Por William B. Vianna*
Quem nunca ouviu a frase de efeito que: “Se a UFSC fosse uma universidade privada já estaria fechada”. Mas isso é uma falácia, porque uma instituição que é referência nacional e internacional devido ao capital intelectual dos que nela se dedicam a ensinar, tem alto valor agregado, gera riquezas materiais e imateriais em todas as áreas do conhecimento e precisa de cuidado porque ao que se saiba até aqui, nenhum empresário costuma rasgar dinheiro.
E é simples entender que um bom gestor quando assume uma organização cambiante onde o principal ativo são as pessoas, verifica logo a folha de pagamentos para ver se tem algum gargalo na força de trabalho que possa ser melhor aproveitado em favor da realização da Missão Institucional.
Se aplicado à UFSC, até um leigo fica estarrecido ao ver a desproporção entre o número de servidores nas atividades-meio, mais de 3 mil, e os nas atividades-fim, perto de 2.300 e que ainda há secretarias de curso e departamentos que estão sem apoio daqueles das atividades-meio, sendo geridas por professores em acúmulo de função.
Depois de constatar essa desproporção injustificável, ia se deparar ainda com o recente dia de trabalho perdido porque os professores queriam, mas não puderam ministrar aula remota, apesar de terem que se reinventar didaticamente na pandemia e feito com que a UFSC fosse uma das primeiras universidades a regularizar o calendário.
Como ninguém assinou a redução de 1 dia no calendário acadêmico mediante documento oficial justificado, as aulas remotas não poderiam ocorrer porque “algum aluno” poderia não ter computador para acessar a aula. E isso sem contar que as aulas poderiam ser gravadas e revistas a qualquer tempo!
Mas esse motivo desarrazoado é um menosprezo à inteligência alheia e mais uma forma de jogar para a plateia um certo coitadismo populista em desfavor dos professores e dos estudantes em plenos tempos de transformação digital. E a pergunta que não que calar é: Como fazem os estudantes sem computador para acessar os serviços públicos e atendimento do tele-trabalho?
Nesse caso, em nome dos “estudantes que não tem computador”, que por certo serão muitos, deveriam todos os servidores ser convocados para retornar às atividades presenciais porque é muito importante a convivência no campus e a “acolhida”.
Mas não é só isso. É claro que ninguém esperava protesto dos estudantes porque não teve na aula. Mas o que chama a atenção é que não ouvimos mais os rufantes tambores no hall da Reitoria, as frases de efeito, os cartazes coletivos sendo feitos na praça da cidadania para cobrar melhorias. Perguntei a um estudante e ele me respondeu “tá tudo dominado, professor!” Quem quiser tem que se resolver por própria conta.
Nesse sentido, a voz de um único estudante de Sistemas de Informação felizmente jogou luz sobre as trevas dos trabalhadores do noturno. Sim, professores, trabalhadores, estudantes, trabalhadores e trabalhadores terceirizados, os invisíveis da noite que fazem fila pra pegar o único elevador que funcionava no EFI depois de serem acolhidos na recepção pelos servidores terceirizados com um “boa aula, professor”.
E assim parece que o certo galileu tinha razão sobre as trevas gerenciais que estamos passando. Mas os professores são luz nessa escuridão das manchetes. Parabéns, Professor (a)! Seu dia é todo dia.
*Prof. William B. Vianna é professor do Departamento de Ciência da Informação e assessor da Pastoral Universitária da Arquidiocese de Florianópolis.