Por Maria Odete Santos*
A reunião da ONU da última sexta-feira, dia 20, não aprovou a resolução da ONU sobre o conflito no Oriente Médio. Estava tudo certo, iria aprovar após meticulosa articulação da diplomacia brasileira seguindo seu soft power. Conseguiu maioria, duas abstenções ao não agradar e nem desagradar nenhum dos países. Mas os EUA vetou. Biden estava em Israel e, sem consultar sequer seus mandatários conterrâneos, queria protagonismo e fazer parecer, com termos parecidos à resolução brasileira, uma liderança estadunidense e vitória de Israel. Gutierrez, o Secretário Geral da ONU, comentou o fracasso da reunião, destacando a importância da pausa humanitária e responsabilizando a inoperância em se obter a constituição de um verdadeiro Estado palestino e as historicas degradantes condições de vida da população em Gaza. Gutierrez, de forma cifrada, condenou a ocupação e controle permanente de Israel nas terras palestinas.
A representação de Israel reagiu à obviedade dita por Gutierrez e “exigiu” que ele deixasse a Secretaria Geral da ONU ou se retratasse. Nada aconteceu, ficou sem resposta. No mundo todo, como acontecerá em Florianópolis essa semana, a população vai às ruas exigindo liberdade aos palestinos. Chega de prisão a céu aberto, chega da mão de ferro de Netanyahu. Chega de a pretexto de um ataque anunciado manter a população da Palestina à submissão e, agora, ao fogo constante.
A ONU está falida. A estrutura de veto por qualquer dos cinco países membros permanentes — EUA, Rússia, China, Reino Unido e Franca — está na contramão de um mundo multipolar e despreza a voz da maioria dos países membros. A maioria esmagadora obtida pelo Brasil, na sexta-feira, e rejeitada apenas por um veto, o dos EUA, é a prova da atual ineficácia da ONU para as funções que se propõe.
Esse conflito serve, por duros meios, a duas questões:
1. Demonstrar a necessidade de reestruturação da ONU e de seu anacrônico Conselho de Segurança (o que, convenhamos, o Presidente Lula vem dizendo faz muito tempo);
2. Colocar na ordem do dia a desumanidade submetida ao povo palestino.
Mesmo com tratados internacionais, de anos, estabelecimento a existência de um Estado livre e soberano para os palestinos, estes vivem tendo suas terras invadidas por assentamentos de Israel e sofrem com a submissão militar permanente de seu povo, confinado em Gaza e com a presença, também militar, de Israel na Cisjordânia.
O desfecho da reunião, desta quarta-feira, da ONU, foi a reafirmação de que a resolução apresentada pelo Brasil na última semana, sem nenhum voto contra e vetada pelos EUA, foi uma chance perdida e a manutenção, para Israel, de licença para matar. Sofre o povo palestino que vai para o sul de Gaza por orientação de Israel, que quer entrar pelo norte, e recebe ataques até onde Israel os mandou para proteção. O território mais superpovoado do mundo sangra por onde possa se deslocar. Fronteira do Egito fechada. Mas Gaza é a beira-mar? Mar militarmente controlado por Israel.
Guando Gutierrez diz um pouquinho disso, nenhuma repercussão importante.
Falta água, falta comida, falta combustível para os geradores de hospitais que sobraram dos bombardeios. Falta humanidade para os representantes do mundo que continuam assistindo ao espetáculo bélico do ex moribundo político Netanyahu que se reabilitou como chefe de guerra. O bem equipado exército de Israel, dos maiores do mundo, não soube antes do ataque? A pergunta vai ficar.
Sabemos que o ataque serviu a Netanihyru. Agora é um Volodymyr Zelensky, sem nunca ter sido comediante e, também, protagonizando tragédia. Gaza aguarda a invasão terrestre de Israel. Netanihyru surfa em resposta ao que vem provocando. Ou não sabemos que um povo submetido a penúria e a tirania é viveiro para grupos armados que ousam reagir? Nessa semana, em Florianópolis, faremos manifestações em defesa do povo da Palestina, que sofre faz muito tempo e precisa de um Estado livre e autônomo. Precisa de nosso grito. Vamos lá!
Palestina livre!
*Maria Odete Santos é professora aposentada da UFSC, doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e pós-doutoranda em Tranformação no Mundo do Trabalho – CED/UFSC