Acordo é assinado pela Associação Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores, governo do Timor-Leste, UFSC e UNTL
O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Irineu Manoel de Souza, assinou em 23 de outubro um Acordo de Cooperação Técnica com a Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), do Timor-Leste, para implementação de um curso regular de Mestrado em Educação na universidade timorense. O mestrado terá coordenação técnica das professoras Suzani Cassiani e Patrícia Giraldi, do Centro de Ciências de Educação (CED), e do professor Irlan von Linsingen, todos do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT). O acordo é assinado pela Associação Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE), governo do Timor-Leste, UFSC e UNTL, sendo a UFSC a executora das atividades do projeto de cooperação, pelo lado brasileiro.
Além dos três coordenadores, outros oito professores da UFSC estão envolvidos na iniciativa. São cinco docentes do PPGECT e do PPG em Educação, que atuarão como professores orientadores, e três do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCIN), que vão auxiliar na organização de bibliotecas e realização de oficinas.
A equipe pedagógica do curso é formada por 33 professores doutores, dos quais 13 são timorenses da UNTL e 20 são docentes brasileiros: além do grupo da UFSC, participam também professores de instituições públicas de ensino superior de Pernambuco, Goiás, Tocantins, Rio Grande do Norte, São Paulo e Paraná e outros que atuam na Austrália, Portugal e China.
Parceria horizontalizada
O projeto prevê a formação de duas turmas de 40 mestres em quatro anos. As linhas de pesquisa são Ensino-Aprendizagem; Formação de Professores; Educação Científica, Tecnológica e Matemática; Movimentos Sociais. O curso será presencial, com a equipe brasileira realizando missões para conferências, disciplinas, oficinas, orientações, participação em bancas e coordenação compartilhada do curso.
“A intenção é que seja uma parceria horizontalizada, ou seja, o processo será em parceria com os timorenses, para que não se crie dependência e sim um curso de mestrado que possa ser oferecido por muitos anos somente pelos próprios timorenses, após o término do projeto com a Agência Brasileira de Cooperação”, explica a professora Suzani Cassiani. O trabalho conjunto e a cooperação estiveram presentes desde a elaboração do projeto pedagógico do curso.
De acordo com ela, o curso regular de Mestrado em Educação na UNTL é um marco para o Timor-Leste e uma grande oportunidade de aprendizado para a UFSC. Para o país asiático, representa a oportunidade de aperfeiçoar o seu sistema educacional. “Em Timor-Leste, as demandas educacionais são grandes e os desafios são reais. Temos professores na UNTL que possuem apenas graduação e precisam se aprimorar. E também temos jovens, recém-formados em licenciaturas, que se deparam com a falta de opções para continuar seus estudos”, explica a professora Suzani.
Relacionamento duradouro
A criação do mestrado é o ponto alto de uma relação de quase 15 anos da UFSC com o Timor-Leste, em iniciativas de pesquisa, extensão e ensino. Em 2009, a professora Suzani Cassiani e o professor Irlan von Lisingen assumiram a coordenação acadêmica do Programa de Qualificação Docente e Ensino de Língua Portuguesa (PQLP), que existia desde 2005 e era conduzido até então somente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Naquela época, o ideal de criação de um mestrado foi apresentado pela primeira vez pelos timorenses. A UNTL contava então com apenas três professores doutores. Atualmente, graças à cooperação internacional, a Faculdade de Educação, Artes e Humanidades (FEAH) da Universidade Nacional de Timor-Lorosa’e já tem 15 doutores que se formaram em outros países, inclusive no Brasil. A qualificação dos professores timorenses é um dos pilares para a criação de um curso de mestrado autônomo naquele país.
O Programa de Qualificação Docente e Ensino de Língua Portuguesa (PQLP) ficou ativo até março de 2016, quando foi descontinuado pelo governo federal. Os projetos de cooperação foram retomados no final de 2020, sendo desenvolvidos de forma remota em razão da pandemia de Covid-19. No ano passado, foi realizada uma missão ao Timor-Leste para prospectar as possibilidades de implementação de novas iniciativas na parceria.
“Para a UFSC, pensar esse internacionalismo solidário, no lugar de oferecer um curso de cima para baixo, não só evita a dependência que muitas vezes surge nesses acordos Sul-Sul, bem como um aprendizado sobre a extensão mais horizontalizada e a promoção de autonomia. Assim, é possível que a produção e a disseminação de pesquisas acadêmicas venham diretamente da realidade local timorense. Não é necessário apenas importar conhecimento e isso é um passo importante para decolonizar corações e mentes”, pondera a professora Suzani Cassiani.
O Timor-Leste é um dos países mais jovens do mundo, localizado em uma pequena ilha no sudeste asiático. No século XVI, foi colonizado pelo Império Português, tendo declarado independência em 1975. Naquele mesmo ano, sofreu a invasão da Indonésia e foi anexado como província daquele país, num processo violento que custou a vida de milhares de civis timorenses. A invasão durou até 1999, quando o governo indonésio deixou o controle do território, após um acordo intermediado pela ONU. Em 20 de maio de 2002, o Timor-Leste tornou-se o mais novo Estado soberano do século XXI. Atualmente, é o único país da Ásia a integrar a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Fonte: Notícias UFSC