Proifes, simulacro depressor

Por Armando Lisboa*

1. A invenção de uma vacina sindical

“Divide et impera.”

O Proifes irrompeu há exatos 20 anos, quando do primeiro governo Lula. Na ocasião, por conta das diferenças políticas cada vez mais acirradas, o Andes se movimentava para sair da CUT. Pautada há mais tempo, a desfiliação da CUT foi confirmada no Congresso do Andes em março de 2005. Ela foi a gota d’água para o governo lulista, PhD em sindicalismo, abandonar definitivamente o Andes e inventar uma alternativa sindical que fosse suficiente para anulá-lo, sem necessidade de implodi-lo em todas as IFES. Uma ínfima dose vacinal.

Até então, o Proifes (fundado em setembro de 2004) era apenas um fórum de dissidentes do movimento docente (MD), mais de uma vez derrotados nas eleições andesianas, como as daquele ano. 

Quando opositores políticos (internos e externos ao MD) da desvinculação com a CUT se conjugaram com a chapa inconformada com as eleições andesianas, o Proifes descola da condição de uma tendência ao interior do Andes, e decola como seu rival sindical.

Ou seja, na sequência o MEC passa a adotar o Proifes como interlocutor, legitimando-o como organização sindical nacional, revela Rizzo no início de 20061.

Ainda que não venhamos a descobrir toda a trama, o princípio se dá com Tarso Genro no MEC. Quando Haddad o sucede, em julho de 2005, dá sequência ao enredo.

Argumentando que o extremismo andesiano impossibilitaria quaisquer negociações, um fórum de pró-reitores da Andifes foi decisivo na incubação do Proifes, conspirando decisivamente nos encaminhamentos de sua construção.

Docentes do PCdoB tiveram papel decisivo na sua construção e ao longo de sua trajetória, como os profs. Fernando Amorim (UFRJ)2, membro da primeira diretoria do Proifes (2004-2005)3 e também vindo a presidir a entidade em 2012; e o prof. Wellington Duarte (UFRN), atual presidente.

Na presente realidade onde as centrais sindicais são braços de partidos políticos, esta divisão entre Andes e Proifes decorre de um jogo de forças partidarizado que envenena a organização trabalhista. Ela expressa um conceito de sindicalismo que nos vivesecciona, pois os docentes das IFES, possivelmente mais que outras categorias de trabalhadores, temos vínculos com as mais distintas ideologias – ou mesmo nenhum vínculo – e grupos sociais. Esta composição plural pode facilitar, aliás, a missão da Universidade: examinar e cozinhar as mais diversas alternativas societárias.

A divisão docente polarizada é mais que deletéria, pois, além do fratricismo enfraquecedor, ela gera, ao multiplicar nuances confunsionistas para a ampla maioria docente, um descrédito na luta sindical. Os curtos-circuitos atiçados também já reverberam danosamente sobre a nossa profissão, deformando-a grotescamente. Uma das aberrações na carreira geradas pela cumplicidade do Proifes com Brasília, por exemplo, ferrou quem se aposentou como Adjunto (onde milhares estacionaram por décadas, na ausência de concurso para Titular) ao criar a categoria de Associado (em 2006).

  1. https://www.sedufsm.org.br/jornal_arquivo/pdf/J0604-08.pdf ↩︎
  2. https://vermelho.org.br/2012/08/04/a-perda-do-professor-fernando-amorim/ ↩︎
  3. https://proifes.org.br/institucional-proifes/; ↩︎

*Armando de Melo Lisboa é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais do Centro Socioeconômico (CNM/CSE) da UFSC e ex-diretor da Apufsc-Sindical (2006-2010)