Por Gerson Renzetti Ouriques*
Temos sérios problemas em investimentos do governo na Ciência e Tecnologia. Acaba de ser anunciado na mídia que o brasil avançou economicamente e é agora a 9º maior economia no mundo. Mas, e quanto aos investimentos em pesquisa e tecnologia? O país vem investindo pouco mais de 1% do PIB, sendo que o orçamento aprovado pelo Congresso para 2024 teve pequeno acréscimo e corresponde a 1,2% do PIB. É uma porcentagem insuficiente para o desenvolvimento mais rápido que o brasil precisa, mas também é uma quantia razoável e, assim, se espera resultados animadores para a ciência realizada no país. Entretanto, nossas pesquisas em ciência e tecnologia não conseguem trazer nenhum resultado relevante, e pior, não temos nenhum cientista indicado para um prêmio Nobel, sequer alguma indicação para uma medalha Dirac, Boltzmann, medalha Einstein, etc.
O PIB de países como a Coreia do Sul e Israel correspondem a pouco mais de 4% em Ciência e Tecnologia. Na China e Austrália, mais de 2%, mesmo índice na Alemanha e muitos países da União Europeia.
É do conhecimento de muitos colegas que algumas universidades de renome publicam com frequência dados sobre o desempenho de instituições acadêmicas no mundo. Estes dados mostram informações bem curiosas sobre as universidades brasileiras nestes últimos anos:
i- a quantidade de artigos científicos publicados pelo brasil o coloca na posição entre os quinze maiores do mundo na divulgação de ciência e tecnologia, entretanto, esta posição cai drasticamente, ficando perto da 500º posição, se for analisada a qualidade e importância do que é publicado (há alguma controvérsia neste tipo de análise, mas todas indicam posição em torno de 500º mesmo).
ii- o Brasil é forte em quantidade de artigos publicados mas é fraco na qualidade do que é publicado.
iii- a universidade de São Paulo, USP, é sem dúvida a melhor universidade que temos, tem a mesma idade da universidade de Chicago, porém, Chicago teve vários ganhadores de prêmios Nobel.
Então o que há de errado com as pesquisas produzidas no brasil?
Tenho minha opinião e acredito que um dos grandes causadores da situação da nossa ciência foram os próprios órgãos financiadores governamentais. O principal deles, a nível federal, é o CNPq, que com sua política de distribuição de bolsas, produziu pesquisadores (professores) produtivistas. Como para a concessão/manutenção/continuidade de bolsa para um pesquisador, o CNPq estipula um número mínimo de publicações, e obviamente, os pesquisadores passaram a publicar artigos sem relevância alguma, pois o que importava era o número de artigos publicados.
Esse é o ponto crítico que considero fundamental para embasar o que escrevi nos itens i, ii, e iii deste texto, e que resumo no parágrafo abaixo:
A orientação da ciência brasileira é moldada pela política de concessão de bolsas de produtividade do CNPq, sendo este o responsável direto pela pouca relevância das pesquisas realizadas no brasil. A excelência na pesquisa está diretamente relacionada em se ter qualidade na quantidade.
Espero que os colegas reflitam um pouco sobre os comentários feitos neste pequeno texto e assim, talvez, concordando comigo, mudanças possam ocorrer na política e forma como a pesquisa científica deve ser incentivada no Brasil.
*Professor do Departamento de Física da UFSC