A atual negociação salarial está assentada em reuniões que começaram em dezembro de 2023. Desde então já tivemos seis meses de negociação. Elas não são simples nem fáceis, por diversas razões: uma delas é que não há nenhum país no mundo que opere com o orçamento da União como hoje é gerido no Brasil, onde R$ 60 bilhões estão nas mãos do Congresso. Essa é apenas uma das heranças nefastas do governo anterior. Além disso, sob o governo Jair Bolsonaro (PL), as despesas com o funcionalismo caíram 10,5%, a maior queda desde os governos FHC. Outra herança que nos diz respeito diretamente foi o corte de recursos das universidades federais. Entre 2019 e 2022, os gastos recuaram 14,4%. Em termos comparativos, os recursos das universidades diminuíram de R$ 62,2 bilhões em 2019 para R$ 53,2 bilhões em 2022.
O que vivemos hoje, com salários defasados e os campi em frangalhos, são consequências de um planejamento cuidadoso para destroçar os serviços públicos. São as granadas em nossos bolsos, como dizia o ex-ministro da Economia. Claro, esses são problemas que afetam toda a população, incluindo nossa categoria, mas o governo atual foi eleito sabendo disso.
É obvio que, num quadro desses, há motivos de sobra para revolta, raiva, descontentamento. Mesmo com o serviço público sendo mais valorizado (com contratações e 9% de reposição em 2023) e os recursos das universidades sendo recompostos, essas medidas são menores que o abismo para o qual fomos empurrados.
O fato é que as mesas de negociação avançaram: a proposta que recebemos no dia 11/4 é melhor do que as propostas anteriores, mas ainda insuficiente, em especial zero de reajuste para 2024, além do governo não ter respondido sobre o piso salarial e avançar pouco na proposta da carreira.
Há quem acredite que a única forma de ação política que temos disponível é a greve, isso talvez resulte do empobrecimento da nossa imaginação política. Mas essa é uma fantasia que costuma ter consequências danosas. Há 20 anos nos debatemos sobre a nossa falta de criatividade em ampliar nossas formas de luta, mas não saímos do lugar.
A Diretoria da Apufsc-Sindical tem insistido que a greve é o último e mais importante instrumento de ação sindical, mas que o recurso a ela tem sido, infelizmente, banalizado, quando a ela recorremos antes de encerradas as negociações.
As negociações estão acontecendo, mas uma outra pergunta deve ser feita: todos, de fato, querem mesmo negociar? A greve “nacional” iniciada em 15 de abril foi decidida no 42º Congresso do Andes-SN, ocorrido em Fortaleza, entre os dias 26 de fevereiro a 1º de março de 2024. “A greve já” foi aprovada por 156 professores, enquanto 136 se posicionaram de forma contrária e 36 se abstiveram. Em fevereiro, quando esse congresso se reuniu, já tinham acontecido ao menos duas mesas de negociação salarial e depois dele mais oito se seguiram. Mesmo a categoria tendo rejeitado a proposta atual do governo, essa divisão que surgiu no Congresso do Andes tem se refletido pelos sindicatos de docentes ao longo do Brasil.
A conclusão que chegamos é que para boa parte desse grupo de professores, a negociação salarial não é o mais importante, uma vez que já decidiram pela greve antes mesmo das mesas de negociação acontecerem. Cai por terra o argumento de que a greve serve para pressionar a abertura das mesas de negociação, uma vez que elas estavam acontecendo e todos sabiam de sua existência.
Importante alertar que o Andes não assina um acordo oriundo de mesa nacional de negociação desde 1998, ou seja, há 26 anos. Ora, se não são os acordos salariais que interessam, se não é a melhoria da carreira, o que interessa então? Não sejamos ingênuos, o que os move é o interesse em fortalecer ganhos e interesses políticos de grupos representados nesse sindicato. Interessa criar barulho e condições para ganhar as eleições sindicais onde eles não ocupam as diretorias locais. Interessa desviar a atenção das pífias administrações das reitorias às quais eles emprestam seus apoios, nada mais que isso!
Esse tipo de sindicalismo, meramente ideológico, radical e de aparelho, está esclerosado. Jogou por terra seu passado de luta, de pluralismo político e de democracia interna.
Por tudo isso, reafirmamos mais uma vez e o faremos quantas forem necessárias:
Reajuste zero é agressão, todo esforço de negociação.