro da UFSC. Se juntos os membros da gestão já estavam afundando esta Casa, imaginem o que não nos acontecerá agora que estão em pé de guerra, boicotando-se reciprocamente. Seja como for, como escrevi em meu um último artigo, considero que, irmanados ou em conflito, tanto o reitor e quanto a vice-reitora são figuras tão despreparadas para os cargos que ocupam quanto a equipe que nomearam. Por mim, que se vayan todos. Na briga entre eles, torço para briga, com uma muito discreta e pouco consoladora predileção pelo reitor, que ao menos me parece alguém que, à sua maneira e com seus muitos vacilos, ama a universidade, ao passo que a vice pertence a uma geração para o qual o vínculo com a instituição é infinitamente mais tênue e orientado por interesses pessoais ou setoriais.
*Fábio Lopes é diretor do CCE/UFSC