3º Prêmio Propesq – Mulheres na Ciência 2023 foi entregue na última sexta, dia 8
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (Propesq), promoveu a cerimônia de entrega do 3° Prêmio Propesq – Mulheres na Ciência 2023 nesta sexta-feira, 8, Dia Internacional da Mulher, reconhecendo sete professoras e pesquisadoras da instituição. Em meio a discursos de gratidão, as pesquisadoras destacaram as dificuldades ao longo de suas trajetórias e salientaram a urgência e necessidade de ações institucionais que valorizem as mulheres na Universidade.
“É o dia internacional de luta das mulheres. Gostaria de dizer a todas as mulheres que continuem defendendo a universidade pública e nos ensinando como resistir”, disse, em seu discurso, o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza. O reitor falou da importância de ações institucionais em prol de uma mudança de cultura. Cumprimentou todas as professoras premiadas e ressaltou suas trajetórias. “A UFSC tem conseguido, apesar das dificuldades orçamentárias, realizar muitas ações importantes, graças ao trabalho coletivo e ao compromisso assumido em um programa constituído com toda a comunidade”, lembrou.
Além do reitor, estiveram no evento o pró-reitor de Pesquisa e Inovação, Jacques Mick; a pró-reitora de Ações Afirmativas e Equidade, Leslie Sedrez Chaves, que representou a vice-reitora, Joana Célia dos Passos; a pró-reitora de Graduação e de Educação Básica, Dilceane Carraro; além de pró-reitores e secretários, diretores de Centros de Ensino, professores, servidores técnico-administrativos em Educação da UFSC e estudantes. Familiares das premiadas também participaram da cerimônia.
Joana enviou seu discurso para ser lido na cerimônia pela pró-reitora Leslie. Em sua fala lembrou da importância de abrir espaço para as mulheres. “O Prêmio é uma das iniciativas que valorizam a equidade de gênero e raça, mas nossa gestão precisa incidir mais fortemente sobre a estrutura universitária e agências de fomento, propondo equidade de gênero sobre as condições de trabalho e de estudo para mulheres e mães. No discurso de posse eu dizia que a utopia seria nosso ponto de partida para fazermos da UFSC, o que a universidade deve ser: o lugar do conhecimento que abraça a promoção da igualdade, da equidade, da alegria, da esperança e da dignidade das pessoas. E eu continuo acreditando nisso. Que nenhuma mulher tenha o seu projeto negado por ser mãe, que nenhuma mulher negra seja impedida de realizar um evento acadêmico, porque os palestrantes são em sua maioria negros, por mais ciência feita por mulheres negras, indígenas, quilombolas, transexuais, travestis e PCDs”, escreveu em seu discurso a vice-reitora.
Os certificados foram entregues às premiadas das mãos de mulheres que compõem a gestão da UFSC, pró-reitoras e secretárias que fazem parte de uma equipe com equidade de gênero na ocupação dos cargos. Esse fato foi lembrado nos discursos das premiadas, que também reforçaram a necessidade de equidade também no número de mulheres à frente de projetos de alto investimento, e que tenham acesso a bolsas de produtividade em pesquisa.
O pró-reitor de Pesquisa e Inovação, Jacques Mick, trouxe dados sobre as iniciativas sendo conduzidas para fortalecer a equidade na Universidade. Dentre elas, editais que darão prioridade à seleção de mulheres pesquisadoras para projetos de alto investimento, mudanças em editais de bolsas de Iniciação Científica para valorizar docentes mulheres em unidades acadêmicas com menor participação feminina. Além disso, anunciou a reserva de vagas de ações afirmativas com 50% de bolsas de Iniciação Científica destinadas a grupos socialmente discriminados. “Diante de cada mulher, há uma pista de obstáculos. Nós temos que trabalhar diária e cotidianamente para promover a igualdade. Perseguimos isso constantemente, é um compromisso institucional” salientou.
A professora Lia Vainer Schucman, premiada na Categoria Junior, área de Ciências Humanas, destacou o fato de ter sido indicada por uma colega de trabalho também mulher, a professora Tatiana Minchoni. “Sem as mulheres reconhecendo outras mulheres, a gente talvez nenhuma estivesse aqui. Individualmente é bem difícil que a gente tenha coragem de se auto-inscrever, pensando no lugar das mulheres na Academia”. Lia homenageou sua família, em especial as mulheres que vieram antes dela. Contou sobre a trajetória de sua avó, que chegou ao Brasil fugindo do nazismo na Europa. Relatou sobre as dificuldades que as mulheres enfrentam para terem sucesso profissional na ciência e a falta de reconhecimento. “A gente não tem nem 10% das bolsas de pesquisa de produção. Os investimentos de grande porte estão todos na mão dos homens. É preciso pensar que é uma desigualdade na legitimidade do que dito por uma mulher e do que diz um homem. É invariavelmente o tempo todo, o lugar da ciência é visto como um lugar para os homens. Me lembra uma frase que o meu filho disse outro dia para mim: ‘Mamãe, podia ter um cientista aqui em casa, né? Porque eu queria que alguém me explicasse umas coisas.’ Aquilo foi uma facada no meu peito. Era impossível para ele reconhecer que um cientista podia ser a mãe dele, na cabeça dele, era alguém que pudesse explicar para ele, por exemplo, como é que funciona a Astronomia. Então é preciso mudar a ideia do que é a Ciência e quem ocupa esses lugares”, compartilhou.
Também premiada na Categoria Junior, Adriana Passarella Gerola, da área de Ciências Exatas e da Terra, falou sobre a importância da educação no processo de transformação. “Eu acredito na educação, acredito no poder transformador que educação tem a vida das pessoas. Por isso, desde que eu entrei na Graduação, o meu objetivo sempre foi me tornar uma professora, pesquisadora e cientista. Essas atividades têm como objetivo principal a transformação e a melhora na qualidade de vida das pessoas. Impacta muito positivamente na vida de alguém”, salientou.
Michele de Sá Dechoum, premiada na Categoria Junior, Ciências da Vida, representada na cerimônia por sua esposa, a pesquisadora Sílvia Renate Ziller, enviou um discurso lido por sua companheira, que destacou ser este o seu primeiro prêmio. “Gostaria de dedicar esse prêmio às meninas e mulheres, que devem cada vez mais entender que o lugar delas é fazendo Ciência. Tenhamos a sabedoria de colocar em prática políticas públicas e iniciativas de inclusão para que tenhamos uma Ciência mais diversa, inclusiva e educativa”, disse.
A professora Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão, premiada na Categoria Plena, Ciências Humanas, prestou homenagem ao seu bisavô, que foi escravo, e ao seu avô Manoel, que nasceu sem sobrenome e adotou o nome “Balbino” em homenagem à mulher escrava que ajudou em sua criação. “São pessoas tão especiais que tiveram uma vida provavelmente horrorosa, indescritível aos olhos de hoje, e que contribuíram para que eu pudesse chegar neste momento.” A docente contou sobre ter enviado seu processo de inscrição no prêmio, apesar de achar que não ganharia. “Pensei, ‘não vou ganhar, mas vou aproveitar essa oportunidade de sentar aqui e revisitar a minha vida profissional’. Quanta surpresas eu encontrei nesta revisitação, naqueles minutos ao longo dos dias que eu dediquei a montar o meu processo”. Adja falou com orgulho de sua carreira, e seus planos para o futuro, como a publicação de um dicionário trilíngue contrastivo Espanhol-Português-Libras.
Premiada na Categoria Plena, Ciências Exatas e da Terra, a professora Débora de Oliveira contou ter sido indicada por seu colega de trabalho e amigo, professor Dachamir Hotza. “Estou hoje aqui não como minha própria representante, mas representando todas as mulheres que dedicam suas vidas profissionais e muitas vezes pessoais à Ciência e Inovação. Esse prêmio não celebra apenas as minhas conquistas pessoais, e a de todas vocês aqui premiadas, mas também destaca a importância de a gente promover a diversidade a igualdade de gênero em todos os meios acadêmicos e profissionais”, salientou. “Dedico esse prêmio todas as mulheres, que, como eu, enfrenta desafios diários em sua jornada, pacientes na pesquisa. As mulheres que perseveram, superam obstáculos e que continuam a fazer contribuições significativas para o avanço do conhecimento e da Inovação e suas áreas de atuação”. Débora destacou o quanto é menor o número de mulheres como pesquisadoras de alto nível no CNPq quando comparadas ao número de homens, e reforçou o quanto são necessárias ações institucionais para estimular uma maior participação feminina.
Eleonora D’Orsi, representada pela professora Francieli Cembranel, foi premiada na Categoria Plena, nas Ciências da Vida. Francieli disse em seu discurso da importância que a professora Eleonora teve em sua trajetória e como estimuladora de outras mulheres na Ciência. “É uma honra receber esse prêmio por ela. Hoje como colega, devo muito a ela, fui sua aluna no doutorado, pós-doutorado”, relembrou.
Sandra Noemi Cucurullo de Caponi, premiada na Categoria Senior, nas Ciências Humanas, dedicou o prêmio ao seu núcleo de pesquisa, com quem compartilhou essa realização, e ressaltou o caráter colaborativo da Ciência. “Uma pesquisa acadêmica nunca é solitária, precisa dos outros, nossos colegas, ou nossos alunos. Assim vamos construindo a pesquisa científica e vai mudar o ponto de vista ou mesmo o resultado da pesquisa. Sem essa articulação cotidiana acho que qualquer trabalho de pesquisa seria impossível”, reforçou. A professora Sandra salientou que há muita sororidade na UFSC, com mulheres apoiando mulheres. “Me enche de orgulho e me deixa muito muito feliz, uma carreira acadêmica de 30 anos em uma instituição que eu amo profundamente”, falou.
O Prêmio Mulheres na Ciência, promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (Propesq), consiste no propósito de estimular, valorizar e dar visibilidade às mulheres da UFSC que fazem pesquisas científicas, tecnológicas e inovadoras, divulgando-as de forma ampla. Se destina a inspirar a comunidade científica interna e externa nas diferentes áreas do conhecimento e contribuir para diminuir a assimetria de gênero na ciência.
Leia, abaixo um breve resumo da trajetória de cada uma das mulheres reconhecidas pelo prêmio Mulheres na Ciência 2023:
Categoria Junior
Ciências Humanas: Lia Vainer Schucman
Professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, é doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo com estágio de Doutoramento no Centro de Novos Estudos Raciais pela Universidade da Califórnia. É também membra do Núcleo de Práticas Sociais, Estética e Política da UFSC. Sua importante produção intelectual sobre o tema das relações étnico-raciais, desde o ponto de vista da Psicologia, é reconhecida nacional e internacionalmente. A pesquisadora tem participado de inúmeras entrevistas em jornais, lives, podcasts, para tratar sobre a temática de psicologia e relações raciais, mostrando o compromisso com a divulgação científica produzida na UFSC. Suas publicações recentes abrangem 11 artigos em revistas científicas, 10 capítulos de livros, além de ser autora dos livros Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Branquitude, Hierarquia e Poder na Cidade de São Paulo e Famílias Interraciais: tensões entre cor e amor.
Ciências Exatas e da Terra: Adriana Passarella Gerola
Professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Química do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas, é doutora em Direito pela Universidade Estadual de Maringá. Realizou pós-doutorado no Departamento de Química da Universidade de Coimbra e no Departamento de Química da UFSC. Atua como coordenadora do Laboratório de Catálise e Fenômenos Interfaciais, desenvolvendo materiais nanoestruturados para aplicação como fotocatalisadores e fármacos fotoativos para Terapia Fotodinâmica. A pesquisadora também é membra do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Catálise em Sistemas Moleculares e Nanoestruturados, sediado na UFSC. Bolsista de Produtividade do CNPq, possui significativa produção científica, que inclui mais de 40 artigos em periódicos científicos e a autoria de três capítulos de livros.
Ciências da Vida: Michele de Sá Dechoum
Professora do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas, faz parte também do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFSC, onde realizou seu doutorado em 2015. É coordenadora e fundadora do Laboratório de Ecologia de Invasões Biológicas, Manejo e Conservação da Universidade. Bolsista de Produtividade em pesquisa do CNPq, seus estudos são focados em Ecologia Aplicada, com ênfase em ecologia e manejo de espécies exóticas invasoras. É colaboradora do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, onde atua como co-gestora da base de dados nacional sobre espécies exóticas invasoras. Possui forte atuação junto a sociedades científicas do Brasil e do exterior, como a Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a British Ecological Society, o que comprova o compromisso da professora Michele com a divulgação científica de forma ampla. Sua produção científica soma entre os anos de 2017 e 2023, 35 artigos científicos publicados em periódicos, coautoria de um livro e de cinco capítulos de livros.
Categoria Plena
Ciências Humanas: Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão
Professora Associada do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras do Centro de Comunicação e Expressão, atua como docente permanente nos Programas de Pós-Graduação em Linguística e em Estudos da Tradução. Possui doutorado em Linguística pela Universidad de Valladolid, na Espanha. É coordenadora do Núcleo de Lexicografia Multilíngue da UFSC. Suas pesquisas estão centradas na reflexão sobre processos de ensino e aprendizagem de línguas, especialmente o espanhol. Atualmente, coordena dois projetos de pesquisa: Lexicografia e e-lexicografia: tradição impressa e renovação digital e Parâmetros para a construção de um dicionário trilíngue contrastivo Espanhol-Português-Libras. Além disso, é autora de sete livros teóricos, 12 livros didáticos para ensino da língua espanhola, dois livros paradidáticos, três obras literárias e organizadora de 14 livros teóricos.
Ciências Exatas e da Terra: Débora de Oliveira
Professora do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos do Centro Tecnológico, atua no corpo docente permanente dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos e em Engenharia Química, exercendo a função de coordenadora deste último, nota 7 na avaliação da CAPES. Desde a conclusão de seu doutorado, em 1999, tem atuado na área de engenharia bioquímica, com ênfase em Enzimologia, principalmente nos seguintes temas: produção, purificação e imobilização de enzimas; desenvolvimento de processos enzimáticos de interesse para a área têxtil, de biodiesel e de modificação de óleos e gorduras, com foco na pesquisa, desenvolvimento e inovação. Bolsista de produtividade do CNPq, atualmente coordena dois projetos de pesquisa na UFSC. Sua significativa contribuição para a produção acadêmica e científica soma mais de 380 artigos científicos publicados em periódicos, o que lhe confere o destaque, segundo a base bibliográfica SCOPUS, de mulher mais produtiva na história da UFSC.
Ciências da Vida: Eleonora D’Orsi
Professora titular do Departamento de Saúde Pública do Centro de Ciências da Saúde, Eleonora D’Orsi faz parte do quadro permanente de docentes dos Programas de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e em Ciências Médicas da UFSC. Eleonora D’Orsi se destaca na ciência como mulher, professora, pesquisadora, editora, revisora e divulgadora científica, apresentando relevante atuação acadêmica na área de Epidemiologia do Envelhecimento e Saúde Coletiva. É líder do grupo de pesquisa Epifloripa, que acompanha há mais de 15 anos as condições de vida e saúde da população adulta e idosa de Florianópolis. Bolsista de produtividade do CNPq, possui um total de 165 artigos científicos publicados e é autora de cinco livros e de 12 capítulos de livros, destacando-se como uma das pesquisadoras mais produtivas de seu centro.
Categoria Senior
Ciências Humanas: Sandra Noemi Cucurullo de Caponi
Professora titular do Departamento de Sociologia e Ciência Política do Centro de Filosogia e Ciências Humanas, é docente permanente do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. É doutora em Lógica e Filosofia da Ciência pela Unicamp. Atualmente é coordenadora do Projeto Capes-Cofecub denominado A disseminação dos saberes expertos no domínio da Infância e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética – Regional Santa Catarina. Coordena o grupo de pesquisa Sociologia, Filosofia e História das Ciências da Saúde e também o Núcleo de Estudos em Sociologia, Filosofia e História das Ciências da Saúde. Bolsista de produtividade do CNPq, é uma das principais pesquisadoras latinoamericanas sobre a medicalização da vida cotidiana e do sofrimento psíquico, publicando diversos artigos em revistas nacionais e internacionais sobre essa temática. É autora de cinco livros sobre a história da psiquiatria e a biopolítica da indiferença, sendo uma de suas obras – Loucos e degenerados: uma genealogia da psiquiatria ampliada – finalista do 55º Prêmio Jabuti na área de Psicologia e Psicanálise.
Fonte: Notícias da UFSC