*Por Marcos Ferreira
Não há maior tarefa política para os sujeitos democráticos em 2024 (há quem diga, no século 21) do que combater o fascismo no Brasil e, em especial, em Santa Catarina. Essa exigência precisa estar presente em cada momento de definição política. Presente na crítica e no apoio a iniciativas que apontem nessa direção, sejam do governo, sejam de atores sociais.
Nesse sentido, é preciso fazer uma inversão na ordem dos termos e das lutas que devemos travar. Já foi apontada a importância de articular a luta por salários ao combate ao fascismo. Essa perspectiva precisa ser invertida. Precisamos tratar a luta por salários e verbas como um capítulo da luta contra a sanha fascista. Há relação entre a queda de salários e o advento e crescimento da extrema direita.
A queda do valor dos nossos salários (e aposentadoria), foi obra do golpe de 2016. A redução das verbas para as universidades, idem. Golpe que, desde o primeiro momento, anunciava ser a abertura das portas para o crescimento da extrema direita.
Durante anos tenebrosos não somente nossos salários foram atingidos. A dignidade das nossas instituições e da nossa profissão foi agredida de diferentes formas. Tanto por referências ignominiosas, quanto por incursões policiais e do mundo jurídico. A liberdade de cátedra foi ameaçada. Gravações e denúncias sobre o cotidiano acadêmico foram estimuladas.
Foram anos em que acabaram com nossa reposição salarial, com a vida de pessoas importantes da nossa comunidade e atacaram o convívio democrático em nosso meio. Uma perfídia que chegava a ironizar ícones de nossa cultura, como foi o caso de uma operação na UFMG que foi chamada de “o bêbado e a equilibrista”. Porque agredir a academia (e a educação de forma geral) é conduta constitutiva e estruturante da estratégia da extrema direita.
Esses anos tenebrosos sucederam a um período de enorme valorização da Ciência e da Educação no país. Vivemos um período em que tanto os salários quanto as verbas para as universidades cresceram acima da inflação. Durante treze ou catorze anos (ao longo dos governos que eram liderados pelo PT, mas que envolviam muitas forças sociais, partidárias ou não), nossos salários foram recompostos e cresceram acima da inflação. Verbas de custeio e de apoio ao trabalho de docentes, cientistas e docentes cientistas foram garantidas e ampliadas.
Então, lutar por nossos salários (e aposentadorias) e por verbas para a Universidade, tem uma dimensão que transcende ao arrocho que nos foi imposto. Essa luta corresponde a um combate efetivo ao fascismo, que faz parte do nosso dever como profissionais e como cidadãos.
Importa travar essa luta de modo inserido no combate amplo ao fascismo. Esse é o desafio que precisamos enfrentar. Desafio que trará uma nova qualidade ao movimento docente. Como docentes e como membros da comunidade universitária precisamos estar dispostos a enfrentar quaisquer ataques à democracia e defender todos os avanços possíveis para a sua manutenção.
Inundaram terras Xokleng, vamos rechaçar! Aprovaram o Marco Temporal, vamos rechaçar! A imprensa trata como algo corriqueiro a prisão de dezoito prefeitos catarinenses, vamos denunciar!
Algumas lutas são gerais mas dizem respeito muito direto à nossa luta. Se o Congresso Nacional impõe sítio ao executivo, vamos dar combate! Se a mídia empresarial apregoa o déficit zero, vamos denunciar! Se alguém faz discurso a favor da austeridade, vamos apontar o equívoco!
No contexto da luta contra o fascismo, o único risco seria tomarmos a luta por salários como algo isolado da conjuntura que vivemos. Somos profissionais do método, vamos utilizá-lo para atingir nossos objetivos.
*Marcos Ferreira é professor aposentado do Departamento de Psicologia da UFSC