Documentos serão integrados ao acervo do Instituto Memória e Direitos Humanos, e posteriormente, estarão disponíveis para o público. Apufsc esteve representada na cerimônia
A sexta-feira, dia 5, foi marcada por relatos durante o Dia da Memória e Defesa da Democracia, evento promovido na Sala dos Conselhos, no campus de Florianópolis da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A programação contou com a entrega oficial de uma série de documentos sobre a ditadura militar no estado. Os papéis foram reunidos pela Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright e estavam com a seccional de Santa Catarina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC), e farão parte do acervo do Instituto Memória e Direitos Humanos (IMDH/UFSC). Futuramente devem ser disponibilizados ao público.
Entre os presentes, esteve João Vicente Goulart, filho do presidente da República deposto pela ditadura em 1964, João Goulart. Ele elogiou o esforço para preservar a documentação que trata deste período da história: “A nova geração precisa entender o que aconteceu”.
Representando a Diretoria da Apufsc-Sindical, participaram do ato a secretária-geral, Viviane Heberle, o primeiro-secretário, Carlos Barros Montez, e a diretora Financeira, Karine Simoni. O advogado do sindicato, Prudente Mello, que faz parte da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos, também esteve presente.
Durante o evento, também foi entregue oficialmente ao presidente do Conselho Universitário (CUn), reitor Irineu Manoel de Souza, o relatório que consolida os encaminhamentos das recomendações da Comissão Memória e Verdade da UFSC. O documento ainda será submetido ao CUn para votação.
A Comissão Memória e Verdade da UFSC foi criada em dezembro de 2014 pelo CUn. Entre 2015 e 2017, ela pesquisou documentos em acervos de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Brasília. Também foram colhidos depoimentos e promovidas três audiências públicas.
O resultado foi um relatório com recomendações. Em março de 2023, criou-se outra comissão para encaminhar as indicações do primeiro relatório. Foram essas recomendações que chegaram oficialmente à presidência do CUn na sexta-feira.
“É um alívio trazer esses documentos para UFSC”, diz advogada
A mesa da cerimônia foi formada pelo reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza; vice-reitora, Joana Célia dos Passos; a advogada Cynthia Maria Pinto da Luz, membro da Comissão de Direito à Memória, à Verdade e à Justiça da OAB/SC; a professora Camila Schwinden Lehmkuhl, representante do IMDH/UFSC; e o professor Daniel Ricardo Castelan, presidente da comissão para encaminhamento das recomendações da Comissão Memória e Verdade da UFSC.
Cynthia avaliou que os documentos que estavam com a OAB/SC trazem um “tema importante e espinhoso”, mas também compõem um “acervo importante, principalmente para o Brasil de hoje”. A entrega dos documentos para a universidade foi avaliada por ela como uma ação “prudente, necessária e adequada”. Por último, completou: “é um alívio trazer esses documentos para a UFSC”, se referindo à necessidade de guarda, preservação e disponibilização pública.
Na sequência, o reitor da UFSC recebeu os documentos das mãos da advogada e professora Deise Helena Krantz Lora, presidente da Comissão de Direito à Memória, à Verdade e à Justiça da OAB/SC. O reitor também assinou termo de recebimento oficial dos papéis.
Irineu se referiu à sexta-feira como um dia histórico. “Precisamos criar uma cultura e mecanismos internos para não acontecer o que já aconteceu”, e finalizou: “ditadura nunca mais”.
A professora Camila, representante do IMDH/UFSC, lembrou a importância de disponibilizar os documentos ao público. Já o professor Daniel Ricardo Castelan ressaltou o sofrimento daqueles que foram perseguidos: “em primeiro lugar, devemos lembrar daqueles que sofreram durante a ditadura. Nossas homenagens são para eles”.
Memórias da resistência
Após as falas, a mesa foi recomposta com convidados. Foi chamado o advogado e jornalista Nelson Wedekin, que em 1982 foi eleito senador da república por Santa Catarina. Wedekin fez parte da Assembleia Nacional Constituinte. Ele contou que foi preso, no interior de Santa Catarina, por ser líder estudantil, um dia depois de declarado o golpe de 1964. E defendeu a importância de um estado democrático: “democracia é oxigênio”.
Também falou como convidada a advogada Rosângela de Souza, conhecida como Lelê, que é uma das fundadoras do Coletivo Memória, Verdade, Justiça Derlei de Luca. Lelê foi presa por ter participado da organização do ato contra o general João Figueiredo em novembro de 1979, em Florianópolis, conhecido como Novembrada. Lelê citou vários colegas e amigos que participaram das manifestações ou do movimento estudantil à época. Encerrou dizendo: “a gente continua na luta”.
O último convidado a falar foi o professor aposentado e hoje voluntário da UFSC Fernando Ponte de Sousa, que é um dos fundadores do IMDH/UFSC. Ele lembrou a crueldade dos recursos utilizados pela ditadura. “Não se tratava de um policial que abusava de seu poder, se tratava de uma política de estado. Era o terrorismo de estado”.
Segundo o professor, é preciso ainda formar o que ele chamou de um “outro querer”. Ele lembrou que, como já aconteceu no passado, ideias ditatoriais encontram apoio em parcelas da sociedade. “Temos de formar esse novo querer. A luta precisa continuar. É preciso dar uma nova chance à humanidade”.
Fonte: Notícias UFSC