*Por Aureo Moraes
Depois de o Conselho Universitário aprovar, em dezembro de 2017, a designação do nome de Luiz Carlos Cancellier de Olivo para o Centro de Cultura e Eventos da UFSC, o ato marcado para esta sexta feira, dia 1º, registra novamente um símbolo da necessária lembrança da presença entre nós do ex-Reitor, vítima de um crime de Estado e do linchamento da mídia.
Tanto quanto a votação no CUn não foi unânime, é bem provável que haverá quem conteste o nome de Cancellier, marcado na nova via paralela à Edu Vieira, no acesso à Universidade, próximo à entrada do bairro Córrego Grande. E não julgamos, a priori, que as homenagens e tributos ao ex-Reitor devessem ser pacíficas. Até porque não ignoramos que há quem defenda os métodos que o tiraram de nós. Tanto quanto há pessoas que veem no arbítrio, no abuso de autoridade e na violência, soluções.
Quando a Universidade lembrou de Cancellier, em 2 de outubro do ano passado, em um evento proposto pela atual gestão, tivemos a oportunidade de falar, conectando os métodos que o arrancaram de nosso convívio, com as práticas de uma operação famosa por mobilizar enorme contingentes de segurança e potencializar suas ações pela voz da mídia. Dizia então:
“Há cinco anos, exatamente neste mesmo horário, o Auditório do Centro de Cultura e Eventos da UFSC, que leva o nome de Cancellier, estava lotado! Conselheiros e Conselheiras do Conselho Universitário, com suas vestes talares, prestaram uma pungente homenagem ao então Reitor, cercada de emoção e comoção. Mas, o que fizemos depois? Fixamos um retrato de Cancellier na galeria dos ex-Reitores; marcamos por seguidos anos as datas que nos remetem à lembrança dele; e discutimos, no Conselho Universitário, o “prejuízo” que a operação da Polícia Federal trouxe à imagem da UFSC. Unimo-nos nas despedidas, naquela breve indignação. E depois… voltamos nossas atenções para os problemas cotidianos. Afinal, era necessário. Cortes, ameaças, descrédito na ciência, pandemia, novas eleições para Reitor. Na verdade, nos acovardamos, desde a primeira hora e evitamos tratar do assunto com a coragem necessária. Foram cinco anos nos quais Cancellier foi uma lembrança, uma inspiração. Mas, no que nos transformamos? Na força para seguir resistindo e vivendo, ou no motor apenas para a (sobre)vida? Enfrentamos nos últimos anos ataques e afrontas à ciência, à vida, às nossas decisões. Acusaram-nos de “ficar em casa recebendo sem trabalhar”. O que fizemos? Respondemos com nossas “vestes talares” e nossos pruridos e refinadas educação e formação…É impossível dissociar(…)o que fizeram a Cancellier, Gilberto Moritz, Eduardo Lobo, Rogério Nunes, Marcos Dalmau, Márcio Santos e Roberto Da Nova. Aliás, quantos aqui presentes lembravam de todos estes nomes? Cancellier, com seu gesto, tornou-se o foco das notícias. Mas ele e os demais foram, todos, vítimas do mesmo crime de Estado. O mesmo Estado violento, intolerante, preconceituoso, machista, misógino, racista, que emergiu, enquanto lambíamos nossas feridas.”
A cada minuto, a cada hora, a cada dia, lembro de Cancellier. E persigo – no que sei que não estou sozinho – a devida e justa reparação aos atos praticados contra ele e os demais. Tenho certeza de que seus algozes não tem o sono tranquilo. E prova disso é o malfadado processo que se arrasta na justiça há anos. A magistrada que os mandou prender foi afastada pelo CNJ. Não pelas condutas claramente abusivas da Ouvidos Moucos. Foi por outro caso. Mas a recorrência de suas atitudes indevidas revela seus métodos. E assim os demais, cedo ou tarde, terão que responder por seus atos. E, seguindo os ritos do devido processo legal, do direito à ampla defesa e ao contraditório – o que foi negado a Cancellier e aos colegas – serão devidamente responsabilizados e, quiçá, punidos.
Sempre que eu tiver que passar pela Avenida Luiz Carlos Cancellier de Olivo (parabéns, vereador Afrânio Boppré!), o farei, de preferência, a pé. Percorrendo a via a passos lentos, com um ar de reflexão, ao estilo do “Cao”. Com o vagar de quem processa ideias, que caminha e pensa no futuro, que sorri ao cumprimentar outros passantes… com os braços unidos às costas, levemente arcado sobre os ombros, num trajeto que nos leve da esperança de Justiça à paz de muitas lembranças.
*Aureo Moraes, servidor docente do Departamento de Jornalismo, foi chefe de Gabinete do Reitor Cancellier