Por Raphael Falcão da Hora*
Escrevo na qualidade de professor do Departamento de Matemática da UFSC, cargo que ocupo desde 2013, e atualmente desempenhando as funções de chefe do referido departamento do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas da UFSC.
Em processo de votação eletrônico concluído no dia 3 de maio, eu e outros professores filiados ao sindicato que nos representa, Apufsc, votamos a favor da greve. Este gesto não foi tomado de ânimo leve, mas sim como uma medida necessária para que sejam atendidas demandas urgentes dos professores da UFSC.
Em primeiro lugar, gostaria de abordar a questão salarial. Considerando que o salário mínimo está em R$ 1.412, o salário inicial líquido de um professor com dedicação exclusiva e com doutorado no valor aproximado de R$ 7.900 pode parecer razoável. Ocorre que a realidade do mercado e as oportunidades disponíveis tanto nacional quanto internacionalmente, torna evidente que estamos perdendo competitividade na atração e retenção de talentos. Especialmente em áreas ligadas à tecnologia e inovação, temos enfrentado dificuldades significativas em manter nossos melhores professores, o que afeta diretamente a qualidade do ensino, da extensão e da pesquisa em nossa instituição.
Além disso, a estrutura de remuneração dos professores universitários, fortemente baseada no tempo de serviço, acaba penalizando os jovens professores, que enfrentam não apenas a perda inflacionária, mas também o impacto negativo da reestruturação da carreira ocorrida em 2013.
Outro ponto crucial que gostaria de destacar é a precariedade da infraestrutura da UFSC. O descaso da reitoria na elaboração dos termos de referência para processos licitatórios relacionados à manutenção, aliado à falta de recomposição das verbas discricionárias por parte do governo federal, tem resultado em condições de trabalho insalubres e inadequadas para professores, servidores técnicos e estudantes. Esta situação é inaceitável e vai de encontro aos princípios de dignidade e segurança no ambiente de trabalho garantidos pela legislação brasileira.
Em primeiro lugar, gostaria de apelar ao apoio generoso da população, pois ela é a maior beneficiária de uma instituição de ensino superior de excelência. Uma UFSC forte e vibrante não apenas oferece uma educação de alto nível para nossos jovens, mas também serve como um berço para a produção de ciência, tecnologia e inovação, elementos fundamentais para o desenvolvimento de nossa sociedade.
Além disso, faço um apelo veemente ao Ministério Público e aos órgãos de controle para que investiguem e responsabilizem a administração central da UFSC pela ineficiência na produção dos termos de referência dos processos licitatórios. É imperativo que as licitações de manutenção da infraestrutura sejam realizadas o mais rápido possível, pois a negligência nesse aspecto tem causado danos significativos à qualidade de trabalho e estudo em nossa universidade. Professores, servidores técnicos e estudantes não podem mais se sentir abandonados por aqueles que deveriam zelar pelo bem-estar de nossa instituição.
Por fim, conclamo a comunidade acadêmica da UFSC a se unir em manifestações pacíficas que abordem de maneira eficaz os problemas enfrentados pela nossa universidade. É crucial que não haja censura ao responsabilizar os culpados, sejam eles da reitoria ou do governo federal. Devemos buscar informação e evitar a propagação de falácias, pois somente assim poderemos encontrar soluções reais para os desafios que enfrentamos.
Particularmente, gostaria de destacar a importância de desenvolvermos mais ações de extensão, como as promovidas pelo programa UFSCience (https://ufscience.ufsc.br/), para que possamos nos aproximar da população e compartilhar os mais valiosos recursos que temos, nossos recursos humanos.
Expresso minha sincera esperança de que esta carta desperte em todos nós um senso renovado de responsabilidade e comprometimento com o futuro de nossa universidade. Somente juntos poderemos superar os desafios que enfrentamos e construir uma UFSC ainda mais forte e resiliente.
*Raphael Falcão da Hora é professor do departamento de Matemática da UFSC