*Por Jéferson Silveira Dantas
O historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012) alertava em seus últimos escritos, que a principal contribuição dos historiadores é relembrar o que outros esqueceram ou querem esquecer, sempre tomando a devida distância dos registros da época contemporânea, analisando-os em uma conjuntura mais ampla, portanto não pragmática, e com uma perspectiva mais extensa. Tal alerta nos parece imperioso tendo em vista o descaso com a memória social, especialmente por aqueles/as que deveriam zelar pela mesma, ou seja, os historiadores! A interdição das falas discordantes e/ou costuras discursivas que buscam consensos rápidos ou coerções ativas não contribuem para o debate, muito menos para a organização da classe trabalhadora, notadamente em um contexto de greve docente, como a que estamos vivenciando nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) no Brasil.
Outro historiador britânico, E. P. Thompson (1924-1993), ainda é mais preciso no que se refere ao reconhecimento da experiência da classe trabalhadora: “A experiência não espera discretamente, fora de seus gabinetes, o momento em que o discurso da demonstração convocará a sua presença. A experiência entra sem bater à porta e anuncia mortes, crises de subsistência, guerra de trincheiras, desemprego, inflação, genocídio. Pessoas estão famintas: seus sobreviventes têm novos modos de pensar em relação ao mercado. Pessoas são presas: na prisão, pensam de modo diverso sobre as leis. Frente a essas experiências gerais, velhos sistemas conceptuais podem desmoronar e novas problemáticas podem insistir em impor sua presença”.
A notável exposição de Thompson desvela que os embates teóricos devem partir sempre da indagação à empiria e às fontes, portanto, nenhuma luta da classe trabalhadora se dá num vazio epistemológico ou num idealismo pueril. Se o ato educativo é uma prática de liberdade como dizia Paulo Freire (1921-1997), já deveríamos saber ou pelo menos supor que numa sociedade de classes não há um efetivo diálogo, mas um “pseudodiálogo, utopia romântica quando parte do oprimido e ardil astuto quando parte do opressor [e, portanto] a organização da sociedade é também tarefa do educador. E, para isso, o seu método, a sua estratégia é muito mais a desobediência, o conflito, a suspeita, do que o diálogo”.
Se os colegas historiadores optam pelo pseudodiálogo, o alerta aqui ainda é mais contundente! Desmobilizar uma mesma categoria de trabalhadores (a classe docente) utilizando argumentos parciais e, que não levam em consideração a totalidade histórica, contribuem para a fragilidade estratégica da luta, não permitindo que a greve docente na UFSC seja exitosa, consequente e dialógica em todas as suas etapas! Afinal, somos todos trabalhadores (docentes, técnicos e estudantes) e desejamos o melhor para as nossas universidades!
*Jéferson Silveira Dantas é professor do departamento de Estudos Especializados em Educação (CED/UFSC)