*Por Néstor Roqueiro
Estamos atravessando um momento crítico na organização social e principalmente política no mundo. Grandes atores, como os bancos transnacionais, estão tomando posições e se preparando para o embate que se avecina. Alguns estados até estão aprimorando seu sistema bélico e isto não se faz à toa.
Os movimentos sociais estão, mormente, desarticulados, seja internamente, por falta de visão de longo prazo, ambição das cúpulas, dentre várias razões, e externamente, pois não existe modelo de mundo (sociedade) a seguir. Estamos no fim de uma era que se resiste a desaparecer e ninguém pode dizer como será o futuro.
Mas seria possível para as sociedades se organizarem de forma a poder aproveitar a oportunidade que uma eventual crise trará. Neste caso, as sementes de organização devem estar em coletivos com visão de futuro, com intenções para fazer do mundo um lugar melhor para viver, com a convicção que as diferenças não podem se tornar desigualdades. E, sobretudo, com capacidade de mobilização e luta. Nada se consegue esperando os poderosos abrirem mão, espontaneamente, do seu poder.
Chegamos, finalmente, ao nosso mundinho chamado Brasil, governado por uma coalizão ampla (e bota ampla nisso) criada para dar sobrevida a uma democracia cambaleante. Neste contexto, com diferentes agentes locais que espelham os interesses de poder mundo afora e com algumas pitadas de tempero nacional, estamos imersos em uma espiral inflacionária incipiente que corrói o poder de compra do nosso salário.
Quem somos nós? Como estamos organizados?
Embora alguns pensem em este termo como degradante, somos trabalhadores, recebemos salário em troca de um tempo dedicado aos afazeres que o contrato com o patrão nos impõe. Não somos agentes de nenhum grupo de poder na sociedade em que vivemos, não ao menos na que paga nossos salários.
E a organização que temos é a decorrente do nosso espaço de trabalho. Organização que serve, ou deveria, para poder realizar o trabalho da melhor forma. Mas não temos uma organização social com força suficiente para um embate com os grupos de poder atuantes no país e que disputam os recursos do estado. O que temos como organização de classe é o fantasma do que um dia foi um movimento sindical forte e com capacidade de mobilização e luta. Somente um fantasma.
É tão fantasmagórica a presença do sindicato que praticamente ninguém fala sobre ele, e a maioria das vezes que algo se escuta é que não tem condições de fazer nada pelos membros da classe que representa, ou deveria representar.
Na atual conjuntura, de aprovação do orçamento federal para 2024, recebemos a notícia de que o reajuste do salário seria de 1% e o Proifes, ao qual está filiada a Apufsc, apresenta como estratégia de luta um tal de “pragmatismo político”. De organização da categoria para uma eventual, é quase que imprescindível mobilização, nada.
Pragmatismo político, isto soa a mais um acordo de cúpulas sem participação da categoria, e o fantasma vai ficando cada vez mais esmaecido.
*Néstor Roqueiro é professor do DAS/CTC