Mesa reuniu especialistas para debater o período da ditadura militar no Brasil, entre eles o vice-presidente da Apufsc
Aconteceu na manhã desta segunda-feira, dia 1º, a mesa redonda “60 anos do golpe, 60 anos de memória”, no Colégio de Aplicação (CA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O ex-vice-presidente da Apufsc-Sindical, Camilo Buss Araújo, mediou o evento, que contou com a participação de Adriano Luiz Duarte, atual vice-presidente da Apufsc, Prudente Mello, membro da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos, e da ex-ministra Ideli Salvatti, representando o Movimento Humaniza SC.
Na abertura da mesa, organizada pelo Laboratório de Ensino de História do CA, Camilo destacou que a escola é um espaço de debate de todos os assuntos. Ao fazer uma retrospectiva dos acontecimentos pós-eleições presidenciais de 2022 até a invasão aos Três Poderes em Brasília, no 8 de janeiro, ele ressaltou a importância de discutir o que aconteceu há 60 anos e os atuais desafios da sociedade democrática.
Nesse sentido, o vice-presidente da Apufsc aproveitou para pontuar em sua fala a relação entre a democracia e a ditadura militar. Ele enfatizou que entre as pessoas que mais perderam e sofreram com o golpe de 1º de abril de 1964 estão os trabalhadores, sindicatos e partidos políticos. “Em uma ditadura todos perdemos, mas não perdemos todos da mesma forma”, resumiu.
Segundo Adriano, para a ditadura militar se legitimar, primeiro foi preciso silenciar todos os que poderiam ter alguma voz contra ela. “Entre 1964 e 1971, 600 sindicatos sofreram intervenção em todo o país, sindicatos de oposição, sindicatos organizados por partidos políticos mais à esquerda”, exemplificou. Adriano, que também é professor de História na UFSC, lembrou que em dois anos o regime reduziu em 20% os salários dos trabalhadores.
Além disso, para minar as resistências dos trabalhadores, conforme explicou Adriano, a ditadura acabou com a estabilidade que os empregados tinham após 10 anos de serviço, criou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e impediu a existência de qualquer movimento grevista. A Lei de Greve de 1964 — revogada em 1989 — proibiu a paralisação dos funcionários públicos, das estatais e dos serviços essenciais, sendo permitida apenas em casos de atraso salarial ou discordância de pagamento conforme decisões judiciais.
Para destacar as distinções entre a ditadura e a democracia, Adriano fez um paralelo lembrando que os sindicatos também sofreram retaliações fora do regime militar, como a intervenção feita em 143 sindicatos durante o governo do general Eurico Gaspar Dutra. Apesar de, para o professor, as principais e primeiras vítimas sempre serem as mesmas, independentemente do tipo de governo, a diferença entre os regimes são profundos. “A diferença é o poder ou a possibilidade de falar de reclamar, reivindicar, de ser ou no seu lugar disso ser explorado, expropriado ou aviltado em silêncio.”
Ao concordar com Adriano sobre os principais afetados, Prudente acrescentou que a ditadura também repreendeu estudantes, pessoas LGBTs, indígenas e quilombolas. Ele compartilhou inclusive que a Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a qual integra junto com outros 18 conselheiros, julga nesta terça-feira, dia 2, um processo coletivo sobre tortura da comunidade indígena Krenak durante o regime militar.
Para finalizar, ele lembrou que a origem da palavra ‘Anistia’ vem do grego e significa ‘esquecimento’. “Mas nós não podemos trabalhar com a anistia na perspectiva de esquecimento ou da amnésia. Temos que tratar de anistia, da questão da verdade e da reparação a partir da ideia anamnese, ou seja, da memória, para que nunca mais se repita.”
Para Ideli, “é importante refletir sobre a ditadura e o golpe, para saber até onde historicamente eles querem ir”. Ela defendeu que as situações vão mudando e pessoas jovens, como os alunos presentes na palestra, acabam se distanciando de eventos assim por não terem vivido o período.
Em 2014, quando o golpe militar completou 50 anos, o Laboratório de Ensino de História do CA promoveu o encontro “O contrário do esquecimento é a verdade: reflexões sobre a ditadura militar no Brasil”. A mesa redonda desta segunda-feira deu continuidade à iniciativa.
Assista à mesa redonda:
Imprensa Apufsc