Nota de esclarecimento dos servidores docentes do Colégio de Aplicação

Até o presente momento a única categoria em greve em nossa universidade é a dos Servidores Técnico-administrativos em Educação – STAEs, cujo legítimo movimento de luta por melhores condições de trabalho, recomposição salarial, reestruturação da carreira e pela educação pública de qualidade reconhecemos. Com a adesão da quase totalidade dos STAEs do Colégio de Aplicação ao movimento de greve, tivemos forte impacto no desenvolvimento das atividades pedagógicas.

No entanto, considerando que os docentes ainda não estão em greve, tendo, portanto, que manter as atividades laborais, foi preciso repensar aspectos da organização escolar. Assim, reunidos no dia dezoito de março de 2024, sessenta e nove docentes, após longa discussão, organizaram uma votação para decidir se o Colégio de Aplicação interromperia totalmente as aulas ou daria continuidade a elas em regime excepcional, com rodízio de suspensão de aulas de algumas das séries a cada dia, envolvendo todas as turmas da escola e a presença dos professores em seus horários de aula e de recuperação para suporte às atividades.

Por ampla maioria, de 52 votos, os docentes presentes à reunião decidiram pela continuidade das aulas em um esquema de rodízio e plantão de apoio às atividades pedagógicas por parte dos professores cujas aulas foram suspensas. Tal decisão foi coletiva e não teve como propósito substituir os servidores em greve, mas de realizar atividades que são próprias de todos os servidores técnicos e docentes em uma instituição de Educação Básica, que envolvem o cuidado para com as crianças e adolescentes que estão sob nossa responsabilidade.

Vale relembrar que, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, lançadas pelo Conselho Nacional de Educação em 2010, o cuidar e o educar são dimensões referenciais e inseparáveis para todos os níveis da Educação Básica no Brasil. Além disso, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece como prioridade garantia de cuidado, segurança, educação, alimentação, dentre outros direitos.

Reafirmamos que a decisão de realizar atividades de apoio pedagógico em regime de plantão com suspensão de aulas para diferentes séries a cada dia foi coletiva e não uma “determinação da Direção do Colégio de Aplicação”, como afirmado em notícia pela Apufsc¹. Trata-se de uma medida emergencial para não interromper as aulas, uma vez que, para o trabalho com estudantes da Educação Básica, há outras atividades pedagógicas inerentes à própria atividade que não podem ser dispensadas para que haja condições para ministração de aulas. Dentro dos princípios de uma gestão democrática, entendemos que a Direção agiu de modo correto, convocando os docentes a discutirem os problemas reais existentes em torno da manutenção de aulas, ouvindo suas sugestões e construindo conjuntamente medidas excepcionais demandadas pelo momento. Destaca-se que todas e todos docentes tiveram a oportunidade de se manifestar, apresentar encaminhamentos distintos para a manutenção das atividades, ou ainda, defender e votar pela suspensão total das aulas. Entende-se que decisões colegiadas devem, ainda, ser acatadas por aqueles que se abstiveram de participar ou que defenderam posições diferentes da vencedora.

Em 21/03/2024, no período vespertino, houve outra reunião para avaliar as ações até então realizadas e novamente a manutenção das atividades em regime de rodízios e plantões, como vinha sendo realizada, foi ratificada por 59 docentes presentes, com nenhum voto contrário e apenas uma abstenção. Os docentes do Colégio de Aplicação reafirmam e respeitam o direito de greve de qualquer categoria de trabalhadoras e trabalhadores. No entanto, como categoria que ainda está discutindo a conjuntura nacional para poder deliberar sobre o engajamento ou não em movimento de greve, continua em atividade.

Assim, a notícia publicada pela Apufsc em 19 de março, em seu site, além de inverídica, ao afirmar que “a direção determina que professores prestem atendimento a estudantes”, tem um viés de ataque que acaba por nos atingir também, docentes que discutimos e votamos, de forma democrática, essa questão.

Como afiliadas/os, esperamos de nosso sindicato maior cuidado e respeito com as informações veiculadas, especialmente em um momento delicado como esse.

Seguimos reafirmando nosso compromisso com a educação pública e nossa responsabilidade perante as crianças e os adolescentes que atendemos. As decisões tomadas de maneira coletiva atendem a situações excepcionais, que demandam soluções urgentes. Estamos abertas/os ao diálogo para construirmos melhores condições de trabalho, mas fartas/os de ataques que não contribuem para isso.

¹ https://www.apufsc.org.br/2024/03/19/colegio-de-aplicacao-da-ufsc-decide-fazer-rodizio-de-turmas-e-determina-que-professores-prestem-atendimento-a-estudantes/

*Esse texto é assinado pelos professores e professoras:
Thereza Cristina Bertazzo Silveira Viana
Sandro Ricardo Rosa
Alberto Vinicius Casimiro Onofre
Daniel Pires
Roberto Alfredo Nascimento
Leila Lira Peters
Mariza de Campos
Marivone Piana
Alessandra de Freitas
Aline Rocha
Mara Cristina Schneider
George Luiz França
Paula Pereira Rotelli
Fabiola Teixeira Ferreira
Maria Cristiane Reys
Narceli Piucco
Sheila Maddalozzo
José Carlos da Silveira
Nadia Karina Ramos
Luciano Py de Oliveira
Karina Zendron da Cunha
Maurilio da Silva Morrone
Lara Duarte Souto Maior
Fernando Leocino da Silva
Karen Rechia
Fernanda Albertina Garcia
Michele Pedroso do Amaral
Ana Carina Baron
João Nilson Pereira de Alencar
Marilei Maria da Silva
Marcio Seiji
Ciriane Jane Casagrande da Silva
Eliane Elenice Jorge
Cassia Sigle
Cassia Machado
Lisley Teixeira
Elisangela Trombetta
Tiago Gonçalves
Michelle de Oliveira
Mariana Luzia Correa
Daieli Althaus
Kaue Turnes
Luana Cosme
Giselle de Souza Paula
Maristela Campos
Simone Ferreira
Leo Fernandes Pereira
Ana Paula de Souza
Dayana Schreiber