Por Armando Lisboa*
“Quando for permitido que o ideal do máximo de produção venha determinar as políticas das universidades, da ciência, das artes, ele destruirá não apenas os sentimentos humanos, mas também as mais altas realizações da civilização.” (J. Pasmore)
Inexiste um modelo universal de organização universitária. Em cada país ela se estrutura conforme suas contingências histórico-culturais. Assim como ocorre em outros povos, o sistema federal de ensino superior brasileiro não tem precedentes.
Provocador, a FSP, no editorial “Greve expõe distorções nas universidades” (22.4.24)1, vai no Calcanhar de Aquiles das Ifes.
Aqui optamos por erguer uma grande rede de universidades e institutos federais. Os governos petistas dobraram a aposta, amplificando seu “gigantismo”. 850 novos campi (em universidades e institutos federais) foram criados nos governos Lula I e II, e Dilma. Lula III recém anunciou 100 novos institutos.
Como um ogro que não para de crescer, devora-se a si próprio (drenando bilhões nele alocados) e se desintegra, não por falta de recursos, mas por estar à deriva como um “buraco negro”…
O contraste entre os bilhões que este sistema dissipa, enquanto capenga o ensino público de primeiro grau, carente das mínimas condições, agudiza a percepção de deformações no nosso sistema educativo.
“My country, right or wrong”. Ou seja: belo ou disforme; de esquerda ou direita, é o nosso tesouro. Importa é fazer deste sistema alavanca para enfrentar os problemas nacionais. Ora, diante do tamanho destes, e da dimensão continental do Brasil, erguemos uma ferramenta proporcional aos mesmos.
Estar dispersa e distribuída por todos os rincões, e a eles profundamente vinculados, também é uma imensa vantagem. Aberta e empática ao caos do seu entorno, com uma capacidade ímpar de obter e processar informações, de aplicar o conhecimento adquirido na modificação das condições postas, o Brasil dispõe duma organização fascinante, qualificada e impregnada de decisiva e vital energia para este grande enfrentamento.
Sendo um processo contínuo, e não uma entidade estática e finalizada, para a “custosa” educação ser deveras um investimento é mister aperfeiçoá-la. Ou seja, há que corrigir distorções (fazê-la menos socialmente injusta) e torná-la mais eficiente, clama, corretamente, o Editorial.
Estas, e outras ações estruturantes, deveriam ser permanentes, partes encarnadas de projetos de desenvolvimento nacional. Carecemos das mesmas.
Todavia, o déficit delas – bem como o longo prazo em que, surgindo, frutificam – não legitima o sucateamento atual da constelação educacional, como induz, maliciosamente, o editorial.
A correção salarial dos que trabalham no sistema educacional é um imperativo.
Pautada pelo financismo fiscalista, a proposta do governo apresentada em 19 de abril avançou pouco. Este pouco decorre da paralisação, que apenas inicia e cresce pelo país. Brasília, por birra do Haddad, mantem zero % para 2024. Uma fração dos 9% em janeiro poderia ser para já. É momento de continuar pressionando!
Teimosias do Haddad são perigosas. A última, quando prefeito de Sampa, foi a faísca das mobilizações das jornadas de 2013, desaguando no impeachment de Dilma … A diferença é que agora Lula (ou seja, a política) pode se impor!
Fazer da educação variável de ajuste fiscal é matar o futuro por discutíveis resultados fiscais no presente. Não há atalhos para o desenvolvimento.
*Armando de Melo Lisboa é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais do Centro Socioeconômico (CNM/CSE) da UFSC e ex-diretor da Apufsc-Sindical (2006-2010)