Pilotando para o inferno (2)

Por Armando Lisboa*

“Flectere si nequeo superos, Acheronta movebo.” (Virgílio)1

Ao sentar nas mesas de negociação em pé-de-igualdade com o Andes, o Proifes aparenta força e grandeza. Todavia, trata-se duma entidade muito frágil e enganosa, simulando, vinte anos depois de criado, uma federação sindical nacional de docentes universitários, como logo se constata quando se navega na sua home page

O Proifes (federação) informa ter onzeSindicatos Federados“, mas não apresenta o nome/endereço web dos mesmos. Apenas disponibiliza o logo destes2. Ao garimpar informações, constata-se que muitos são bastante obscuros, ou não representativos de docentes de universidades federais.

1) Sind-Proifes:

Este seria o “sindicato nacional”, uma espécie de guarda-chuva com existência apenas cartorial, que abriga docentes cujos sindicatos de origem são seções sindicais do Andes.

Ele foi fundado em 2008, na sede nacional da CUT, num evento emblemático que obstaculizou delegações de professores adentrar o local dos trabalhos e votar contra a criação do então “Proifes-Sindicato” (hoje “Sind-Proifes”)3. Um pálido e anódino (sendo elogioso) espelho do Andes …

2-4) SINDIFSE; SINDPROIFES-PA e SINDUFMA:

Da mesma forma que Sind-Proifes, tratam-se de entidades artificiais, com existência, aparentemente, apenas cartorial. Dificilmente elas são representativas de docentes universitários federais. Se agregarem amigos para formarem um “clube”, já seria muito. No máximo, suas informações estão apenas no Facebook.

a) O SINDIFSE “representaria” os docentes do ensino básico, técnico e tecnológico no estado de Sergipe. 

Nada encontrei a respeito deste tal de “Sindifse”, ainda que o atual “Diretor de Aposentadoria” do Proifes seja originário do mesmo (José Jackson Do Amor Divino). A única informação é uma notícia na Adufrgs4.

Em Sergipe, a Adufs (seção sindical do Andes) continua vigorosa, anunciando greve para 5 de maio.

b) O SINDPROIFES-PA seria o “Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior do Estado do Pará”. 

Na internet descobre-se que ele também se autodenomina “Sindicato dos Docentes das Instituições Federais do Ensino Superior dos Municípios de Ananindeua, Abaetetuba, Belém, Bragança e Cametá”. Ele diz representar docentes da UFPA, UFRA (Un. Fed. Rural da Amazônia) e da IFPA (Inst. Fed. do Pará). Na CUT descobre-se que foi fundado em abril de 2015 por 83 professores, na sede da CNBB-PA. 

Em meados de abril, o SINDROIFES-PA fez uma consulta eletrônica sobre a Mesa Nacional de Negociação Permanente e a disposição para aderir à greve. Participaram 77 docentes, com 53% contrários à realização de uma greve5.

Como é sabido, na UFPA a seção sindical Adufpa, com mais de 40 anos de história, permanece ativa e representativa dos docentes desta universidade. No momento, liderando a greve. Do mesmo modo, na UFRA uma seção sindical do Andes atua expressivamente dirigindo a presente greve, a Adufra-SSInd.

c) O SINDUFMA apresenta-se como “Sindicato dos Profesores das Universidades Federais do Maranhão” (sic!). 

No face, as últimas informações são de julho de 20186.

Como sabemos, também na UFMA a antiga Apruma está ativa e, como seção sindical, lidera a greve por lá.

5-6) Adafa Sindicato; SINDIEDUTEC:

Adafa representa o “Sindicato dos Docentes das Instituições Federais de Ensino Superior do Município de Pirassununga”. Este pelo menos tem uma página web “razoável”. As informações nela disponíveis são as de uma entidade social, recreativa. Lá se informa que a “atual diretoria” tem mandato para 2020-2023.

Ao final da mesma, descobre-se que na base deste “sindicato” está a Academia da Força Aérea-AFA, escola superior militar de formação de oficiais da aeronáutica (Pirassununga/SP), e que surgiu em 1986 como associação dos Docentes da AFA (Adafa)7.

Já SINDIEDUTEC é a sigla do “Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica Técnica e Tecnológica do Estado do Paraná”. Representa docentes do Instituto Federal do Paraná. É também filiado à Fasubra. Por óbvio, não representa docentes nem da UFPR, da UTFPR, ou de qualquer outra universidade federal no Paraná, todas com suas próprias seções sindicais. Atualmente em greve.

7-11) Adufrgs; Adufg; Apub; Adurn e Apufsc:

As cinco entidades restantes são as sindicalmente significativas no âmbito universitário. A Apufsc ingressou no Proifes em 2022. As outras quatro dele participam desde sua fundação.

Recentemente, a Adufscar, peça central na fundação do Proifes, deixou de liderá-lo e de a ele pertencer, pois voltou, a partir de 2023, a orbitar o Andes. A APUBh (UFMG) também fez parte do núcleo inicial do Proifes, mas dele se desvinculou muito cedo. Depois de muito tempo isolada, retornou à órbita do Andes. Do mesmo modo, a Adufc, após participar da fundação do Proifes, ao Andes retornou.

Das cinco entidades da base formadora do atual núcleo principal do Proifes, quatro já decidiram pela greve (Adufg; Apub; Adurn e Apufsc).

Resta a Adufrgs, que sequer oportuniza deliberar sobre greve. Esta, em AG em 25/4, “rejeitou, neste momento, fazer uma consulta à categoria sobre a possibilidade de greve nas instituições federais de ensino no Rio Grande do Sul” (ou seja, UFRGS)8.

A Adufrgs sempre perfilou no núcleo mais duro do Proifes. É a única em que a missão original do Proifes – conter greve dos docentes federais no governo do PT – permanece íntegra. O mistério gaúcho desta solidez talvez seja uma herança dos tempos em que a equipe do gaúcho Tasso Genro arquitetou ardilosamente o “sindicato” que serve de vacina contra o Andes.

O Comando Nacional de greve continuará a se reunir no Andes, como sempre. Como não há chance do rabo abanar o cachorro, lideranças das entidades proifeanas lá estarão presentes.

Posto num xeque pela greve, com sua base em pé-de-guerra contra o peleguismo, a sobrevivência do Proifes está por um triz. A não ser que Brasília anuncie acatar a “contraproposta do Proifes” (reajuste de 3,5% em 2024) divulgada em 26/4, ou mesmo parte da mesma, algo em torno de 1 a 2%. Cumprindo sua missão, reproduzirá um rebaixado “acordo” como o que então subscreveu e liquidou a greve de 2012.

Este é o Proifes, sempre sabotando as opções politicamente possíveis, deprimindo e jogando para baixo nossas sinergias e sonhos, nos conformando ao vale de lágrimas. O papel de nosso sindicato seria nos guiar na melhoria substantiva das nossas condições, fazer-nos alçar patamares mais elevados, compatíveis com a nobreza da categoria profissional formadora da inteligência de uma sociedade regida cada vez mais pelo conhecimento. Ao invés, o Proifes, cozinhado e comprazido nos nossos subterrâneos, desprovido de sonhos e pautado distopicamente, não apenas nos divide como nos apequena, pois se resigna a conduzir a barca para singrar o inferno…

  1. “Se não posso escalar os céus, moverei a barca do inferno” (tradução livre). Com esta divisa Freud inaugurou a psicanálise. ↩︎
  2. https://proifes.org.br/sindicatos-federados/ ↩︎
  3.  https://sind-proifes.org.br/historia-do-sind-proifes-que-comecou-como-proifes-sindicato 
    https://sind-proifes.org.br/
    ↩︎
  4. https://adufrgs.org.br/2021/07/23/proifes-federacao-golpismo-contra-o-sindifse-o-desrespeito-a-vontade-da-maioria-como-modo-de-acao-politica/ ↩︎
  5. https://www.facebook.com/SINDPROIFES.PA/
    https://pa.cut.org.br/noticias/sind-proifes-pa-sindicato-dos-professores-de-ensino-superior-foi-fundado-nesta-terca-feira-0b40  ↩︎
  6. https://www.facebook.com/sindufma/?locale=pt_BR 
    https://apruma.org.br/ ↩︎
  7. http://www.adafa.org.br/ ↩︎
  8. https://adufrgs.org.br/2024/04/29/adufrgs-acredita-em-margem-para-negociacao-de-reajuste-e-adia-discussao-de-greve-na-ufrgs-e-ufscpa/ ↩︎

*Armando de Melo Lisboa é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais do Centro Socioeconômico (CNM/CSE) da UFSC e ex-diretor da Apufsc-Sindical (2006-2010)